O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chega a Santiago neste domingo (20) para participar de um encontro em defesa da democracia e em busca de soluções para enfrentar o avanço das fake news e da ultradireita a nível mundial.
Além do brasileiro, o presidente chileno, Gabriel Boric, vai receber no Palácio La Moneda, o líder da Espanha, Pedro Sánchez, e os presidentes da Colômbia, Gustavo Petro, e do Uruguai, Yamandú Orsi, para um encontro chamado "Democracia Sempre".
A reunião está prevista para acontecer nesta segunda-feira (21) com o objetivo de dar continuidade a uma discussão iniciada por eles em 2024, durante a 79ª sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas.
De acordo com o governo chileno, os líderes devem promover uma posição compartilhada em favor do multilateralismo, da democracia e da cooperação global com base na justiça social.
No ano passado, em paralelo à Assembleia-Geral da ONU, Lula e Sánchez organizaram um evento chamado "Em defesa da democracia, combatendo o extremismo". Na ocasião, o brasileiro destacou que os princípios democráticos correm risco em todo mundo e que o avanço da extrema direita é fruto de uma crise profunda na democracia.
"Recuar não vai apaziguar o ânimo violento de quem ataca a democracia para silenciar e retirar direitos. Não há contradição entre coesão social e o respeito à diversidade. O pluralismo nos fortalece. A democracia em sua plenitude é base para promover sociedades pacíficas, justas e inclusivas, livres do medo e da violência. Ela é fundamental para um mundo de paz e prosperidade", disse Lula.
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A newsletter da Folha sobre América Latina, editada pela historiadora e jornalista Sylvia Colombo
O presidente brasileiro alertou, ainda, para as armadilhas dos discursos extremistas e disse que era preciso recuperar a essência das democracias.
Já Sánchez destacou que os movimentos de "ataques reacionários" têm uma dimensão transnacional e apontou três fatores que reduzem a confiança da população na democracia: a desigualdade, a desinformação e a propagação do discurso de ódio.
Também participaram do evento os presidentes da França, de Cabo Verde, do Chile, do Conselho Europeu e os primeiros-ministros de Barbados, do Canadá e do Timor Leste. Na ocasião, o líder espanhol propôs que o encontro fosse o primeiro do tipo para coordenar uma resposta a um fenômeno global reacionário contra a democracia.
Lula já havia participado de uma reunião virtual com os outros líderes, em fevereiro, para definir diretrizes e ações conjuntas para o fortalecimento do multilateralismo e da governança global.
As propostas que resultarem do novo encontro serão apresentadas na 80ª sessão da Assembleia-Geral da ONU, prevista para acontecer no mês de setembro em Nova York.
Segundo os organizadores, a reunião de trabalho no Chile também deve tratar a regulação das tecnologias emergentes.
O evento deve reunir líderes que vivem momentos bem diferentes em seus países. Lula, que pode ser candidato à reeleição no ano que vem, lida com uma crise diplomática com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, após as taxações impostas pelo republicano a produtos brasileiros.
Orsi está em início de mandato no Uruguai, marcando a volta da esquerda ao poder, e se qualifica para ser uma ponte de diálogo entre Lula e o presidente da Argentina, Javier Milei. Boric e Petro não podem disputar um novo mandato, mas, enquanto a esquerda chilena deve ir às urnas neste ano mais forte do que se previa anteriormente, unificada com a candidatura de Jeannette Jara, o colombiano vive uma crise ministerial em seu país.
Em crise também está Sánchez, na Espanha. O socialista enfrenta um grave escândalo em seu partido, o PSOE, desde que autoridades da legenda foram acusadas de envolvimento em esquema de corrupção relacionado a pagamentos em troca de concessões de contratos de obras públicas.
Após a reunião, os líderes farão uma declaração conjunta à imprensa e, em seguida, vão se encontrar com intelectuais e representante da sociedade civil e de organizações internacionais, incluindo a ex-presidente do Chile Michelle Bachelet, o americano e vencedor do Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz, o economista sul-coreano Ha-Joon Chang e a filósofa americana Susan Neiman.