As muralhas da fortaleza e as rochas da falésia parecem ter todas a mesma cor calcária, como se uma fosse o prolongamento natural da outra. Já o mar Adriático, lá embaixo, tem muitos tons: é verde translúcido próximo da areia, onde os banhistas boiam sem preocupação, e turquesa intenso mais ao fundo, onde outros tantos bebericam Aperol em seus barcos.
Estamos em Polignano a Mare, principal cartão postal da região da Apúlia —ou Puglia—, no extremo sul da Itália. Embora o país como um todo padeça com o turismo de massa, ainda dá para curtir as praias mediterrâneas dessa região, que corresponde ao salto da bota, sem enfrentar as multidões que hoje assolam a Sicília e a Costa Amalfitana, do outro lado da península.
Bari, a principal cidade da província, fica a pouco mais de uma hora de voo de Roma --ou a cerca de quatro horas de trem da capital italiana. É a principal porta para explorar a área. Dali, lugares como Alberobello e Lecce, outras das principais atrações turísticas, estão bem próximas. É fácil de escolher uma base e dali partir para desbravar o entorno.
Polignano é uma daquelas típicas cidades do sul da Europa, com suas ruelas de pedra medievais circundando igrejas antiquíssimas, boa parte delas dedicadas a são Vito, padroeiro local que é homenageado em uma festa no mês de junho.
A cidade é envolta em outra curiosidade: foi ali que nasceu Domenico Modugno, homenageado com uma estátua que dá costas para o mar. Ele é o compositor da música "Nel Blu Dipinto di Blu", mais conhecida pelo nome informal de "Volare", do seu refrão. A letra da canção, famosíssima, estampa letreiros afixados na rua principal, cercada de lojas e restaurantes.
Mas seu principal destaque é mesmo sua geografia acidentada: os paredões rochosos, coroados pelas muralhas, que vão dar no Adriático. Durante o verão, a enseada de pedras fica coalhada de gente se bronzeando sob um Sol de quase 40 graus. Dali também saem lanchas que exploram as cavernas que o mar sulcou nas pedras, bem ao estilo do que se faz em Capri.
Uma dessas cavernas foi transformada em restaurante. É o Grotta Palazzese, com suas mesas a poucos metros acima da arrebentação, fácil de se achar em qualquer perfil do Instagram dedicado a expor as belezas da Itália.
Mas, é claro, conseguir reserva ali é difícil e exige planejamento de semanas. Não que seu hype seja assim imperdível, já que Polignano a Mare abriga outros tantos lugares onde se pode tomar um drinque ou um vinho branco com aquele cenário mediterrâneo de fundo sem hora para terminar.
Alberobello, a 30 quilômetros dali, é outra parada obrigatória. A cidade, tombada pela Unesco, é conhecida por suas peculiares construções, as "trulli". São casinhas circulares, encimadas por tetos cônicos e pintadas de branco.
Conta-se que pipocaram por ali no século 17, feitas por agricultores que queriam driblar os impostos cobrados pelos senhores locais sobre as moradias --como elas não eram erguidas com argamassa, bastava retirar um punhado de pedras para que toda a construção viesse abaixo e os eximisse do fisco.
Sua arquitetura também era inteligente: os tetos cônicos preservavam o calor durante o inverno e ajudavam a refrescar durante o verão. Uma mesma casa abrigava toda uma família e ainda podia contar com área para armazenar vinho, azeite e animais. Hoje são cafés, lojas, bares e restaurantes que se enfileiram num labirinto de ruas íngremes e estreitas.
Uma dica para quem quer visitar Alberobello é procurar visitar não só a parte mais turística, chamada de Rione Monti, que concentra o comércio, mas também Rione Aia Piccola, onde algumas pessoas ainda vivem nessas casinhas pitorescas. Embora menor, ela é menos movimentada, ideal para fazer algumas fotos e tentar entender um pouco melhor como vivem os moradores locais.
A Apúlia também enche o estômago. Essencialmente agrícola, a região é a maior produtora de azeite na Itália. As oliveiras, de fato, estão por toda a parte na estrada, com seus troncos retorcidos enchendo colinas até onde a vista alcança. Vem dali a coratina, variedade de azeitona mais picante, típica da região.
Ele se soma a outros condimentos locais, igualmente super-aromáticos, como o vincotto, extraído das uvas tintas, e usado como uma espécie de vinagre balsâmico e até em bolos e sorvetes.
O jornalista se hospedou a convite da Rocco Forte Hotels