Conhecido mundialmente por assinar o design de carros raros da Ferrari e outras montadoras, como Rolls-Royce, BMW, Alfa Romeo e Maserati, o estúdio italiano Pininfarina tem expandido sua expertise para o mercado imobiliário de luxo pelo mundo. No Brasil, as linhas curvas da marca estão em mais de 30 torres residenciais e corporativas, entre lançadas e em desenvolvimento.
O italiano Paolo Trevisan, vice-presidente de design da Pininfarina, afirma que o Brasil e a Itália têm "um gosto e uma interpretação da beleza e de estilo de vida muito similares", o que contribui para a boa recepção do consumidor brasileiro ao produto.
A participação da Pininfarina vai além do licenciamento de marca, defende Trevisan. O estúdio italiano lidera do início à entrega o projeto arquitetônico e o design interior dos empreendimentos. A estratégia tem se traduzido em resultados expressivos nas vendas: segundo incorporadores, a assinatura permite elevar o preço do metro quadrado dos empreendimentos em 30%.
Alguns urbanistas brasileiros criticam os empreendimentos assinados pela Pininfarina, afirmando que priorizam a estética de luxo e uma imagem internacional, com pouca conexão com o entorno urbano e a cultura local. Trevisan rebate dizendo que o estúdio estuda "muito a cidade e a sociedade do lugar" e que o desenvolvimento é feito em parceria com escritórios de arquitetura de cada município não só no Brasil, mas em todos os países onde atuam.
"Fazemos estudo de exposição climática, de volumetria [que define qual configuração melhor atende às exigências técnicas, legais e estéticas do projeto]. Trabalhamos em conjunto com nossos clientes, parceiros e com arquitetos locais", afirma Trevisan.
"Cada projeto é uma nova aventura", diz.
Folha Mercado
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Há uma década no Brasil, a Pininfarina faz parcerias com 15 incorporadoras. A pernambucana Molegolar é uma das que atuam como ponte entre o estúdio e o mercado local, auxiliando na escolha de incorporadoras e no entendimento dos diferentes públicos consumidores.
"Não se trata apenas de limitar parcerias, mas de preservar o prestígio e a singularidade de cada projeto", diz Saulo Suassuna Filho, sênior advisor of business development da Pininfarina nas Américas. Segundo ele, essa seleção busca preservar a identidade e exclusividade dos projetos.
O primeiro projeto imobiliário brasileiro da Pininfarina foi o Cyrela by Pininfarina, lançado em 2016 na Vila Olímpia, zona sul de São Paulo. O empreendimento marcou o início de uma parceria que já rendeu quatro empreendimentos. O mais recente lançamento é uma torre residencial em Pinheiros (zona oeste) que, com 210 metros, será a mais alta da cidade.
Segundo a Cyrela, o Epic Cyrela by Pininfarina terá vista livre para os Jardins e apartamentos posicionados a partir de uma altura equivalente ao 14º andar de um edifício convencional. Com unidades de 339 m² e 379 m², os preços variam entre R$ 11,3 milhões e R$ 20 milhões, e a cobertura terá 570 m². O metro quadrado tem valor médio de R$ 34.450, e o empreendimento soma um Valor Geral de Vendas (VGV) estimado em R$ 2 bilhões.
No Nordeste, a estreia do estúdio foi em João Pessoa (PB). O Setai Residences Design by Pininfarina, parceria com o Grupo GP, é um complexo de três torres e centro comercial no bairro Altiplano, com interiores do arquiteto paraibano Leonardo Maia. Um showroom no local exibe sete modelos da Ferrari e se tornou o principal espaço da Pininfarina no mundo para apresentar o conceito de design aplicado a imóveis.
"A decisão mercadológica e a parte legal é conosco. De resto, eles participam de tudo. O que não desenham, palpitam para que haja harmonia no projeto. André Penazzi, CEO do Setai Grupo GP, parceiro da marca italiana no Nordeste.
"Nos nossos projetos, os brasileiros são a maioria dos compradores: cerca de 40% da região e 40% de outros estados. Mas entre os estrangeiros, os italianos são maioria", diz Penazzi.
A marca também chegou à capital do agronegócio, Goiânia (GO), onde a City Soluções Urbanas desenvolveu dois projetos em parceria com a Pininfarina: um residencial e outro comercial. "Gostamos tanto de trabalhar com eles que ampliamos a atuação para mais de um tipo de produto", diz João Gabriel Tomé Oliveira, sócio da incorporadora.
O projeto comercial, recém-lançado, vendeu 70% das unidades em 15 dias e tem previsão de alcançar um VGV de R$ 400 milhões. No residencial, apartamentos de até 550 m² com piscina na varanda foram vendidos a R$ 15 mil o metro quadrado —recorde local na época. "Esse projeto atrai muitos colecionadores de carros", diz Oliveira.
O RESIDENCIAL MAIS ALTO DO PAÍS E A COBERTURA MAIS CARA
Em Balneário Camboriú (SC), a Pininfarina assina em parceria com a Pasqualotto> o Yachthouse, conhecido como o edifício residencial mais alto do país e da América Latina, com 81 andares e mais de 294 metros de altura. Localizado entre o rio Camboriú e o mar, o prédio oferece aos moradores acesso por barco ou helicóptero. Entre os compradores está o jogador de futebol Neymar. Ele comprou, ainda na planta, uma cobertura avaliada em R$ 60 milhões.
No Rio de Janeiro, o Edifício Attos, desenvolvido pela Origem Incorporadora, promete ter a cobertura mais cara da cidade, avaliada em pelo menos R$ 80 milhões. O triplex de 1.100 m² no 12º andar, com elevador interno, já conta com fila de espera, mesmo antes do início das vendas, previstas para junho, e entrega em dezembro de 2027.
Mas nem só de arranha-céus vive o portfólio da Pininfarina. A marca também tem investido em projetos de menor escala, com cinco ou seis pavimentos, em Milão, Miami, Veneza, Espanha e, em breve, também no Brasil. Em Milagres, Alagoas, será lançado um empreendimento de três pavimentos à beira mar. E, embora os detalhes ainda estejam sob confidencialidade, um dos bairros mais tradicionais de São Paulo também terá um Pininfarina de baixa verticalidade nos próximos anos.