O apreço do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, por Donald Trump não condiz com o quanto o agronegócio de São Paulo poderá perder com o tarifaço americano. O estado é o principal exportador de produtos agropecuários e derivados para os EUA. O setor somou US$ 1,9 bilhão no primeiro semestre, 30% do que os paulistas exportaram para o mercado americano no período.
São Paulo tem uma característica peculiar em relação aos demais estados. Em alguns setores, é praticamente dependente do mercado americano, o que torna muito difícil a vida de produtores e de processadores.
O suco de laranja é um dos principais afetados. As vendas de 746 mil toneladas do produto na safra 2024/25 renderam US$ 3,3 bilhões ao Brasil. Os Estados Unidos ficaram com 306 mil toneladas, no valor de US$ 1,3 bilhão, segundo dados desta segunda-feira (14) da CitrusBr.
No caso do suco de laranja, o setor já fez as contas, e o tarifaço de Trump vai elevar os tributos em 533%. Se a tarifa de 50% for realmente aplicada pelo governo americano, os tributos vão representar 73% do valor do suco. Os Estados Unidos ficam com 42% das exportações brasileiras, e São Paulo é o principal exportador nacional.
Essa inviabilidade das exportações, uma vez que o mercado dos Estados Unidos é o principal para o Brasil, vai afetar não só as empresas mas também o produtor, que poderá ter forte queda nos preços da laranja em um período de aumento de custos.
O estado perde também na carne bovina, que já tinha uma taxa de 36%. As exportações paulistas dessa proteína industrializada somaram US$ 367 milhões no primeiro semestre, sendo que 76% desse valor foi absorvido pelos Estados Unidos. As indústrias processadoras vão ter dificuldade também para negociar o sebo, um dos derivados do processamento da carne. O mercado americano, devido ao programa de biodiesel, vem absorvendo 100% do que o estado exporta.
O tarifaço afeta também o setor sucroalcooleiro. São Paulo exporta 130 milhões de litros do combustível para os Estados Unidos. Já as compras de açúcar são controladas por meio de cotas.
Tarifaço
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O setor de borracha, que gerou exportações paulistas de US$ 175 milhões no semestre, entre produto natural e derivados, vai sentir muito as novas tarifas, uma vez que passa por um período difícil para a manutenção dos seringais no estado.
Embora São Paulo não seja líder no setor, o estado tem boa participação também nas exportações de café. Dos US$ 732 milhões de receitas no semestre, 19% vieram dos Estados Unidos. Os americanos compraram próximo de 3,4 milhões de sacas de café do Brasil neste ano.
Minas Gerais, estado do governador Romeu Zema, que, inicialmente, não contestou as tarifas de Trump, também sofrerá consequências com o tarifaço, uma vez que 48% das receitas obtidas com as vendas de produtos para os Estados Unidos vêm do agronegócio. Do US$ 1,19 bilhão que o estado exportou para os americanos no primeiro semestre no setor de agronegócio, US$ 956 milhões tiveram origem no café.
Mato Grosso, o líder nacional em exportações de produtos do agronegócio, é um dos que menos exportam para os Estados Unidos. Nos seis primeiros meses deste ano, foram apenas US$ 136 milhões, de um total de US$ 14,4 bilhões arrecadados pelo estado no mercado internacional no período.