O ex-diretor financeiro do Itaú Alexsandro Broedel, acusado de fraude pelo banco em um escândalo de forte repercussão no ano passado, preparou sua estratégia de defesa em que diz ter sido vítima de uma história mentirosa criada pela instituição financeira. O objetivo seria constrangê-lo e difamá-lo, além de promover um "assassinato profissional" para impedi-lo de ir trabalhar no Santander, onde assumiria o cargo de diretor global de contabilidade.
Após a divulgação do caso, ele ficou sem o emprego, o Itaú levou as acusações à Justiça paulista, e a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) abriu um processo para apurar o episódio.
Parte da argumentação da defesa de Broedel, segundo informações às quais a Folha teve acesso, inclui uma acusação de que o Itaú teria deixado de pagar ao executivo uma quantia em torno de R$ 15,5 milhões referentes à sua remuneração variável de 2024, porque ele teria descumprido regras relativas à quarentena. Ele quer receber o valor.
Ao rebater as acusações contra Broedel na Justiça, um dos pontos principais de sua defesa se apoia no acordo homologado na Justiça de São Paulo no mês passado entre o Itaú e o contador Eliseu Martins para encerrar um processo que envolvia a cobrança de pareceres contábeis e consultorias que não teriam sido entregues.
Pelo acordo, Martins se comprometeu a pagar R$ 2,5 milhões para encerrar o caso, montante que se somava a R$ 1,5 milhão que já havia sido devolvido ao Itaú. Reconhecido como um dos maiores contadores do país, ele é ex-diretor do Banco Central, da FEA-USP e da CVM.
Seus filhos Eric Martins e Vinícius Martins, ambos sócios do contador em duas empresas separadas, também eram acusados pelo Itaú, mas foram retirados do processo após o acordo, considerado pelo banco como confissão.
O recuo do Itaú em relação à participação dos filhos de Eliseu Martins, que estavam no alvo da primeira onda de denúncias, é apontado nos argumentos de defesa de Broedel como um indicador de que o banco os acusou falsamente, por cálculo estratégico, com o objetivo de criar constrangimento e pressionar o pai a assinar o acordo.
Folha Mercado
Receba no seu email o que de mais importante acontece na economia; aberta para não assinantes.
Em dezembro de 2024, o banco anunciou, em ata de assembleia geral que Broedel violou políticas internas da instituição e a legislação ao agir em "grave conflito de interesses e em benefício próprio" em parceria com Eliseu Martins, que fornecia pareceres ao banco.
O Itaú levou o caso à Justiça acusando o executivo de desvio de poder e gestão abusiva, conflituosa e irregular por supostamente embolsar parte de pagamentos a serviços contratados para a instituição financeira.
Ainda segundo o banco, Broedel omitiu a seu empregador que possuía uma sociedade com Eliseu Martins, mas a defesa do agora ex-CFO deve contestar a acusação na Justiça, afirmando que a Broedel Consultores, sua empresa em sociedade com o contador, foi declarada ao Itaú em formulários, aos quais o banco estaria lhe negando acesso.
Além disso, a defesa do ex-executivo argumenta que a sociedade também poderia ser facilmente encontrada em uma consulta no Google, no Serasa ou por meio de sistemas automatizados do banco, que detectariam a informação da existência de um relacionamento societário. Já as transferências de recursos entre Broedel e Martins anunciadas pelo Itaú seriam acertos de negócios e mútuos e não comissionamento pela contratação do contador sem o conhecimento do banco.
Procurado pela reportagem, o Itaú afirma que a ação judicial movida contra Broedel é baseada em fatos devidamente comprovados nos autos, não sendo motivada por conjecturas ou qualquer tipo de retaliação.
"O banco desconhecia a existência de sociedade de fato entre o ex-diretor financeiro e Eliseu Martins, uma vez que Broedel negou, por meio de formulário de compliance preenchido anualmente, ter qualquer 'tipo de relação com fornecedores, prestadores de serviço ou parceiros comerciais do banco'", disse em nota.
Ainda conforme o comunicado enviado pelo Itaú, tal declaração foi desmentida pela confissão posterior de Eliseu Martins, que admitiu ter repassado 40% dos valores pagos à Care Consultores –empresa da qual ele e seu filho Eric são sócios– diretamente a Broedel, que era responsável por solicitar os pareceres e aprovar os pagamentos, inclusive aqueles contratados pelo próprio Itaú Unibanco".
O banco diz também que tem um robusto ecossistema de políticas e processos de ética e compliance e que não houve falhas internas nesse aspecto.
Também procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa de Broedel afirma que sua defesa foi protocolada em segredo judicial nos autos.
Em manifestações anteriores enviadas à imprensa, ele disse que "sempre se conduziu de forma ética e transparente em todas as atividades ao longo dos seus 12 anos no banco –algo nunca contestado pelo Itaú, que tem uma rigorosa e abrangente estrutura de controle e compliance, própria de um grupo financeiro com seu porte e importância".