A guerra de Israel em Gaza não é um genocídio. É uma guerra por uma causa justa, a eliminação de uma organização terrorista cruel, fanática e potencialmente genocida que oprime seu próprio povo, mantém reféns inocentes e representará um grave perigo para o Estado de Israel enquanto estiver no poder.
O devastador número de vítimas civis da guerra está inextricavelmente ligado à recusa desse governo terrorista em obedecer às leis da guerra, sua relutância em se render, não importa quanto seu próprio povo sofra, sua disposição em aceitar a fome em vez de abrir mão do controle da ajuda humanitária, sua inclinação em deixar as negociações de cessar-fogo se prolongarem indefinidamente na aparente esperança de que a pressão internacional o salve da derrota.
Mas apesar de todas essas realidades, apesar da responsabilidade fundamental que o Hamas carrega por todos os horrores do conflito que iniciou em 7 de outubro de 2023, a condução da guerra por Israel neste momento é injusta.
Pode-se ter uma causa justa, o inimigo pode ser perverso, brutal e principalmente responsável pelo saldo do conflito, e ainda assim —sob qualquer teoria coerente de guerra justa— existe a obrigação de se abster de certas táticas se elas criarem danos colaterais excessivos, de mitigar certas formas previsíveis de sofrimento civil e de ter uma estratégia que faça o resultado da guerra valer o custo.
Estes são testes nos quais Israel está fracassando. O primeiro é o mais difícil de avaliar, porque toda guerra prolongada produz inevitável sofrimento civil, e uma guerra urbana contra um inimigo entrincheirado terá crueldades que não podem ser eliminadas. Tal guerra não pode ser travada exclusivamente com ataques de precisão, os soldados que a combatem não podem ser impedidos de cometer erros terríveis, e crimes de guerra são inevitavelmente cometidos mesmo em conflitos justos. Portanto, não há como olhar para os escombros em Gaza e as estimativas de mortes e oferecer uma prova matemática de que Israel está falhando em exercer contenção adequada. Eu apenas acredito que seja verdade.
Lá Fora
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Mortes por fome são uma questão mais clara, por isso a ameaça de inanição está levando até alguns dos mais fortes apoiadores de Israel a advertir seu governo de que algo precisa mudar. Aqui, Israel fez uma escolha estratégica, tentando separar a distribuição de alimentos de um sistema que, segundo argumenta, o Hamas estava explorando para seus próprios fins. Mas se sua escolha estratégica leva crianças a morrerem de fome quando há comida disponível para alimentá-las, então uma nação civilizada precisa fazer uma escolha diferente —mesmo que isso facilite as coisas para seus inimigos em algum grau.
É verdade que esse tipo de argumento pressupõe a importância de limites morais que os Estados Unidos, em suas guerras contra inimigos bárbaros, nem sempre observaram. Recomendo minha recente conversa em podcast com meu colega Bret Stephens para uma discussão mais longa sobre esses pontos, mas basta dizer que acredito que certas ações dos EUA na Segunda Guerra Mundial foram intrinsecamente imorais, incluindo o bombardeio incendiário de Dresden e o uso da bomba atômica contra centros populacionais japoneses. E obviamente nem todos concordam com essa perspectiva. A ideia de que uma nação civilizada deve deixar de lado uma arma que poderia ajudar a encerrar uma guerra, especialmente contra um inimigo fanático que mostra poucos sinais de caminhar para um tipo normal de rendição, é uma que a maioria dos americanos que lutaram na Segunda Guerra Mundial teria compreensivamente rejeitado.
Mas isso nos leva à terceira maneira pela qual a condução da guerra por Israel parece atualmente injusta. Não era certo que a estratégia de guerra total da América contra a Alemanha nazista e o Japão imperial traria aquele conflito a um fim estável e pacífico, mas o fato de que isso aconteceu ajudou a inocentar os formuladores de políticas americanos —porque parte da justiça de uma guerra depende de se você tem um plano razoável para a paz.
Esse tipo de plano ainda parece ausente quase dois anos após o início da guerra em Gaza. Respeito a névoa da guerra e estou aberto à possibilidade de que um resultado decente surgirá. Talvez realmente exista um ponto de inflexão na degradação do Hamas além do qual ele será incapaz de se reconstituir, momento em que uma abordagem multilateral, liderada pelos árabes, para reconstruir Gaza se tornará uma opção realista. Talvez os efeitos secundários dos golpes de Israel contra o Hezbollah e o Irã estejam abrindo opções diplomáticas que ainda não foram totalmente exploradas.
Mas neste momento, se eu estivesse prevendo um desfecho para o conflito, envolveria Israel finalmente recuando por exaustão, isolando novamente a Faixa de Gaza, observando lutas sangrentas pelo poder se desenrolarem em uma Gaza isolada e aceitando que algum tipo de ameaça terrorista será abrigada lá por anos.
Se esse for o resultado, então continuar lutando por mais um ano para chegar a esse ponto é um desperdício injusto de vidas. Alternativamente, se existe um caminho do número de mortes de hoje para a paz duradoura de amanhã, então Israel precisa que seus amigos o vejam e acreditem nele —e logo.