Mineira compartilha rotina sustentável em ecovila baiana sem geladeira e sem chuveiro quente

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Viver em contato com a natureza e causar o menor impacto ambiental possível. Essa foi a escolha que a mineira Stéfany Arcanjo, 29, fez ao se mudar para uma ecovila no sul da Bahia. Ao tomar essa decisão, ela, que nasceu e cresceu em Belo Horizonte, abriu mão de diversas praticidades da vida na cidade grande, como geladeira, chuveiro quente e banheiro com descarga.

Stéfany é moradora e voluntária na Escola da Natureza, em Piracanga, uma área de proteção ambiental na península de Maraú, a 250 km de Salvador. Organização sem fins lucrativos, o lugar oferece cursos sobre práticas sustentáveis, experiências de imersão na natureza, hospedagem por temporada e moradia para cerca de 150 voluntários que trabalham na instituição.

A mineira faz o marketing das atividades da ONG e, em seu perfil pessoal, compartilha com seus seguidores no TikTok e no Instagram o funcionamento da ecovila. Curiosidades sobre o armazenamento dos alimentos sem o uso da geladeira, cuidados com os animais e atividades em grupo são temas comuns em seus vídeos.

"Normalmente, levanto por volta das 6h da manhã. Dou preferência para começar o dia fazendo alguma atividade física. Depois disso, eu olho as minhas pendências, porque os dias variam bastante. Mas alguns dias têm uma rotina mais fixa. De quinta-feira, por exemplo, é o dia que eu faço compostagem, alimento as galinhas e cozinho para o almoço coletivo. Cada morador cozinha uma vez por semana."

A decisão de deixar a família e os amigos e partir para a ecovila aconteceu depois do término de um relacionamento de quatro anos, em maio do ano passado. Ela conta que já vivia uma rotina de muito estresse com o trabalho e que, por ser autônoma, chegava a trabalhar 11 horas por dia, com marketing digital.

"O término foi o estopim para eu tirar do papel o sonho de viajar sozinha", afirma ela que também sentia falta do contato com a natureza. "Passava muito tempo nas telas: elas não eram só meu trabalho, usava muito para lazer e para fuga da realidade que eu estava vivendo, da depressão em que eu estava."

A princípio, ela passaria um mês na ecovila, em um curso sobre sustentabilidade. Lá soube que havia a possibilidade de trabalhar como voluntária em troca da moradia, foi então que decidiu ficar. Antes da mudança por tempo indeterminado, voltou para Belo Horizonte para organizar o que precisava e se despedir de amigos e familiares.

A adaptação foi desafiadora, mas a experiência tem sido positiva. "Reciclar em uma vila onde todo mundo recicla, não comer carne em uma vila onde ninguém come carne é muito mais simples do que fazer isso no entorno onde as pessoas não estão se importando com isso", conta.

"Aqui a gente não usa nenhum tipo de alterador de consciência, não bebe, não come carne e os produtos que entram na vila são só biodegradáveis", conta ela sobre as regras de convivência.

Além disso, cada um cuida da reciclagem e do descarte dos resíduos que gera e participa da gestão compartilhada dos espaços comuns. Na vila, há apenas um chuveiro quente —os demais são frios—, e só é possível carregar aparelhos eletrônicos das 9h às 15h. Além disso, dispositivos com resistência, como secador e chapinha, são proibidos.

Ela decidiu compartilhar suas experiências para encorajar pessoas que tenham vontade de conhecer novos lugares e viver mais próximas da natureza de forma sustentável. "Queria mostrar essas ferramentas para as pessoas conseguirem fazer isso de forma que dê certo no contexto em que cada pessoa está inserida."

Apesar de o resultado ser gratificante na maioria das vezes, segundo avalia, ela afirma ter se preparado para a exposição da rotina nas redes sociais, por saber que seu conteúdo geraria comentários hostis.

Um de seus vídeos mais vistos, com mais de 1,9 milhão de visualizações no TikTok, é o que explica o funcionamento do banheiro seco —o sanitário não usa água e transforma os resíduos em adubo por um processo de compostagem.

A postagem também foi a que mais recebeu comentários de "haters". "Decidi que eu só postaria esse vídeo quando eu me sentisse preparada para lidar com esses ataques, porque eu vi isso acontecer em outras páginas. E eu sei que para se expor nesse nível na internet, a pessoa precisa estar bem psicologicamente", conta.

Agora a influenciadora diz ter vontade de conhecer outras ecovilas pelo Brasil, para continuar compartilhando suas aventuras nas redes sociais. A próxima viagem já tem um destino definido: "Vou visitar minha família em Belo Horizonte".

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