O que cérebros humanos, placentas e respiração de golfinhos têm em comum? Sinais de poluição plástica na forma de partículas minúsculas conhecidas como microplásticos. O oceano também está poluído, e o problema pode ser ainda maior do que se pensava anteriormente.
Um estudo publicado nesta quarta-feira (9) na revista científica Nature estima que o volume de nanoplásticos, que são ainda menores que os microplásticos e invisíveis a olho nu, seja de pelo menos 27 milhões de toneladas métricas nos mares do Atlântico Norte —mais do que o peso de todos os mamíferos terrestres selvagens.
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"Já analisei plástico em lagos suecos, em ar urbano e muito remoto, mas isto foi diferente", disse Dusan Materic, chefe de um grupo de pesquisa sobre microplásticos e nanoplásticos no Centro Helmholtz para Pesquisa Ambiental, na Alemanha, e um dos autores principais da análise. "É uma parte ausente da história dos plásticos que estamos respondendo aqui."
Nanoplásticos são fragmentos microscópicos menores que um micrômetro, aproximadamente do tamanho de pequenas bactérias.
"As pessoas estavam preocupadas com nanoplásticos na água do oceano, mas não tinham a tecnologia para ver como eles realmente se pareciam", disse Tengfei Luo, professor de engenharia na Universidade de Notre Dame que não esteve envolvido no novo estudo. No ano passado, Luo foi autor de outro estudo na revista Science Advances, o primeiro a encontrar com sucesso nanoplásticos na água do oceano e mostrar como eles se pareciam.
"Todos esperávamos nanoplásticos, a parte surpreendente é a quantidade", disse Sophie ten Hietbrink, estudante de doutorado na Universidade de Estocolmo, na Suécia, e autora principal do estudo.
Ela passou quatro semanas em uma expedição de barco coletando amostras de água ao longo de quase 3.500 milhas náuticas de costas e oceano aberto perto da Europa, liderada por Helge Niemann, professor da Universidade de Utrecht e cientista do Instituto Real Holandês para Pesquisa Marinha.
Os frascos de água foram primeiro secados em uma câmara de evaporação, deixando apenas um resíduo salino, que foi então aquecido. Em temperaturas mais altas, fragmentos de plástico queimaram e liberaram suas moléculas fedorentas e características. Os pesquisadores usaram espectrometria de massa para identificar os compostos e medir sinais associados a diferentes tipos de plástico.
"Plástico queimado é fedorento para nós, mas também libera uma impressão digital detectável pelo espectrômetro de massa", disse Materic. "Precisávamos estar absolutamente confiantes de que o que víamos era um sinal de nanoplástico e não outra coisa."
A poluição plástica tende a flutuar perto da superfície e se acumular em grandes correntes oceânicas rotativas conhecidas como giros. Os pesquisadores descobriram que os nanoplásticos estavam mais concentrados perto das costas e próximos à superfície da água, mas detectaram o poluente em até 4.500 metros de profundidade.
O estudo encontrou uma concentração média de nanoplásticos perto das costas de 25 miligramas por metro cúbico de água —aproximadamente o peso de uma pena grande de pássaro.
Os nanoplásticos são pequenos o suficiente para facilmente se infiltrarem nos corpos dos seres vivos, disse Luo. Para peixes e outros animais que vivem no oceano, isso significa uma exposição constante que se acumula ao longo do tempo.
"Não acho que os humanos serão capazes de parar de usar plásticos tão cedo, mas é importante ter um melhor gerenciamento dos resíduos plásticos", disse Luo.
Em agosto, representantes de mais de cem países se reunirão em Genebra para a reunião final do esforço das Nações Unidas para combater a poluição plástica global.