Aqueles nascidos a partir de 2010 já começaram a chegar às empresas através do programa de jovem aprendiz, que permite a contratação de jovens de 14 a 24 anos. A denominada geração Alpha entra no mercado de trabalho com maior ímpeto de empreender e com receio da inteligência artificial, assim como a geração Z (nascidos de 1997 a 2009), segundo uma pesquisa da Companhia de Estágios e Opinion Box.
Segundo o estudo, 80% daqueles com até 17 anos pensam em criar o próprio negócio —o número é de 64% entre os que têm de 18 a 24 anos.
O levantamento ouviu 3.263 jovens de 14 a 24 anos entre 5 e 25 de maio. A margem de erro é de 1,7 ponto percentual.
O desejo por empreender entre os mais jovens foi reforçado por uma pesquisa Datafolha de junho. No levantamento, entre os que têm de 16 a 24 anos, 68% acham melhor ser autônomo, contra 29% que preferem o emprego. Entre os 60+, as fatias são de 50% e 45%, respectivamente.
Rayssa Ribeiro, 19, é jovem aprendiz na Leão, do grupo Coca-Cola, em São Paulo. Ela começou a trabalhar em 2024 na área de recursos humanos da empresa. Apesar de pertencer à geração Z, ela diz notar um maior interesse entre os mais novos por empreender.
"Hoje vejo os jovens buscando mais liberdade e autonomia. Também têm um desejo de se mostrarem capazes", afirma.
Segundo ela, foi esse sentimento que fez com que criasse uma empresa de marketing chamada Sunrise. "Planejo fazer um curso na área ainda este ano. Espero crescer e ser reconhecida".
Ela, porém, pondera que vê maior instabilidade na atividade. "No momento, [prefiro] CLT. Me passa mais segurança, e tenho uma lei que me ampara. [Empreendendo] Hoje eu posso ter renda, mas amanhã não".
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Para Tiago Mavichian, CEO da Companhia de Estágios, a pesquisa reforça que os jovens não têm visto mais a CLT como a primeira opção. "Os jovens falam em empreender primeiro e, se não for possível ou houver dificuldades, eles recorrem ao emprego como alternativa".
Ele, contudo, vê diferenças entre a geração Alpha e Z neste sentido. "Eles vão se conscientizando mais [com o tempo]. Quanto mais velhos, mais vão vendo as dificuldades e mudando de percepção. Descobrem que empreender também é um desafio".
Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador sênior do FGV Ibre, concorda. "Vai gerar frustração. Assim como nem todo mundo pode ser jogador de futebol, vale o mesmo para virar um empreendedor de sucesso".
Segundo ele, a busca pelo empreendedorismo está relacionada ao interesse por trabalhar remoto. "Houve uma euforia [na pandemia] porque parecia que o mercado iria caminhar para o teletrabalho, e as empresas voltaram um pouco atrás. Acredito que essa geração ainda está animada com a facilidade de trabalhar de qualquer lugar do mundo".
Segundo Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, mudanças no mercado de trabalho ajudam a explicar o interesse. "Havia muito mais direitos trabalhistas 20 anos atrás do que hoje. A estabilidade e as proteções sociais, que sempre foram o diferencial da carteira assinada, diminuíram".
Para Meirelles, os jovens também são influenciados pela rapidez do mundo digital, buscando soluções mais imediatas no mercado de trabalho, e empregos em que tenham maior flexibilidade de horários.
Além do desejo de empreender, a pesquisa da Companhia de Estágios revela um maior receio sobre IA entre os geração Alpha. Questionados sobre o impacto das inteligências artificiais no mercado de trabalho, aqueles com idade entre 14 e 17 anos apresentaram mais medo de perderem os empregos para a ferramenta, ante o total de respondentes (28% contra 22%).
Uma análise da consultoria LCA 4intelligence feita com base em estudo da OIT (Organização Internacional do Trabalho), divulgada em junho, calculou que a inteligência artificial generativa (GenAI, na sigla em inglês) deve impactar 31,3 milhões de empregos no Brasil.
O levantamento também estima que os jovens serão os mais impactados pelas mudanças. No estudo da OIT adaptado pela LCA para o Brasil, os jovens de 14 a 17 anos ocupam o terceiro grupo mais vulnerável a ser atingido pela IA generativa.
A pesquisa ainda aponta que ao menos 12,8% dos trabalhadores nesta faixa etária estão no nível 4, aquele em que quase todas as tarefas têm alto risco de serem automatizadas —é o maior percentual do índice.
JOVEM APRENDIZ É OPÇÃO DE ENTRADA NO MERCADO DE TRABALHO
Hoje existem 664 mil jovens aprendizes em atividade no Brasil, segundo dados do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego). Desses, pouco mais da metade têm até 17 anos (335 mil).
Nos últimos cinco anos, o número de aprendizes contratados através do programa cresceu 46%, saindo de 455 mil para o patamar atual.
Sancionada há 24 anos, a Lei da Aprendizagem obriga empresas com mais de 50 funcionários a terem de 5% a 15% de jovens aprendizes entre 14 e 24 anos entre seus funcionários.
A relação entre os jovens que conseguiram uma chance de entrar no mercado de trabalho por meio da Lei de Aprendizagem é majoritariamente positiva. Na pesquisa da Companhia de Estágios, 51% dizem que fariam o programa novamente.
Entre os diferenciais do programa, 41% dos entrevistados dizem vê-lo como a forma mais fácil de ingressar no mercado de trabalho. Entre os jovens aprendizes, hoje empregados, 57% tem bastante expectativa de serem efetivados.
A pesquisa também faz alguns recortes sociais. Dos mais de 3 mil respondentes, 55% são das classes D e E. Entre esses, 70% afirmam que a remuneração do programa tem grande impacto na renda familiar (57% dizem o mesmo, no recorte geral).
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GERAÇÕES NO MERCADO DE TRABALHO
Geração Alpha - Nascidos a partir de 2010
- Vontade maior de empreender
- Maior receio da inteligência artificial roubar empregos
- Sem separação entre o digital e o mundo real
Geração Z - Nascidos de 1997 a 2009
- Maior rotatividade no mercado de trabalho
- Maior acesso à informação
- Demora mais a alcançar cargos de chefia
Geração Y (ou millennials) - Nascidos de 1981 a 1996
- Priorizam salário e benefícios
- Valorizam plano de carreira e reconhecimento de lideranças
Fontes: Companhia de Estágios, LCA Consultores e consultoria Michael Page