Cânion do Peruaçu, em MG, pode se tornar Patrimônio Natural da Humanidade

4 dias atrás 10

A Unesco, agência das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura, pode reconhecer nos próximos dias o cânion do Peruaçu, em Minas Gerais, como Patrimônio Natural da Humanidade.

Uma reunião do comitê de patrimônio mundial ocorre nesta semana em Paris para analisar as solicitações para inclusão na lista de locais protegidos. De acordo com a programação da conferência, o resultado sobre a nomeação do cânion deve sair no dia 13, próximo domingo.

O governo brasileiro finalizou o processo para indicação junto à ONU em fevereiro. O pedido envolve uma área de 38 mil hectares e equivale a mais da metade do tamanho do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, no norte de Minas, onde fica o cânion.

Segundo o governo, a delimitação da área a ser declarada pela Unesco busca atender às demandas dos xakriabás, povo indígena que vive na região, por autonomia na governança da terra. Os indígenas pedem o reconhecimento do seu território, que está em processo de demarcação e se sobrepõe aos limites do parque.

Em fevereiro, representantes da aldeia Caraíbas enviaram carta à Unesco exigindo a demarcação pelo Estado brasileiro, apesar de não serem contrários à declaração como patrimônio natural.

O cânion abriga um conjunto de cavernas, como a Gruta do Janelão, com galerias que ultrapassam os cem metros de altura, e a Perna da Bailarina, considerada a maior estalactite do mundo. Há também 114 sítios arqueológicos e registros de ocupação humana há 12 mil anos, além de pinturas rupestres. É possível conhecer uma parte do local em um tour virtual 3D.

Caso a nomeação seja aprovada, o cânion do Peruaçu se juntará a outros patrimônios naturais já declarados pela Unesco no Brasil, como o pantanal, os Lençóis Maranhenses e o Parque Nacional do Iguaçu.

Para o geólogo Francisco William da Cruz, que acompanhou a candidatura ao título, o valor da paisagem local aumenta as chances da aprovação. O cânion do Peruaçu foi formado a partir do desabamento de uma caverna de 25 quilômetros de extensão, algo raro de se observar.

"É uma feição pouco comum, que permite entender a formação de um cânion a partir de uma grande caverna. Isso é considerado como um processo único no mundo", diz Cruz. A presença de pinturas rupestres em paredões com mais de dez metros de altura acrescenta importância ao lugar, destaca o geólogo.

Por isso, a proposta brasileira busca atender aos critérios de fenômeno natural excepcional e exemplo representativo de diferentes estágios da história da Terra, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.

Amostras coletadas no cânion já serviram como base para pesquisas de reconstrução do clima do passado. Os estudos mostram que a região está aquecendo mais rapidamente que o restante do planeta, com cerca de 2,5°C de aumento na temperatura desde a década de 1950.

Planeta em Transe

Uma newsletter com o que você precisa saber sobre mudanças climáticas

Ao longo dos dias 11, 12 e 13, o comitê da Unesco analisará pedidos de nomeação de 32 países, incluindo o Brasil. Segundo a entidade, a aprovação de um local como Patrimônio Mundial se baseia em consultas ao Conselho Internacional de Monumentos e Sítios e à União Internacional para a Conservação da Natureza, além de visitas técnicas aos locais candidatos.

Em geral, a comissão acrescenta de 25 a 30 sítios por ano na lista, e há 1.007 locais já aprovados.

O Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) diz celebrar a possibilidade de nomeação do cânion como patrimônio natural.

"Tal reconhecimento contribui para a preservação e valorização dos sítios arqueológicos existentes na região, caracterizados por pinturas rupestres, instrumentos de pedra e sepultamentos, que guardam importantes registros de ocupação humana de milhares de anos atrás", afirma o órgão.

O Ministério do Turismo diz que a nomeação pode aumentar a visibilidade nacional e internacional do cânion, além de estimular a captação de investimentos, a geração de empregos e o envolvimento das comunidades locais.

"O reconhecimento como Patrimônio Mundial representará um marco para o turismo sustentável na região e consolidará o compromisso do Brasil com a conservação ambiental e a valorização de seu patrimônio natural", diz, em nota.

A visitação ao Parque Nacional Cavernas do Peruaçu cresceu na última década, segundo dados do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), mas é baixa em comparação a outras unidades de conservação. Em 2015, 2.938 pessoas estiveram no parque. O número saltou para 14,6 mil visitantes em 2024.

"Apesar de essa nomeação estar em julgamento pela Unesco, é um parque pouco conhecido no Brasil. Então, a nomeação vai fazer com que ele seja mais divulgado", prevê Cruz.

Read Entire Article