O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, ligou para o papa Leão 14 nesta sexta-feira (18), um dia após um ataque de Tel Aviv contra a única igreja católica na Faixa de Gaza. Durante a chamada, o premiê ouviu o pontífice pedir negociações por uma trégua no território palestino, segundo o Vaticano.
"O Santo Padre reiterou seu apelo por um novo impulso nas negociações, um cessar-fogo e o fim da guerra. Ele voltou a expressar sua preocupação com a trágica situação humanitária da população de Gaza, cujas crianças, idosos e doentes estão pagando um preço agonizante", afirmou a Santa Sé.
Nesta quinta-feira (17), um bombardeio israelense atingiu a única igreja católica da Faixa de Gaza, matando três pessoas e deixando vários feridos, incluindo o pároco argentino Gabriel Romanelli, segundo o Patriarcado Latino de Jerusalém, responsável pelo templo.
Trata-se da Igreja da Sagrada Família, a mesma para a qual o papa Francisco, morto em abril deste ano, ligou quase todos os dias durante o conflito para verificar como estavam aqueles que buscavam refúgio dos combates —o templo ofereceu abrigo a centenas de palestinos desde o início da guerra. Fotos divulgadas pela igreja mostram o teto danificado próximo à cruz principal e janelas quebradas.
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Após o ataque, Netanyahu disse "lamentar profundamente" que uma munição perdida tenha atingido o local, na sua versão. "Cada vida inocente perdida é uma tragédia. Compartilhamos a dor das famílias e dos fiéis", afirmou em um comunicado. Ele também falou sobre o incidente com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cuja reação "não foi positiva", de acordo com a Casa Branca.
Ainda nesta sexta, os dois mais altos dignitários cristãos em Jerusalém, o patriarca católico latino, Pierbattista Pizzaballa, e seu homólogo ortodoxo grego, Teófilo 3º, viajaram para Gaza —uma rara visita de autoridades estrangeiras ao território, isolado por Israel.
De acordo com o Patriarcado Latino de Jerusalém, os dois líderes religiosos levaram "centenas de toneladas de suprimentos alimentares, bem como kits de primeiros socorros e equipamentos médicos urgentemente necessários" ao território, que vive uma crise humanitária sem precedentes.
A ajuda não se destina apenas à pequena comunidade cristã de Gaza, mas ao "maior número possível de famílias", afirmou o Patriarcado, acrescentando que também garantiu a saída dos feridos no ataque à igreja. A população de Gaza é majoritariamente muçulmana, com apenas cerca de mil cristãos —a maioria dos quais são ortodoxos gregos.
Em entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera, Pizzaballa afirmou que a presença católica permaneceria em Gaza "aconteça o que acontecer" e expressou dúvidas sobre a versão de Israel de que o ataque foi um erro. "Não somos um alvo. Dizem que foi um erro, mesmo que todos aqui acreditem que não foi", disse o cardeal.
À imprensa do Vaticano, Pizzaballa afirmou que o papa telefonou para ele e para Teófilo nesta sexta para apoiar a missão. Segundo a Santa Sé, o pontífice expressou seu amor e afeição pela comunidade paroquial de Gaza "e reiterou sua intenção de fazer todo o possível para impedir o massacre desnecessário de inocentes".