O empresário e jornalista Paulo Figueiredo, ex-sócio de Donald Trump e aliado da família Bolsonaro, afirma que haverá mais sanções econômicas ao Brasil pelos EUA caso o país não resolva o que considera ser uma "ameaça às liberdades individuais" pelo Supremo Tribunal Federal.
Em entrevista ao Painel S.A., Figueiredo assumiu desempenhar papel ativo na interlocução com a Casa Branca e parentes de Donald Trump na costura de uma saída para a situação do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Durante a entrevista, ele recebeu uma ligação que disse ter sido de Eduardo Bolsonaro, informando que o STF mandou bloquear as contas de sua mulher [Heloísa Wolf].
Figueiredo afirmou, na sequência, que teria de avisar o Departamento de Estado norte-americano sobre essa nova medida do ministro Alexandre de Moraes.
Ele também disse que o Congresso poderia resolver esse impasse com Trump em torno das tarifas de 50% sobre produtos brasileiros caso aprovasse a Proposta de Emenda Constitucional da anistia.
"É exatamente isso que a gente vem dizendo desde o dia que foi publicada a tarifa. A única solução para que se inicie uma conversa é a aprovação da lei da anistia. Ou sigam o processo de condenação do Bolsonaro, mas permitam que o Congresso pacifique o país [com a tramitação do projeto de lei da anistia]. Esse é o caminho. Não há outro", disse.
O empresário afirmou que, inicialmente, ele e Eduardo Bolsonaro pediram ao governo norte-americano sanções pessoais aos ministros do STF. No entanto, assume que ambos sabiam das ferramentas de retaliação que poderiam ser usadas contra o Brasil.
"Antes de chegarmos para conversar, estávamos cientes de todas as armas do arsenal da política externa americana. Sabemos que os EUA não puxaram ainda nem um décimo do que podem fazer com o Brasil, caso continue adotando essa política insana", disse.
"Mas nós não fomos consultados se essa era a melhor estratégia. Toda vez que nos perguntavam, nosso entendimento era o de que o melhor a ser feito era a aplicação de sanções individuais, primeiro ao Alexandre de Moraes e, em sequência, aos demais ministros. No final, foi uma decisão pessoal dele [Trump]. Ele falou: ‘vamos começar com uma tarifa de 50%’."
Questionado sobre a transferência desse ônus para os brasileiros, inclusive empresários apoiadores de Bolsonaro, Figueiredo considera que "a avaliação do presidente [Trump] foi de que existe uma elite política e financeira que dá um apoio ao Alexandre de Moraes e precisa arcar também com o custo desse regime no Brasil".
Sobre a impossibilidade de o presidente Lula interferir no STF, onde tramita o processo contra os envolvidos nos ataques de 8 de janeiro e a participação do ex-presidente Jair Bolsonaro na trama golpista, Figueiredo negou ter havido a tentativa de golpe.
"O que estão chamando de tentativa de golpe é o presidente [Bolsonaro] ter avaliado o que a Constituição dizia que podia ser feito no caso do Alexandre de Moraes ter dado um golpe. Houve um golpe de estado no Brasil em 2022 e ele foi dado pelo Alexandre de Moraes", disse.
"Hoje o Brasil é visto pelo governo Trump da mesma forma como a Venezuela. É mais suave o que fizeram com a María Corina do que o que fizeram com Bolsonaro", disse.
Corina Machado é uma política venezuelana que, em 2023, liderou as pesquisas de intenção de voto à presidência do país e foi proibida de ocupar cargos públicos durante a campanha. Foi presa após protesto contra a posse de Nicolás Maduro.
Hora da resposta
Figueiredo afirmou ainda que, a depender da resposta do Brasil, haverá mais embargos.
"[Será] A empresas brasileiras, a determinados produtos estratégicos, restrições ao sistema financeiro brasileiro, pode ter ainda um aumento de tarifa para 100%. Em última instância, o fim da cooperação militar do Brasil com os EUA."
Ex-sócio de Trump em um hotel do Rio de Janeiro, Figueiredo foi alvo de uma operação da Polícia Federal, a Circus Maximus, que investigou um suposto esquema de propina do BRB junto a fundos de pensão para financiar o empreendimento.
Ele chegou a ser preso em Miami (EUA) e teve contas bloqueadas. Pouco antes, Trump retirou-se do negócio porque, segundo Figueiredo, já tinha planos políticos. Em 2020, o desembargador Ney Bello concedeu um habeas corpus e extinguiu a ação penal por falta de provas.
O empresário foi solto e transferiu-se definitivamente para os EUA, onde mora com a família.
Ele disse que mantém participação no empreendimento hoteleiro, hoje operado por outra bandeira.
Com Stéfanie Rigamonti