O controverso plano de criar uma "cidade humanitária" na região de Rafah, que hoje está em ruínas, para abrigar toda a população da Faixa de Gaza, seria como um campo de concentração, disse o ex-primeiro-ministro de Israel Ehud Olmert.
A declaração foi dada em entrevista ao jornal The Guardian no domingo (13) e gerou críticas do governo do atual premiê Binyamin Netanyahu.
"É um campo de concentração. Sinto muito", disse Olmert. "Se eles [palestinos] forem deportados para essa nova ‘cidade humanitária’, então pode-se dizer que isso faz parte de uma limpeza étnica."
A ideia foi anunciada na semana passada pelo ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, que disse ter instruído as Forças Armadas do país a preparar um plano que deve envolver inicialmente o deslocamento de 600 mil palestinos.
Katz disse que as pessoas deverão passar por uma triagem de segurança para entrar e, a partir de então, não terão permissão para sair.
"Quando constroem um campo em que [planejam] 'limpar' mais da metade de Gaza, então a compreensão inevitável dessa estratégia [é que] não se trata de salvar [os palestinos]. Trata-se de deportá-los, empurrá-los e descartá-los. Não há outra interpretação possível, pelo menos para mim", disse Olmert.
Ele, que foi primeiro-ministro de Israel de 2006 a 2009, já havia criticado anteriormente a conduta do Exército israelense no conflito contra o Hamas. Em maio, afirmou que não conseguia mais defender Israel diante das acusações de crimes de guerra.
Na entrevista ao The Guardian, o ex-primeiro-ministro ponderou, entretanto, que não considera que a atual campanha de Israel constitua uma limpeza étnica. "Isso ainda não aconteceu", disse.
Ele não é o único a criticar o projeto de deslocamento de palestinos. A agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA) também compara a suposta "cidade humanitária" a um "campo de concentração".
Já o ministro britânico para o Oriente Médio e Norte da África, Hamish Falconer, disse estar consternado com o projeto. "O território palestino não deve ser reduzido. Os civis devem poder voltar às suas casas", escreveu ele na plataforma X.
Segundo a imprensa israelense, o chefe do Estado-Maior, o tenente-general Eyal Zamir, criticou o plano em uma reunião do gabinete de segurança. De acordo com esses relatos, o militar considerou que a iniciativa desviava a atenção dos dois principais objetivos da guerra: eliminar o Hamas e libertar os reféns.
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Ainda assim, as falas de Olmert foram duramente criticadas por Netanyahu. Em nota, o governo chamou o ex-premiê de "criminoso condenado que envergonha Israel".
"Evacuamos civis. O Hamas os impede. Ele chama isso de crime de guerra?", questionou a nota, em referência ao fato de Olmert ter sido condenado a 2 anos e 3 meses de prisão por fraude. Ele foi solto no início de 2017.
A ideia anunciada por Israel prevê a construção do espaço durante o cessar-fogo de 60 dias que está em negociação entre o governo de Netanyahu e o grupo terrorista Hamas.
Com esse plano, os militares seriam responsáveis pela segurança de todo o perímetro, mas não administrariam o local nem promoveriam entrega de ajuda humanitária.
Katz afirmou que Israel busca Estados parceiros para a administração da nova zona, que a princípio tem seu plano coordenado pelo diretor-geral do Ministério da Defesa e ex-vice-chefe do Estado-Maior, Amir Baram.
Entidades humanitárias internacionais já criticaram as ações e planos de Israel, descrevendo-os como deslocamento forçado.