O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) anunciou nesta terça-feira (22) a aprovação de R$ 114 milhões para investimento direto na compra de ações de uma empresa que atua no desenvolvimento de fertilizantes especiais e bioinsumos.
A companhia é o Grupo Santa Clara, com sede em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo (a cerca de 300 km da capital paulista).
Trata-se da primeira operação do banco envolvendo compra de ações desde que a instituição de fomento confirmou, há um mês, que retomaria essa política. Os investimentos diretos estão a cargo da subsidiária BNDESPar.
Em governos anteriores do PT, a compra de ações pelo banco foi alvo de críticas de uma ala de economistas por direcionar recursos para grandes companhias conhecidas como campeãs nacionais, que teriam condições de recorrer ao mercado financeiro, sem o empurrão do BNDES.
Agora, a promessa da instituição é investir em papéis de empresas com projetos nas áreas de economia verde e inovação. O banco negou haver semelhanças com a estratégia das campeãs nacionais.
Com a operação de R$ 114 milhões anunciada nesta terça, o BNDES disse que terá uma participação direta de 19,9% do capital do Grupo Santa Clara. A empresa foi fundada em 1997 e tem cerca de 300 funcionários, segundo o banco.
"O investimento minoritário da BNDESPar tem como objetivo fortalecer a estrutura de capital da companhia para apoiar o seu plano de negócios, que contempla investimento em inovação e em expansão produtiva e de mercado", afirmou em nota o BNDES.
Folha Mercado
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Ainda de acordo com o banco, as áreas de atuação do Grupo Santa Clara vêm experimentando taxas de crescimento significativas, refletindo o que a instituição chamou de "pioneirismo do agronegócio nacional na adoção de tecnologias e práticas que conciliam sustentabilidade com produtividade".
O BNDES argumenta que o investimento está em linha com políticas públicas vigentes no país, em especial o Programa Nacional de Bioinsumos, o Plano Nacional de Fertilizantes e a Nova Indústria Brasil.
Também em nota, o presidente do banco, Aloizio Mercadante, afirmou que a instituição é estratégica para impulsionar investimentos em transição ecológica e descarbonização.
"O emprego de fertilizantes especiais e de bioinsumos na agricultura contribui para reduzir a pegada de emissões de gases de efeito estufa com o menor uso de fertilizantes químicos, preservando a biodiversidade a partir da diminuição do uso de agrotóxicos", acrescentou.
No mesmo comunicado, o CEO do Grupo Santa Clara, João Pedro Cury, declarou que o aporte do BNDES possibilita à empresa continuar a implantação do seu plano de negócios e a ênfase em pesquisa, desenvolvimento e inovação.
O banco havia anunciado em 23 de junho que a subsidiária BNDESPar retomaria, após cerca de dez anos, investimentos em renda variável –categoria que inclui a compra de ações e aportes via fundos. O planejamento é direcionar até R$ 10 bilhões para as iniciativas.
Segundo o BNDES, os recursos são provenientes da venda de participações em empresas já "maduras" e do recebimento de dividendos.
Nesse sentido, o banco anunciou em maio a redução da participação da BNDESPar na processadora de carnes JBS (de 20,81% para 18,18%).
A instituição, por outro lado, já indicou que não tem interesse em negociar papéis de companhias consideradas "estratégicas". Seriam os casos das participações na Petrobras e na Eletrobras.
O governo Lula (PT), que enfrenta resistências no agronegócio, defende uma atuação fortalecida do banco, com medidas de apoio a diferentes setores da economia.
A posição, contudo, é vista com ressalvas por economistas que temem um inchaço do BNDES e uma eventual reciclagem de ideias de outros mandatos do PT.
A direção da instituição já rebateu as críticas em mais de uma ocasião, dizendo que aposta em áreas como inovação e energia limpa.