Pela terceira vez, astrônomos detectaram algo passando pelo nosso Sistema Solar que parece ter vindo de fora dele. O objeto interestelar, chamado temporariamente de A11pI3Z, está bem longe do Sol, localizado entre as órbitas do cinturão de asteroides e Júpiter, e não oferece risco ao nosso planeta.
O primeiro objeto interestelar conhecido foi o Oumuamua, que em 2017 atravessou rapidamente o Sistema Solar. Dois anos depois, foi a vez de Borisov, um cometa de origem interestelar.
Na última terça (1º), um telescópio no Chile avistou o que inicialmente parecia ser um asteroide desconhecido em uma trajetória que poderia se aproximar da órbita da Terra. O telescópio é 1 dos 5 ao redor do mundo que fazem parte do Sistema de Alerta de Impacto Terrestre de Asteroides (Atlas, na sigla em inglês), um projeto financiado pela Nasa que monitora rochas espaciais que possam estar em rota de colisão com nosso planeta.
A observação foi submetida ao Centro de Planetas Menores da União Astronômica Internacional, que mantém um catálogo de pequenos corpos espaciais no Sistema Solar.
"Observações de acompanhamento em 1º e 2 de julho começaram a revelar que sua órbita pode ser incomum, possivelmente interestelar", disse Larry Denneau, coinvestigador principal do Atlas, que foi desenvolvido pela Universidade do Havaí.
Então, um astrônomo amador, Sam Deen, avistou A11pI3Z em fotos que o Atlas havia tirado no fim de junho. Os avistamentos adicionais permitiram cálculos mais precisos da trajetória.
"Agora temos dezenas e dezenas de observações de muitas pessoas diferentes", afirmou Matthew Payne, diretor do Minor Planet Center. "E assim está se tornando quase 100% certo que é interestelar."
O objeto é surpreendentemente brilhante. Embora não possa ser visto a olho nu, telescópios de tamanho modesto podem avistá-lo.
"Esta é a questão mais interessante", afirmou o astrofísico Avi Loeb, de Harvard. "O que explica seu brilho tão significativo?"
Isso é especialmente intrigante se a superfície se revelar escura, como a de um asteroide rochoso. Nesse caso, o objeto teria que ser grande, com cerca de 20 quilômetros de largura, para refletir a quantidade de luz observada. Isso seria maior que o asteroide que colidiu com a Terra há 66 milhões de anos, desencadeando a extinção em massa que eliminou os dinossauros.
Encontrar um objeto interestelar tão grande seria uma surpresa, segundo Loeb. Ele seria muito maior que Oumuamua.
Como corpos pequenos são muito mais abundantes do que os grandes, a existência de um objeto interestelar de 20 quilômetros de largura implicaria que os astrônomos também deveriam ter visto milhões de objetos do tamanho de Oumuamua.
A11pI3Z pode acabar sendo um cometa interestelar como Borisov, o segundo objeto interestelar já observado. Para um cometa, o brilho vem da luz solar refletida em uma pluma de gás e poeira, e o núcleo seria consideravelmente menor.
"Se descobrirmos que é um cometa, não há nada surpreendente", disse Loeb.
O astrofísico cogitou outra hipótese. "A possibilidade final, e estou sendo mais especulativo aqui, é que ele produz sua própria luz. Isso parece improvável, mas é o que me vem à mente."
Quando Oumuamua foi descoberto em 2017, Loeb especulou que poderia ser um artefato alienígena devido a sua forma incomum e porque parecia ser impulsionado por uma força diferente da gravidade. Desde então, ele propôs uma possível origem alienígena para materiais estranhos encontrados no fundo do mar do Pacífico.
A pergunta se A11pI3Z é um cometa ou uma rocha deve ser respondida em poucos dias, conforme telescópios se virarem para ele. Se for um cometa, por exemplo, os astrônomos verão uma cauda.
Os astrônomos também terão meses para estudá-lo. A análise de cores específicas emitidas poderia identificar elementos e moléculas em sua superfície. E, segundo Loeb, medições infravermelhas do telescópio James Webb poderiam medir quanto calor está sendo emitido da superfície.
"Se o objeto estiver girando, veríamos a área da superfície mudando ao longo do tempo e, com isso, inferir, em três dimensões, a forma do objeto", disse o astrofísico.
Em contraste, o menor Oumuamua desapareceu de vista após apenas algumas semanas, deixando muitos de seus mistérios sem solução.
O Observatório Vera C. Rubin, que em breve começará a escanear todo o céu do hemisfério sul, deverá encontrar mais objetos interestelares, mesmo a distâncias ainda maiores. Isso proporcionará uma visão mais completa dos objetos interestelares que passam pelo nosso Sistema Solar.
Algo com que ninguém precisa se preocupar é com o risco de A11pI3Z atingir a Terra. Em outubro, quando fizer sua passagem mais próxima do Sol, parece que esse objeto ainda estará fora da órbita de Marte. Além disso, a Terra estará do outro lado do Sol, então haverá milhões de quilômetros de distância entre a Terra e o A11pI3Z.
Se o A11pI3Z acabar não sendo um cometa, os astrônomos poderão se deparar com muitos quebra-cabeças para resolver.
"A coisa boa sobre esse objeto é que, por ser brilhante, ele nos fornecerá tantos dados que ninguém será capaz de negá-lo", disse Loeb. "Se ele tiver anomalias, ninguém poderá varrê-las para debaixo do tapete do pensamento convencional."