A Britânia Eletrodomésticos, dona das marcas Britânia e Philco, demitiu neste mês 860 funcionários da sua fábrica em Manaus. Com sede em Curitiba, a empresa tem outras duas fábricas, em Joinville (SC) e Linhares (ES). O corte representa cerca de um terço (32%) do pessoal da unidade manauara e 9% do total de funcionários diretos da companhia, que emprega cerca de 10 mil pessoas.
A fábrica de Manaus é dedicada apenas à produção de aparelhos Philco, marca americana que está no Brasil desde 1934, mas que só passou às mãos da Britânia em 2007, depois de pertencer à Itautec e à Gradiente. Na unidade, são fabricados aparelhos de ar-condicionado, micro-ondas e televisores.
De acordo com a Britânia, trata-se de "um processo de reestruturação pontual", uma vez que a projeção de vendas para o ano precisou ser refeita, em especial envolvendo a produção de ar-condicionado, que a empresa classifica como produto sazonal.
"Mesmo com a estabilidade nas vendas dos produtos produzidos em Manaus, avaliando o cenário atual e a estrutura da empresa, identificamos a necessidade de ajustes operacionais —o que inclui, infelizmente, a redução do quadro de colaboradores, a fim de manter a sustentabilidade do negócio", afirmou à Folha, em nota.
Segundo a Britânia, a decisão não envolve outras unidades do grupo e "reflete exclusivamente o cenário pontual da planta de Manaus".
A decisão pegou funcionários e sindicato de surpresa. "É o maior corte da Zona Franca de Manaus nos últimos três anos", diz Valdemir Santana, presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores) do Amazonas e presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do estado. "O polo industrial tem crescido: eram 96 mil funcionários em 2022 e hoje são 132 mil", afirma.
Conforme dados das consultorias Euromonitor e GfK, que auditam as vendas nos setores de eletroeletrônicos e eletrodomésticos, os segmentos de ar-condicionado e micro-ondas vêm crescendo, enquanto o de TV apresenta estabilidade.
O mercado de ar-condicionado, por exemplo, movimentou R$ 10,3 bilhões no ano passado no Brasil, uma alta de 15,4% na variação anual, segundo a Euromonitor. Para este ano, está previsto um aumento de 7,7%, para R$ 11,1 bilhões.
Em micro-ondas, de acordo com a GfK, houve aumento de 19,1% nas vendas em unidades em 2024 e 12,8% só nos primeiros cinco meses deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado. Trata-se de um segmento que faturou R$ 1,7 bilhão em 2024, indica a Euromonitor.
O mercado de televisores vem se mostrando estável, uma vez que está prevista a mudança de tecnologia em breve, para a TV 3.0. Faturou R$ 19,2 bilhões no ano passado (alta de 4,7% na comparação anual) e deve avançar 3,8% este ano, para R$ 19,9 bilhões, informa a Euromonitor.
Em unidades, de acordo com a GfK, houve aumento de 4,7% na venda de televisores no ano passado e ligeira queda de 0,8% entre janeiro e maio deste ano, frente ao mesmo período de 2024.
De capital fechado, a Britânia não divulga balanço financeiro. A pedido da Folha, a plataforma Klooks, que compila dados públicos de empresas, estimou o faturamento anual do grupo entre R$ 1,5 bilhão e R$ 2 bilhões, com base em informações públicas de empresas de mesmo porte.
Folha Mercado
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A Philco foi pioneira na produção de televisores no país, na década de 1950. Lançou a primeira TV com controle remoto, em 1960, e os primeiros aparelhos em cores, nos anos 1970, período em que chegaram os primeiros micro-ondas ao mercado brasileiro.
Em nota, a Britânia afirmou ter contado com o apoio do sindicado dos trabalhadores de Manaus para "alinhar um acordo coletivo e tratar o tema com muito cuidado e o menor impacto possível".
"Todos os profissionais desligados receberão, além dos direitos legais, benefícios adicionais como a continuidade do plano de saúde até o final de agosto ou até o final da projeção do aviso prévio. Será realizada a entrega de cestas básicas, sendo três [cestas] para empregados com até dois anos de contrato de trabalho e quatro cestas básicas para quem tem mais de dois anos na empresa."