Uma investigação interna no Fórum Econômico Mundial, de Davos, aponta que seu fundador Klaus Schwab, 87, teria tido uma má conduta no local de trabalho. As infrações incluiriam gastos não autorizados feitos por ele e sua esposa, comportamento intimidador e tratamento inadequado de funcionárias mulheres, diz reportagem do The Wall Street Journal, que revelou o caso.
A investigação feita pelo comitê de Davos começou em abril, a partir de uma denúncia —quase um ano após uma investigação do próprio Wall Street Journal ter descrito uma cultura tóxica para mulheres e negros na organização.
De acordo com o Wall Street Journal, foram encontradas evidências de que Schwab fez comentários sugestivos e inadequados a uma funcionária. "Você sente que estou pensando em você", teria escrito Schwab em um e-mail de madrugada, em 2020, para uma executiva sênior do Fórum.
Por meio de um porta-voz, Schwab rejeitou a acusação. Ele disse que sempre tratou as mulheres com respeito e que ele e sua esposa nunca buscaram ganhos financeiramente com seus papéis na organização.
Procurado, o Fórum se recusou a comentar.
Folha Mercado
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Depois de 55 anos à frente de Davos, Schwab, renunciou ao cargo durante a Páscoa e não exerce mais nenhum papel no Fórum.
De acordo com os investigadores, Schwab tratava a organização como seu feudo, tolerando assédio e discriminação e recorrendo à intimidação e ao medo para conseguir o que queria, em meio à pouca supervisão por parte do Fórum.
Schwab e sua esposa, Hilde Schwab, registraram mais de US$ 1,1 milhão em viagens, o que os investigadores sinalizaram como questionável, diz o Wall Street Journal.
Os investigadores também apontam cerca de US$ 63 mil em viagens dos Schwabs a Veneza, Miami, Seicheles e outros destinos, com pouca ou nenhuma evidência de negócios envolvidos.
Eles disseram ainda que Schwab recebeu presentes incluindo jogos de chá russos, abotoaduras personalizadas da Tiffany e casacos de pele, em violação às políticas do Fórum.
Segundo a reportagem, o escritório de advocacia suíço conduzindo a investigação, Homburger, irá considerar o posicionamento de Schwab antes de finalizar os trabalhos e, então, irá fazer recomendações aos curadores do Fórum até o final de agosto. Esses, por sua vez, passarão o relatório final às autoridades suíças que supervisionam organizações sem fins lucrativos e discutirá se deve encaminhar o relatório aos promotores, dizem pessoas familiarizadas com seus planos.
Schwab, por meio de seu porta-voz, diz que confiou aos assistentes separar os custos de viagens privadas das despesas relacionadas ao trabalho, e que pretende reembolsar o Fórum. Ele também disse que doou a maioria dos presentes que recebeu para caridade e exibiu outros, incluindo jogos de chá russos, na sede do Fórum.
Ainda de acordo com a reportagem, os investigadores descobriram que o comportamento inadequado de Schwab se estendeu aos resultados do Relatório de Competitividade Global, que classifica países em diversas categorias, da estabilidade financeira à corrupção.
Schwab teria pressionado funcionários para melhorar a posição da Índia no ranking, citando seu relacionamento com seu primeiro-ministro indiano, e para rebaixar o Reino Unido, de modo a evtar comemorações dos apoiadores do Brexit.
Através do porta-voz, o ex-presidente de Davos disse que apenas interveio na pesquisa do Fórum quando necessário para proteger a integridade de relatórios de alto perfil.
Em sua declaração, Schwab também disse que espera que a organização continue a prosperar. "Mesmo que eu não seja mais parte dela, espero profundamente que o Fórum permaneça um construtor de pontes confiável em um mundo dividido."