Planejar não atrai o que você teme, mas protege

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Há quem evite andar com guarda-chuva por achar que atrai chuva. Outros não colocam o pé no chão ao sair da cama até fazer um ritual qualquer. A lógica por trás desses hábitos pode ser nula, mas o medo tem suas próprias regras. E quando o assunto é planejamento patrimonial e sucessório, o desconforto é ainda maior. Falar sobre isso parece atrair tragédia, como se mencionar a morte fosse acelerá-la.

Esse receio, no entanto, tem um custo. E não falo apenas de valores financeiros, mas da instabilidade que a falta de planejamento pode deixar como herança. Quando ignoramos o tema da sucessão patrimonial, deixamos o futuro dos nossos filhos e herdeiros nas mãos da sorte, da burocracia e, muitas vezes, dos conflitos.

Como dizia Sêneca, "a morte está nos esperando em toda parte; e a vida inteira é apenas uma viagem rumo a ela". Evitá-la no discurso não afasta sua chegada — apenas nos impede de cuidar daquilo que importa antes que seja tarde.

Em países desenvolvidos, o planejamento sucessório não é tabu: é etapa básica de qualquer organização financeira. Proteção patrimonial, liquidez para os herdeiros, mecanismos de continuidade — tudo isso é tratado com naturalidade e estratégia.

Aqui, ainda é comum adiar esse tipo de decisão. Muitos só começam a se preocupar com a sucessão depois dos 60 anos. Mas o melhor momento para estruturar um bom plano é entre os 30 e 50, quando saúde e tempo ainda estão a favor — e os custos também.

É aí que entra um instrumento tão estratégico quanto negligenciado: o seguro de vida. Não como produto, mas como parte de uma arquitetura patrimonial eficiente. Ele pode ser estruturado para garantir liquidez imediata para os herdeiros, cobrir impostos de transmissão, evitar a venda forçada de bens e permitir que o patrimônio construído em vida seja transferido com inteligência e justiça.

Mais do que isso, os produtos mais modernos já vão além da lógica tradicional do seguro. Eles podem funcionar como reserva financeira, crescer de valor ao longo do tempo e — o mais importante para muitos empresários e profissionais liberais — oferecer proteção patrimonial contra riscos jurídicos. Médicos, advogados, empreendedores e prestadores de serviços sujeitos a litígios encontram nesses produtos uma camada adicional de blindagem. Não são apenas seguros. São estruturas inteligentes de proteção e planejamento.

Mas há dois erros frequentes nesse campo.

O primeiro é deixar para depois. Como em qualquer outro planejamento, tempo e saúde são variáveis cruciais. Adiar pode significar não conseguir mais contratar — ou fazê-lo a um custo inviável. Lembre-se, seguro se faz quando se pode, não quando se quer.

O segundo erro é contratar qualquer seguro. Assim como nos investimentos, há opções boas e ruins. Muitos que hoje se dizem frustrados com o seguro de vida contrataram ofertas padronizadas, muitas vezes empurradas por bancos, sem alinhamento com seus objetivos e estrutura patrimonial. É como comprar ações por indicação do gerente, sem saber o que a empresa faz. Seguro também precisa ser planejado e customizado. Caso contrário, vira despesa — e não solução.

Quando bem construído, ele se torna um elo poderoso no planejamento sucessório. Não resolve tudo, mas evita que o futuro da família dependa da venda apressada de imóveis ou da abertura de um inventário judicial arrastado. Ele garante tempo, tranquilidade e dignidade a quem fica. Além dos benefícios de reserva e blindagem financeira.

A morte não precisa ser o ponto final de um projeto. Com estratégia, ela pode ser apenas uma vírgula — que permite que o que você construiu siga adiante.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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