Diferentes gerações tentam reagir aos impactos da mudança do clima em áreas como a saúde, o trabalho e a defesa de direitos fundamentais. As transformações causadas pelo aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera obrigam a criar iniciativas voltadas a crianças e idosos, alteram processos na produção agrícola e motivam novas formas de organização política.
Em Parelheiros, no extremo sul de São Paulo, o calor excessivo e a chuva levaram agricultores familiares a trocar o cultivo de hortaliças por frutas, antes inviáveis na região. No sul da Bahia, a agricultura orgânica se tornou uma alternativa para a nova geração de produtores de cacau, que tiveram queda no cultivo dos últimos anos devido à seca intensa.
A agrofloresta também foi aposta de palmiteiros do Vale do Ribeira (SP). A região, antes alvo da extração predatória do palmito-juçara, se tornou referência em conservação ambiental, mas enfrenta efeitos das mudanças do clima.
Além da renda, essas alterações impactam na saúde da população. Nas regiões costeiras, a combinação entre aumento da temperatura e umidade do ar deixa idosos mais vulneráveis a problemas como queda de pressão, desidratação e hipertermia.
Na outra ponta, crianças e adolescentes sofrem com o "transtorno de déficit de natureza", segundo especialistas. O termo chama atenção para os impactos causados na saúde física e mental devido à falta de tempo ao ar livre e em áreas verdes, que tendem a diminuir ainda mais em períodos de calor extremo.
A vida urbana em meio ao concreto também dificulta que as novas gerações de indígenas pankararus mantenham vivas suas tradições em São Paulo. Já na aldeia Brejo dos Padres, em Pernambuco, local originalmente habitado por eles, a escassez de plantas nativas essenciais à confecção de trajes rituais ameaça práticas centrais da cultura pankararu.
Embora sejam importantes agentes para incentivar a reciclagem e mitigar os efeitos do clima, catadores enfrentam preconceito e baixa remuneração. As mulheres são a maioria da força de trabalho e assumiram a linha de frente de cooperativas e redes de reciclagem.
Há transformações ainda nas formas de protesto contra o avanço das mudanças climáticas. Enquanto jovens ativistas apostam nas redes sociais como principal ferramenta de conscientização, gerações mais antigas sentem saudades da militância de rua e temem os efeitos pouco práticos das novas tecnologias.
O caderno destrincha alguns dos principais efeitos das transformações do clima na vida da população e a forma como diferentes gerações são impactadas.
As reportagens foram feitas pelos 20 participantes do Treinamento em Jornalismo Diário com Ênfase em Meio Ambiente, patrocinado pela CNA (Confederação Nacional da Agricultura) e pela Philip Morris Brasil. É a 69ª turma do Programa de Treinamento em Jornalismo Diário da Folha.