Inflação deve descumprir meta contínua pela 1ª vez; entenda

5 dias atrás 11

A inflação oficial do Brasil deve descumprir oficialmente a meta contínua pela primeira vez na próxima divulgação do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), relativa a junho.

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgará o resultado do mês passado na quinta-feira (10). O modelo de meta contínua entrou em vigor em janeiro de 2025.

No novo sistema, o alvo é considerado descumprido quando a inflação acumulada em 12 meses permanece por seis meses consecutivos de divulgação fora do intervalo de tolerância, que vai de 1,5% (piso) a 4,5% (teto). O centro da meta é 3%.

O IPCA ficou acima de 4,5% no acumulado das cinco primeiras divulgações de 2025. A alta dos preços foi de 5,32% até maio.

Em razão da distância para o teto, o estouro em junho é dado como certo por analistas e também aparece no radar do BC (Banco Central). A meta baliza a condução da política monetária da instituição.

O BC vem aumentando a taxa básica de juros, a Selic, em uma tentativa de conter os preços e de trazer a inflação de volta para o alvo. A Selic chegou a 15% ao ano em junho.

O QUE DIZEM OS ANALISTAS?

Segundo o economista Fábio Romão, da consultoria LCA 4intelligence, o IPCA precisaria de uma "baita" deflação (queda) para ficar abaixo de 4,5% já em junho.

"Não vai acontecer. O IPCA-15 já mostrou isso", diz. Esse índice prévio, também calculado pelo IBGE, subiu 0,26% em junho.

Romão projeta alta de 0,2% para o IPCA do mês passado. Com isso, o acumulado em 12 meses deve ir a 5,31%, diz o economista. Ele prevê inflação abaixo do teto de 4,5% só a partir de setembro de 2026.

Romão ainda vê pressões nos preços de serviços, com a recuperação do mercado de trabalho, e de bens industriais, com os impactos defasados da alta do dólar, enquanto os alimentos deram sinais de alívio recentemente.

A inflação de alimentação e bebidas, o principal grupo do IPCA, desacelerou de 7,81% até abril para 7,33% até maio. Apesar da trégua, o segmento ainda mostrou a maior alta entre os nove que compõem o índice oficial.

"Mesmo que o IPCA registre um junho mais baixo, como o IPCA-15 antecipou, não vai dar tempo de mudar muito a realidade para esses primeiros seis meses. Então, é provável que não cumpra a meta", afirma o economista André Braz, coordenador de índices de preços do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

Braz prevê uma "descompressão gradual" dos alimentos com a entrada de novas safras no mercado. Por outro lado, ele chama a atenção para as incertezas fiscais no Brasil, que podem afetar o câmbio e, consequentemente, a inflação, além de riscos no cenário externo.

O economista trabalha com dois cenários para o IPCA ao final de 2025: um mais otimista, de 4,9%, e outro mais pessimista, de 5,4%. Ambos estão acima do teto de 4,5%.

Folha Mercado

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Até o final de 2024, a meta era guiada pelo ano-calendário, de janeiro a dezembro. A mudança para o modelo contínuo, segundo o BC, está alinhada a experiências internacionais.

"A meta é considerada descumprida se a inflação ficar fora do intervalo de tolerância por seis meses consecutivos. A utilização desse período evita a caracterização de descumprimento em situações de variações temporárias na inflação", diz o BC em seu site.

"Esse é o caso, por exemplo, de um choque em preços de alimentos que faça com que a inflação fique fora do intervalo de tolerância por apenas alguns meses", acrescenta.

A mudança para o sistema contínuo foi formalizada em um decreto assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em junho do ano passado.

Em nota divulgada à época, a Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda indicou que o novo modelo diminui o risco de populismo a partir de medidas que busquem reduzir os preços de forma artificial perto do final de cada ano, apenas com o objetivo de garantir o cumprimento do alvo.

Quando a meta é descumprida, o presidente do BC precisa escrever uma carta aberta ao ministro da Fazenda explicando os motivos.

A última vez ocorreu após a divulgação do IPCA de dezembro de 2024. Foi o oitavo ano em que a inflação ficou fora dos limites definidos desde a adoção do sistema de metas, em 1999.

Com a probabilidade de novo descumprimento, o atual presidente do BC, Gabriel Galípolo, caminha para a sua segunda carta.

"Considerando as projeções mensais, a inflação acumulada em doze meses fica superior ao limite superior do intervalo de tolerância da meta por seis meses consecutivos em junho deste ano", disse o BC no Relatório de Política Monetária divulgado em 26 de junho.

"No caso de concretização desse cenário, se caracterizará descumprimento da meta para a inflação e será necessária a publicação das razões desse descumprimento por meio de nota neste relatório e de carta aberta ao MF [Ministério da Fazenda]", acrescentou.

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