'Atiraram nos pacientes em suas camas': os testemunhos do massacre em um hospital na Síria

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As forças do regime Sírio foram acusadas de realizar um massacre em um hospital durante os confrontos sectários que eclodiram há pouco mais de uma semana.

A BBC visitou o Hospital Nacional de Sweida, no sul do país, onde a equipe afirma que pacientes foram assassinados dentro dos quartos.

O cheiro foi a primeira coisa que me impactou.

No estacionamento do principal hospital da cidade de Sweida, dezenas de cadáveres em decomposição estão alinhados em sacos plásticos brancos.

Alguns estão abertos, revelando os restos inchados e mutilados das pessoas assassinadas ali.

O asfalto sob meus pés está gorduroso e escorregadio de sangue. Sob o sol escaldante, o odor é insuportável.

Lá Fora

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"Foi um massacre", conta Wissam Massoud, neurocirurgião do hospital. "Os soldados vieram dizendo que queriam trazer a paz, mas mataram dezenas de pacientes —dos mais jovens aos mais idosos."

No início desta semana, Massoud me enviou um vídeo que, segundo ele, foi gravado imediatamente após a incursão das forças do governo.

Nele, uma mulher mostra o interior do hospital. No chão dos quartos, há dezenas de pacientes mortos, ainda cobertos por lençóis ensanguentados.

'São monstros'

Todos aqui —médicos, enfermeiros, voluntários— dizem a mesma coisa: na semana passada, foram as tropas do regime sírio que atacaram a comunidade religiosa drusa, invadiram o hospital e cometeram os assassinatos.

Kiness Abu Motab, voluntário do hospital, disse sobre as vítimas:

"Qual foi o crime delas? O simples fato de serem uma minoria em um país que se diz democrático?"

"São criminosos. São monstros. Não confiamos neles de forma alguma", disse Osama Malak, professor de inglês da cidade, na porta do hospital. "Atiraram na cabeça de uma criança com deficiência, de apenas 8 anos", afirmou.

"Pelo direito internacional, hospitais devem ser protegidos. Mas nos atacaram até dentro do hospital. Entraram no hospital e começaram a atirar em todos. Dispararam contra pacientes em suas camas, enquanto dormiam."

Todas as partes envolvidas neste conflito se acusam mutuamente de cometer atrocidades.

Tanto os combatentes beduínos e drusos, como o Exército sírio foram acusados de matar civis e realizar execuções extrajudiciais.

Cidade sitiada

Ainda não há um panorama claro do que aconteceu no hospital. Algumas pessoas aqui estimam que o número de mortos ultrapassa 300, mas esse dado não pôde ser verificado de forma independente.

No dia anterior, o Ministério da Defesa da Síria afirmou em um comunicado que estava ciente das denúncias de "violações chocantes" cometidas por pessoas vestidas com uniformes militares na cidade de Sweida, de maioria drusa.

E, no início desta semana, Raed Saleh, ministro sírio de Gestão de Desastres e Resposta a Emergências, disse que todas as denúncias de atrocidades cometidas por todas as partes seriam investigadas de forma rigorosa.

O acesso à cidade de Sweida tem sido fortemente restrito, o que dificulta a coleta de provas em primeira mão. Na prática, a cidade está sitiada, já que as forças do regime sírio controlam quem pode entrar e sair.

Para conseguir entrar, tivemos que passar por diversos postos de controle. Ao chegarmos, vimos lojas e prédios queimados, além de carros esmagados por tanques.

A cidade de Sweida foi claramente palco de uma dura batalha entre combatentes drusos e beduínos.

Foi nesse momento que o regime sírio interveio pela primeira vez, tentando impor um cessar-fogo.

Embora diversas aldeias drusas da província de Sweida já tenham sido reconquistadas pelas forças do regime, a cidade —onde vivem mais de 70 mil pessoas— segue sob controle total dos drusos.

Antes de sairmos do hospital, encontramos Hala al-Khatib, 8, sentada em um banco com a tia.

A menina está com o rosto ensanguentado e enfaixado. Parece ter perdido um dos olhos.

Ela nos conta que homens armados invadiram a casa e atiraram nela enquanto ela se escondia dentro de um armário.

Hala ainda não sabe, mas seus pais estão mortos.

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