Assessor de Trump cita Abraão e Deus em evento para revelar imagens do Universo

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A apresentação desta segunda-feira (23) das primeiras imagens do Observatório Vera C. Rubin, além de oferecer retratos espetaculares do céu em movimento, também mostrou as contradições de um país em profunda transformação. O evento ocorreu na sede da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, em Washington.

Dos quatro burocratas que abriram a apresentação, dois são interinos em seus cargos: Brian Stone, secretário-executivo agindo provisoriamente como diretor da Fundação Nacional de Ciência dos EUA após o pedido de demissão de Sethuraman Panchanathan, em abril; e Harriet Kung, diretora interina do Escritório de Ciência do Departamento de Energia americano.

Embora o projeto conte com participação de cientistas do mundo todo (inclusive o Brasil, representado pelo LIneA (Laboratório Interinstitucional de e-Astronomia) e eventos locais tenham sido realizados para apresentar as primeiras imagens (um deles na sede da Academia Brasileira de Ciências, no Rio de Janeiro), o único representante internacional a falar foi o embaixador do Chile nos EUA, Juan Gabriel Valdes.

Coube a Valdes lembrar a importância de o observatório levar o nome de Vera Rubin (1928-2016), astrofísica americana que foi a primeira a encontrar evidências convincentes da existência da matéria escura, ao estudar a rotação de galáxias espirais. "É uma mensagem para os jovens do Chile e do mundo de que conhecimento não tem gênero", destacou.

Em contraste com Valdes, o último a falar antes da apresentação científica propriamente dita foi Michael Kratsios, diretor do Escritório de Política de Ciência e Tecnologia da Casa Branca e assessor direto do presidente Donald Trump.

Destoando do que costumam ser essas apresentações, Kratsios deu pouca atenção à cooperação internacional, enfatizando que há coisas que só os EUA podem fazer. "É um triunfo da engenhosidade tecnológica americana", disse, também evocando o discurso oficial de uma "era de ouro" para a pesquisa. Para temperar, o burocrata da Casa Branca também evocou o divino, citou Abraão e Deus e falou em "descobrir os mistérios da Criação" –referências um tanto quanto deslocadas do foco do evento.

Na seção de perguntas à imprensa, quando uma jornalista perguntou sobre os cortes orçamentários sobre a Fundação Nacional de Ciência e o impacto que pode ter sobre as operações futuras do Rubin, o painel de cientistas foi impedido de responder, com os organizadores dizendo que "não iriam especular" sobre isso.

Com as altas doses de ufanismo e a pouca inclinação a discutir questões pertinentes da política científica americana, não se poderia deixar de notar que, no painel de cinco cientistas que responderam pelo projeto aos jornalistas, estavam Sandrine Thomas, francesa, e Federica Bianco, italiana, além, é claro, do diretor do Rubin, o croata Ivezić.

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