A Chevron selou a aquisição de sua rival menor, Hess, após prevalecer sobre a ExxonMobil em uma disputa judicial conturbada nesta sexta-feira (18). O acordo deu à Chevron uma participação em um dos empreendimentos petrolíferos mais valiosos do mundo.
O acordo de US$ 53 bilhões (R$ 295 bilhões) estava travado há quase dois anos por uma disputa contratual argumentada perante a Câmara de Comércio Internacional, com sede em Paris.
Receber a aprovação para finalmente comprar a Hess foi uma grande vitória para a Chevron, a segunda maior petrolífera americana, sediada em Houston, que enfrentava crescentes preocupações dos investidores sobre seu futuro caso o acordo fosse bloqueado.
Com a Hess, a Chevron adquiriu uma parte de um lucrativo projeto petrolífero na costa da Guiana, na América do Sul. Também ganhou uma série de outros ativos, desde Dakota do Norte até o Sudeste Asiático, que ampliam o horizonte de oportunidades de perfuração da empresa e lhe dão capacidade de competir melhor com empresas como a Exxon, sua maior rival americana.
A Chevron não perdeu tempo para concluir a aquisição. A notícia da decisão judicial chegou pouco depois das 5h da manhã nesta sexta, disse Mike Wirth, CEO da Chevron. Às 8h30, as empresas já haviam se fundido.
"O resultado não é apenas bom para a Chevron, é também bom para toda a indústria", disse Wirth em entrevista ao The New York Times.
Exxon e Chevron vinham disputando a participação da Hess na Guiana por mais de um ano, a um grande custo para a Chevron. A batalha deixou a petrolífera menor no limbo, incapaz de concluir seu acordo com a Hess —e também incapaz de seguir em frente.
Folha Mercado
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O preço das ações da Chevron havia sofrido, caindo cerca de 9% desde quando a empresa anunciou o acordo com a Hess em outubro de 2023 até quinta-feira. Para a Exxon, cujo preço das ações subiu menos de 1% nesse período, havia comparativamente pouco a perder.
O preço das ações da Chevron subiu cerca de 2% no início das negociações na sexta-feira. As ações da Exxon caíram ligeiramente.
A disputa estava enraizada nas minúcias de um contrato que nunca foi tornado público.
O desenvolvimento na Guiana é uma parceria entre três empresas. A Exxon opera o projeto e detém a maior participação, seguida pela Hess e pela CNOOC, uma empresa petrolífera estatal chinesa. O projeto é considerado um dos mais promissores do mundo e espera-se que sozinho produza cerca de 1% do petróleo mundial em poucos anos, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês).
A Exxon afirmou que a Hess não poderia se vender sem primeiro dar à Exxon a oportunidade de comprar sua participação no empreendimento. A Chevron e a Hess sustentaram que a Exxon não estava interpretando corretamente os termos da parceria na Guiana.
Com as empresas incapazes de chegar a um acordo, o destino do negócio acabou nas mãos de um painel de árbitros que ouviu o caso a portas fechadas no final de maio. O caso envolveu os três parceiros do projeto, o que significa que a Chevron tecnicamente não era parte do processo.
Wirth descreveu a decisão dos árbitros como confirmando "uma prática e entendimento de longa data de que os direitos de preferência em nível de ativos não se aplicam em transações de fusão e aquisição de empresas controladoras".
A CNOOC disse estar decepcionada com a decisão do painel de arbitragem, e a Exxon afirmou discordar dela.
"Damos as boas-vindas à Chevron no empreendimento e esperamos continuar com desempenho líder do setor e criação de valor na Guiana para todas as partes envolvidas", disse um porta-voz da Exxon em comunicado.
Em Wall Street, analistas expressaram alívio pelo fim dessa longa disputa entre as maiores petrolíferas americanas.
"Acho que agora sabemos e podemos seguir em frente depois dessa novela", escreveram analistas do RBC Capital Markets em nota aos investidores.
A Chevron está no meio de um esforço de redução de custos que deve encolher sua força de trabalho em 15% a 20%. Isso não inclui os funcionários que ganhará da Hess.
Wirth disse nesta sexta que a Chevron logo fornecerá orientações mais específicas sobre quantos funcionários a empresa combinada manterá. "Normalmente, em uma transação como esta, há sobreposições", afirmou ele.
A aquisição da Hess dá à Chevron impulso durante um período complicado para os produtores de petróleo e gás.
O governo Trump está atendendo às empresas de combustíveis fósseis ao eliminar regulamentações, conceder-lhes mais benefícios fiscais e tornar mais caro o desenvolvimento de alternativas como energia eólica e solar. Mas o presidente Donald Trump tem sido muito claro que prefere que o petróleo seja barato, e está conduzindo uma guerra comercial que tem ajudado a torná-lo assim.
Os preços do petróleo caíram devido a preocupações de que barreiras comerciais mais altas desacelerariam o crescimento econômico, significando menos pessoas voando, dirigindo para o trabalho e transportando materiais pelo mundo. Energia barata é boa para os consumidores, mas ruim para os resultados financeiros das petrolíferas.
O principal preço do petróleo nos EUA estava sendo negociado em torno de US$ 67 por barril na manhã de sexta, cerca de US$ 10 mais baixo do que logo antes de Trump assumir o cargo.