As surpreendentes formas como as embalagens de alimentos estão nos expondo aos microplásticos

1 semana atrás 10

A esta altura, a maioria das pessoas sabe que os microplásticos estão em toda parte. Cientistas demonstraram que pequenas partículas, equivalentes ao peso de uma colher de plástico, podem ser encontradas em nossos cérebros; centenas de fragmentos de plástico estão presentes em cada vez que respiramos.

Mas as origens exatas desses pedaços minúsculos de plástico são pouco claras. Eles vêm de plásticos descartados em aterros sanitários e que se decompõem ao longo de dezenas de anos? Ou estão se desprendendo das garrafas plásticas de água e recipientes em que guardamos nossos alimentos? A resposta é importante —tanto para indivíduos que esperam evitar essas partículas quanto para políticos que podem querer restringir a quantidade de microplásticos que comemos, bebemos e aspiramos.

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Os cientistas estão encontrando respostas —mas nem sempre as que esperavam. Novas pesquisas mostram que os microplásticos estão se desprendendo de recipientes plásticos reutilizáveis e embalagens de alimentos, mas as partículas também podem vir de garrafas de vidro com tampas pintadas, bem como de alimentos altamente processados embalados em qualquer tipo de material.

"Não compreendemos realmente todos os fatores que podem levar à liberação de micro e nanoplásticos", disse Lisa Zimmerman, pesquisadora de plásticos e chefe da comunicação científica do Food Packaging Forum, uma organização sem fins lucrativos suíça.

Em um estudo publicado no mês passado, pesquisadores franceses analisaram dezenas de amostras de água, chá, refrigerantes, cerveja e vinho em vários recipientes —garrafas de vidro, garrafas de plástico e latas de metal. Eles esperavam encontrar mais partículas de microplástico em bebidas armazenadas em plástico.

Em vez disso, os pesquisadores descobriram que —em todas as bebidas testadas— o maior número de partículas foi encontrado em garrafas de vidro. Nos recipientes de vidro, encontraram cerca de 100 partículas de microplástico por litro de bebida, ou cinco a 50 vezes mais do que em garrafas de plástico ou latas.

"Ficamos surpresos", disse Alexandre Dehaut, gerente de projetos de pesquisa da Anses, a agência de segurança alimentar da França, e um dos autores do estudo. "O vidro é um material inerte e tem sido usado há muito tempo pelos humanos."

Os cientistas ficaram confusos —até perceberem que todas as garrafas de vidro que testaram, exceto as de vinho, tinham tampas de metal. Essas tampas eram decoradas com tinta de poliéster e correspondiam à cor e ao material das partículas encontradas nas garrafas de plástico. A prevalência das partículas diminuiu em mais da metade quando as tampas foram sopradas e enxaguadas antes do envase —sugerindo que, pelo menos em alguns casos, pode haver maneiras relativamente fáceis de reduzir a exposição aos microplásticos.

"Conseguimos reduzir o conteúdo em 60%", disse Dehaut.

Outro estudo, divulgado no ano passado, descobriu que a embalagem pode não importar tanto quanto o processamento dos alimentos. Após analisar vários tipos de proteínas —carnes, frutos do mar e carnes de origem vegetal— pesquisadores da Ocean Conservancy e da Universidade de Toronto descobriram que produtos altamente processados continham significativamente mais partículas minúsculas do que produtos minimamente processados. Por exemplo, um nugget de frango tinha 62 partículas de microplástico por porção; um peito de frango tinha apenas duas.

Para alimentos altamente processados, "há simplesmente mais oportunidades para a contaminação ser introduzida", disse Britta Baechler, diretora de pesquisa de plástico oceânico da Ocean Conservancy e uma das autoras desse estudo. Alimentos processados passam por uma complicada rede de esteiras transportadoras e máquinas —com muitas peças feitas de plástico— antes de serem embalados e enviados para o supermercado. A maior exposição aos microplásticos, portanto, pode ocorrer antes que o consumidor entre em contato com o alimento.

No entanto, isso não significa que os recipientes de plástico estejam isentos. Um artigo publicado no último dia 24, de pesquisadores da fundação Food Packaging Forum, integrou as descobertas de sete estudos robustos que mostraram que as partículas se soltam de certos tipos de recipientes, especialmente quando manuseados de certas maneiras.

Por exemplo, pratos de plástico feitos de melamina liberam quantidades crescentes de partículas quando lavados. Copos de plástico reutilizáveis liberam mais partículas quando expostos à água quente. Garrafas de água de plástico liberaram mais microplásticos quando suas tampas de plástico foram rosqueadas e desrosqueadas várias vezes.

Kimberly Wise White, vice-presidente de assuntos regulatórios e científicos do American Chemistry Council, um grupo comercial de plásticos, disse que o estudo forneceu uma visão útil da pesquisa sobre microplásticos —mas não foi comprovado que os microplásticos causem danos. "Nenhum efeito adverso à saúde foi conclusivamente ligado à exposição a microplásticos", disse ela.

Zimmerman, a autora principal do estudo publicado na última semana, disse que a pesquisa confirma o que os cientistas vinham aconselhando: evite armazenar alimentos em plástico sempre que possível e, em particular, evite aquecer recipientes de plástico. Mas, acrescentou, os estudos recentes mostram que os microplásticos podem vir de lugares inesperados —e mais pesquisas são necessárias.

"O plástico está presente em toda parte", disse ela. "Precisamos saber o que podemos fazer."

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