Imagine poder ter em sua casa um robô que retira a louça usada da mesa, coloca na máquina de lavar louça e depois adiciona sabão na máquina. Ele também tira o lixo e leva para fora. E esse mesmo robô ainda pode te servir, trazendo um utensílio até você, tudo isso apenas por comandos de voz.
Funcionalidades como estas foram mostradas ao público durante a disputa da RoboCup 2025, realizada no Centro de Convenções de Salvador, de quinta (17) até o último domingo (20). Maior competição de robótica e inteligência artificial do mundo, a RoboCup divide suas competições em 15 categorias de quatro áreas temáticas de Tarefas Domésticas, Resgate de Vítimas, Indústria e Futebol de Robôs.
A edição encerrada ontem contou com cerca de 1.700 participantes de ao menos 40 países. O Brasil teve o maior número de equipes, enquanto a Alemanha teve o maior número de participantes.
Os desafios das tarefas domésticas foram cumpridos, com destaque para os protótipos das equipes alemã e sul-coreana. É um passo, estimam os criadores, para que, no futuro breve, esses robôs estejam lar das pessoas.
No térreo do Centro de Convenções, um robô humanoide andava com desenvoltura pelo local, atraindo a atenção das crianças que corriam em grupo fascinadas atrás do robô, que interagia com elas.
"A gente viu uma facilidade muito grande para crianças bem pequenas interagirem com a tecnologia. É o impacto dessa nova geração, parece que elas já foram treinadas para operar o robô", diz Guilherme Marostica. Em 2022, em Bangkok, na Tailândia, ele fez parte da equipe da FEI de São Bernardo do Campo que venceu a RoboCup na categoria Tarefas Domésticas.
Depois, Marostica co-fundou a Robotec, empresa que desenvolve softwares para operacionalizar robôs de forma inteligente, atuando na área comercial e hospitalar. "Era muito traumático para algumas crianças, quando elas são internadas, aferir os sinais vitais. São várias vezes ao dia, isso acabava sendo um pouco estressante para elas".
"A gente integrou todos os sensores hospitalares dentro do robô, e ele ia de forma lúdica, conversando e coletando informações das crianças. Elas obviamente gostavam muito, interagiam", afirma Marostica. Atualmente, robôs de sua empresa fazem entrega de medicamentos dentro do hospital Albert Einstein, em São Paulo.
Na China, as entregas por drones são bastante comuns para o público em geral, principalmente para pedir comida em restaurantes. "Um drone demoraria só 15 minutos para entregar um fast food de Salvador até a ilha de Itaparica", calcula Tiago Nascimento, organizador das demonstrações da "Flying Robots" durante a RoboCup.
Por enquanto, apenas pessoas jurídicas têm acesso ao serviço de entrega por drones no Brasil. "Esse tipo de serviço é muitas vezes emperrado pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Às vezes, leva dois anos para certificar um drone para voar em certos locais, principalmente quando é habitado", explica Nascimento.
A versatilidade dos drones permite que eles sejam usados para acessar locais inóspitos e também para resgates. O desenvolvimento proporcionado pelas edições da RoboCup já inclusive ajudou o Japão no desastre da usina nuclear de Fukushima, em 2011. "Quando teve aquele acidente, eles ligaram para as equipes para levarem seus robôs até lá", conta Nascimento.
Mas o grande chamariz da RoboCup é o Futebol de Robôs, com diferentes categorias que vão desde robôs simples que deslizam pelo campo até a humanoides mais complexos. No Centro de Convenções de Salvador, um Brasil x Alemanha com robôs similares àqueles aspiradores redondos domésticos tinha até narrador e torcida empolgada.
Desde que foi fundada, em 1997, a RoboCup estabeleceu a meta de desenvolver, até 2050, um time de futebol de robôs que consiga vencer a seleção humana campeã mundial. "Não é um sonho, mas não é para agora", diz o chinês Jason Wong, responsável por uma startup de robótica, sobre a possibilidade de haver uma partida competitiva entre humanos e robôs.
"A tecnologia robótica se desenvolve rapidamente, passo a passo. Talvez, em até dez anos, isso seja uma realidade", diz Wong. "A flexibilidade dos robôs foi o que mais evoluiu".
No último dia da RoboCup 2025, houve uma pelada entre robôs humanoides —com reforço humano— contra humanos. Por enquanto, apenas uma brincadeira.
"Nesse momento [uma bola dividida] é ruim para o robô, mas em breve vai ser ruim para o humano", brinca o professor Anderson Soares, coordenador do Centro de Excelência em IA da UFG (Universidade Federal de Goiás).
Apesar do fascínio provocado pela ideia da disputa entre humanos e robôs, o objetivo final não é esportivo.
"Na verdade, o que está por trás é o desenvolvimento da competência em inteligência artificial, em robótica especificamente. [O objetivo final] É desenvolver competências, e essas competências serem usadas na indústria", diz Soares.
No ano que vem, a Robocup acontecerá em Incheon, na Coreia do Sul.