O presidente da Comissão de Controle de Atividade de Inteligência do Congresso Nacional, deputado federal Filipe Barros (PL-PR), afirmou nesta quarta-feira (2) que o colegiado avalia chamar o ministro da Casa Civil, Rui Costa, para tratar da "Abin paralela" e da suposta espionagem contra o Paraguai.
Nesta quarta, a comissão ouviu o diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Luiz Fernando Corrêa. Ele foi indiciado pela Polícia Federal sob suspeita de interferência nas investigações que envolvem o governo Jair Bolsonaro (PL).
A reunião com Corrêa foi restrita a integrantes da comissão. Após a audiência, Barros disse que os parlamentares ficaram satisfeitos com as explicações e que o diretor-geral respondeu todas as perguntas.
"O que eu posso dizer para vocês, vocês sabem que a reunião era secreta, é que todos os deputados e senadores que estavam presentes se sentiram muito satisfeitos com as respostas", afirmou o deputado.
Ele disse que Corrêa também respondeu sobre a revelação de que a Abin teria hackeado autoridades paraguaias do alto escalão em meio à negociação dos valores pagos ao país vizinho pela energia de Itaipu Binacional.
A suposta ação veio à tona a partir do depoimento de um servidor da Abin à PF no âmbito do inquérito da "Abin paralela". O governo Lula nega e diz que a ação foi autorizada em junho de 2022 pelo governo Bolsonaro, mas tornada sem efeito em março de 2023.
Servidores da Abin pedem a demissão de Corrêa e pressionam pela convocação do ministro da Casa Civil, ao qual a agência está subordinada desde o começo do governo Lula (PT).
A Intelis, associação que representa os servidores do órgão, entregou panfletos aos parlamentares contra o que chamam de "deterioração institucional da inteligência de Estado". Oficiais também ficaram na porta da sala durante as cerca de duas horas de audiência.
"O que está acontecendo? Servidores sem qualquer relação com a 'Abin paralela' foram expostos, colocando em risco suas vidas e carreiras. Nenhuma medida foi tomada para protegê-los", diz o panfleto distribuído no Congresso nesta quarta.
A categoria critica a exposição indevida de nomes de oficiais de inteligência no relatório da "Abin paralela", uma vez que os servidores têm direito ao sigilo funcional —em publicações no Diário Oficial da União, por exemplo, a identificação é feita pelo número de matrícula.
Nomes e telefones celulares de oficiais que não foram indiciados também foram expostos no relatório produzido pela PF e tornado público no mês passado por decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.
A avaliação entre profissionais é de que nem Corrêa nem o ministro da Casa Civil agiram politicamente para preservar as identidades.
O diretor-geral e a Abin não se manifestaram publicamente sobre o indiciamento. Além de Corrêa, foram indiciados o chefe de gabinete dele, o delegado da PF Luiz Carlos Nóbrega Nelson, e o corregedor-geral da agência, o também delegado José Fernando Moraes Chuy.
No último dia 24, a Intelis aprovou indicativo de greve e decidiu acionar a Justiça para pedir o afastamento do diretor-geral.