Eles são chamados popularmente de besouros-do-amor ("lovebugs", em inglês), mas ninguém parece amá-los. Na verdade, muitas pessoas na Coreia do Sul querem matá-los.
No mês passado, insetos do tamanho de uma unha começaram a infestar partes de Seul e cidades próximas em pares, acasalando. Espera-se que a infestação termine neste fim de semana, e como os besouros-do-amor não representam riscos à saúde humana, as autoridades optaram por uma abordagem mais suave.
Trabalhadores municipais estão borrifando água nos insetos, e as autoridades aconselharam os moradores a fazerem o mesmo. "Besouros-do-amor não são pragas!", diz o governo de Seul em um vídeo promocional. "Pare de usar pesticidas e proteja a natureza!"
Mas os moradores que são pegos nos enxames, ou que raspam camadas de carcaças de besouros-do-amor de suas vitrines, não conseguem entender por que o inseto de verão mais irritante de Seul está sendo tratado com tanta brandura. Eles querem que as autoridades guardem as mangueiras de jardim e usem veneno.
"Não há nada de benéfico neles", disse Ahn Yeon-sik esta semana enquanto lavava os besouros-do-amor da frente de seu bar em Incheon, cidade vizinha a Seul onde as autoridades também incentivaram a abordagem ambientalmente amigável.
Nas proximidades, um homem tentando sentar-se em um banco espantava os insetos com um pedaço de papelão. Uma pedestre abaixou-se rapidamente para desviar de uma dupla que voava em sua direção.
"Dizem que eles odeiam água, mas não funcionou", disse Ahn, fazendo uma pausa para afastar um do seu pescoço. Ele acrescentou que também os encharcou com spray contra mosquitos e soju, uma bebida alcoólica popular, com pouco efeito.
O humilde besouro-do-amor (Plecia longiforceps) poliniza flores e ajuda a decompor folhas e galhos caídos para enriquecer o solo. Ele não morde nem transmite doenças, dizem os cientistas.
Mas como os besouros-do-amor frequentemente estão unidos em sua característica formação de acasalamento, eles podem parecer ter o dobro do tamanho real. Eles também viajam em grandes enxames que podem ser desagradáveis se cercarem uma pessoa.
Seul teve sua primeira infestação conhecida de besouros-do-amor em 2022 e as pessoas na capital e arredores ainda não se acostumaram com eles. Este ano, autoridades em Seul e Incheon receberam milhares de reclamações de moradores, pedindo que os insetos fossem removidos de suas casas e ruas.
Kim Jae-woong, um soldador, saiu para uma caminhada no fim de semana passado em uma montanha em Gyeyang, um distrito de Incheon. Ele encontrou enxames de besouros-do-amor tão densos que obscureciam sua visão e pilhas de carcaças nas trilhas. Alguns insetos até conseguiram entrar em seus shorts e camiseta.
"Achei que era suportável no início", disse ele. "E então havia insetos mortos no chão e o cheiro era horrível."
Ele disse que os removeu com as mãos para limpar a trilha para outros caminhantes antes de voltar, sacudindo os insetos de seu corpo e retornando para casa.
"Ouvi dizer que eram insetos benéficos. Por que são chamados assim?", disse ele. "Eles têm uma imagem tão desagradável e repulsiva."
Até agora, a maioria das autoridades em Seul e Incheon manteve uma abordagem baseada em água para o controle dos besouros-do-amor. Vários distritos de Seul instaram as pessoas a borrifá-los com água e a evitar usar roupas de cores brilhantes, que poderiam atrair a atenção dos insetos. Pelo menos um distrito alugou pulverizadores para os moradores usarem gratuitamente.
Mas, na terça-feira (1º), autoridades de saúde em Gyeyang cederam à pressão pública ativando caminhões de fumigação. A Coreia do Sul os utiliza rotineiramente contra mosquitos, baratas e outros insetos que realmente ameaçam a saúde pública.
"Não conseguimos lidar com o volume de reclamações", disse Baek Eun-sil, diretora da equipe de prevenção de doenças infecciosas do distrito. "As pessoas disseram que eles eram nojentos demais, assustadores e desconfortáveis para conviver se não os matássemos."
Mesmo a fumigação não ajudou, disse Nam In, que administra uma cafeteria lá. Ele disse que duvidava que as autoridades tivessem algum poder para combater a infestação.
"Eles estão apenas tentando nos apaziguar psicologicamente", disse ele enquanto os besouros-do-amor rastejavam nas janelas e no piso de azulejo de seu café. "O número de insetos está além do controle humano."
O tamanho da infestação é uma incógnita. Parece provável que os insetos entraram na Coreia do Sul em navios vindos do leste da China, disse Seunggwan Shin, professor de biologia da Universidade Nacional de Seul que estuda os insetos. Os ovos ficam em solo úmido e sob folhas durante o inverno antes de emergirem no clima quente.
Nos últimos verões, eles têm se limitado à região ao redor da capital, disse ele. Não está claro como as autoridades poderiam lidar com eles de forma mais eficaz.
Shin disse que o uso de pesticidas poderia permitir que os insetos desenvolvessem resistência, com impactos negativos em seus predadores, como pássaros e louva-a-deus. Sua pesquisa sugere que os besouros-do-amor poderiam ser atraídos para longe com luz.
Enquanto isso, os moradores estão tentando outras abordagens. Um montanhista raspou os besouros-do-amor que estavam agarrados a um corrimão ao longo de uma trilha e os coletou em um pequeno saco plástico.
Ele os levou para casa e os colocou em seu freezer, depois os transformou em um hambúrguer que cozinhou e comeu em um vídeo do YouTube. Ele deu ao seu "hambúrguer de amor" 4,5 estrelas de 5.