Formosa Hi-Fi, bar de vinis com som de alta-fidelidade, abre embaixo do Viaduto do Chá

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É um bar de drinques, mas a estrela da casa é a música. Ainda assim, não há DJs, mas um seletor, que zela pela curadoria do que soa no que promete ser melhor sistema de som da cidade. Assim é o Formosa Hi-Fi, novo bar do empresário Facundo Guerra que abre ao público na quinta (31), na galeria Formosa, embaixo do viaduto do Chá.

Oposto à galeria Prestes Maia, o espaço que abrigará o novo bar foi aberto com o próprio viaduto, em 1938, como uma passagem de pedestres entre a praça Ramos, o vale do Anhangabaú, e os dois lados da rua Xavier de Toledo.

Apesar de tombada pelos três níveis do Patrimônio, mais recentemente a galeria era usada como depósito do Novo Anhangabaú. Mas foi justamente a concessão do vale que, segundo Facundo, destravou as negociações para o aluguel do espaço.

A ideia de fazer um bar de audição de vinis ocupava a cabeça do empresário há pelo menos uma década, quando ele procurou José Augusto Nepomuceno, o arquiteto acústico da Sala São Paulo e do teatro Cultura Artística, para o que seria uma área de audição de alta-fidelidade dentro de uma balada. À época engavetado, o plano agora foi resgatado em sociedade com Alê Youssef e Ale Natacci, do Acadêmicos do Baixo Augusta. A dupla também estava de olho na galeria para reabrir ali a Casa do bloco, que fechou na pandemia, mas optou por unir forças em torno do projeto do Formosa —que, diz Facundo, era o último em sua gaveta.

Apesar de parecer atrasado na onda dos bares de audição (que começou em 2018, com o Caracol, e tomou corpo há dois anos com Domo, Matiz e do Elevado Conselheiro), o Formosa tem como trunfo, além da locação histórica, a altíssima qualidade de som. A ideia é, com isso, ser o ponto de encontro dos audiófilos paulistanos –uma galera que rejeita o som comprimido dos streamings e faz questão de uma experiência sonora que seja a mais próxima possível do som gravado originalmente, sem distorções ou ruídos.

"É um som alto, mas que não te dói o ouvido. Dá para ouvir nuances do vinil que talvez você tivesse esquecido por causa das compressões digitais", diz Nepomuceno, que trabalhou em parceria com os arquitetos Júlio Gaspar e Silvis Oksman. Assim como na Sala São Paulo, ele diz ter tido carta branca para fazer "o melhor que pode haver" em termos acústica.

O acervo da casa tem mais de seis mil discos, entre eles um "Falso Brilhante", trilha sonora do espetáculo que Elis Regina ensaiou na galeria Formosa em 1975. As bolachas vieram das coleções particulares dos sócios e também dos membros do clube da casa.

Por uma mensalidade de R$ 390 (além da doação inicial de três discos), quem faz parte do clube (por enquanto, apenas 100 dos mais de 5 mil inscritos) têm entrada garantida sem fila e ganha um drinque de boas vindas em toda visita. Às quartas, eles também podem apresentar suas coleções com a ajuda do seletor da casa. Já nos outros dias, diz Facundo, a ideia é convidar pessoas notáveis em suas áreas de atuação para apresentarem seus álbuns favoritos. A entrada custará R$ 20.

Toda essa pompa audiófila, entretanto, não deve se refletir em preços exorbitantes no menu. Diferente do próprio Bar dos Arcos, que serve alta coquetelaria do outro lado da rua, no porão do Municipal, no Formosa a ideia é servir uma coquetelaria de entrada, com drinques pré-preparados e servidos on tap, como chope, o que reduz os custos da casa.

Com isso, os preços dos drinques devem ficar "entre os vinte e muitos e os trinta e poucos", diz Facundo que, depois de tantos projetos em que as pessoas se estapeavam para conhecer, desta vez apostou numa estratégia de marketing diferente, convidando seus seguidores a visitarem o novo espaço ainda durante as obras.

"Precisamos quebrar essa coisa antipática da exclusividade", diz. "Eu queria exatamente romper com esse elitismo, que é muito baseado nas redes sociais. Um colecionador de discos de moda caipira que faz parte do clube, por exemplo, é muito mais influencer do que alguém com milhares de seguidores."

A receita extra com o clube de membros também ajuda a baratear a carta, elaborada pela bartender Michelly Rossi, a mesma que assina os drinques mais refinados (e premiados) do Arcos. Já as comidinhas serão inspiradas inspirado no restaurante de culinária brasileira que Mário de Andrade, fundador do modernismo e também do primeiro Departamento de Cultura da cidade, planejou abrir ali na época da inauguração do viaduto.

Com a chegada do Formosa, a fonte dos cavalos da praça Ramos, reformada na gestão João Dória, deve receber mais atenção da administração do Novo Anhangabaú, permanecendo sempre ligada. E a conexão subterrânea entre as calçadas do shopping Light e do futuro Sesc Galeria (no prédio do antigo Mappin, que deve ser parcialmente inaugurado ainda neste ano) será reaberta junto com o bar, inclusive durante o dia, fora do seu horário de funcionamento, servindo de vitrine para artistas independentes.

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