O delegado da Polícia Federal (PF) Fábio Shor, responsável pelo inquérito do caso da trama golpista de 2022, afirmou ao STF (Supremo Tribunal Federal) que envolvidos na organização criminosa investigada ficaram "muito preocupados" quando policiais encontraram na residência de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, uma minuta golpista.
Shor prestou depoimento nesta segunda-feira (21) como testemunha indicada pelas defesas de Filipe Martins e Marcelo Câmara, ex-assessores da Presidência.
"A partir do momento que se torna pública, os integrantes da organização criminosa começaram a ficar muito preocupados com a divulgação. Inicialmente, Felipe Martins fica receoso, demonstra realmente que estava preocupado. [O ex-presidente Jair] Bolsonaro encaminha ao [ex-ajudante de ordens Mauro] Cid, que fica preocupado e só entra em contato com duas pessoas: Marcelo Câmara e Filipe Martins", relata.
O delegado já foi alvo de diversos ataques de bolsonaristas, incluindo parlamentares.
Em agosto de 2024, o hoje deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) fez ataques ao ministro do STF Alexandre de Moraes e ao delegado. O parlamentar pediu a palavra na tribuna da Câmara dos Deputados e leu um discurso inflamado. Marcel Van Hattem (Novo-RS) e Gilberto Silva (PL-PB) também fizeram falas ofensivas a Moraes e Shor.
O delegado da PF afirmou ao STF que o documento encontrado na casa de Anderson Torres teria sido a última versão de minuta golpista identificada pela investigação.
Em 12 de janeiro de 2023, a PF encontrou o documento com proposta de decreto para o então presidente Jair Bolsonaro (PL) instaurar estado de defesa na sede do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Em depoimento também como testemunha na última terça (15), o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, voltou a afirmar que contratou um instituto e, posteriormente, entrou com ação no TSE na qual colocava em dúvida as urnas eletrônicas e o resultado do segundo turno das eleições de 2022 por pressão de parlamentares.
Segundo Shor, a minuta tinha um propósito conjunto com o processo levado à Justiça Eleitoral.
"O objetivo era o PL entrar no TSE e a partir disso, validar as informações falsas que constavam naquela ação do grupo", disse.
Em outro momento do depoimento, o delegado da PF respondeu vários questionamentos da defesa de Martins sobre uma controvérsia acerca da ida aos EUA de Filipe Martins.
O ex-assessor passou seis meses em prisão preventiva decretada por Moraes com base em elementos apontados pela PF e pela PGR (Procuradoria-Geral da República) e sempre contestados por sua defesa.
Martins foi preso no início do ano passado após a PF identificar que o nome dele constava na lista de passageiros que embarcariam com destino ao exterior na comitiva presidencial. O documento foi encontrado em mídia do delator Mauro Cid, conforme narra relatório da corporação.
Com base nisso, em um primeiro momento, Moraes decretou a prisão. Na última segunda-feira (14) Cid afirmou ao STF que Martins não constava na lista final de passageiros do voo que levou o ex-presidente aos Estados Unidos no fim de 2022.
Segundo Shor, no entanto, a ida ou não do assessor não foi central para a construção do relatório sobre a investigação.
"Foram vários atos que embasaram o pedido de prisão. Atos que nós entendemos naquele momento que eram atos para impedir a aplicação da lei penal. E, nesse contexto, foi verificado que ele utilizou um passaporte que o próprio Felipe Martins alegou que teria se extraviado em 2021. E, coincidentemente, esse mesmo passaporte foi utilizado para fazer um registro de entrada nos Estados Unidos, na mesma cidade, na mesma data, no mesmo dia, no mesmo momento que a comitiva presidencial chegou nos Estados Unidos", disse o delegado.