Os institutos Arapyaú e Itaúsa lançam nesta terça-feira (17) o relatório "Soluções em Clima e Natureza do Brasil". O documento reúne medidas positivas para o combate à mudança climática que já estão em desenvolvimento ou aplicação no país e inclui ações em quatro setores: energia, agropecuária, florestas e economia circular.
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As soluções estão organizadas em três tipos: maduras, hoje adotadas em larga escala e com viabilidade comprovada; em ascensão, que caminham para uma implementação mais ampla; e promissoras, ainda na fase de desenho e incubação. A elaboração do relatório partiu de entrevistas com 66 especialistas de áreas diversas.
"O documento apresenta o Brasil como um país com soluções climáticas que podem contribuir para a descarbonização do planeta, além de oferecer a oportunidade para investimentos e engajamentos do setor privado para fazer essa transformação acontecer", diz Marcelo Furtado, diretor executivo do Instituto Itaúsa.
A publicação, contam os autores, atende a um chamado do embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, conferência de clima das Nações Unidas a ser realizada em novembro em Belém, por uma agenda global de ações concretas para enfrentar as mudanças climáticas.
"O mundo só vai resolver a crise climática quando alinhar a economia para as soluções climáticas. É importante sair um pouco da lente da discussão climática para uma discussão econômica que seja positiva para o clima, a natureza e as pessoas", diz Furtado.
Segundo Renata Piazzon, diretora executiva do Instituto Arapyaú, a cúpula na amazônia será um momento importante para avançar nas soluções ainda carentes de financiamento. "Temos uma janela muito curta de oportunidade de atração de recursos para o Brasil, considerando a presidência brasileira da COP até o final do ano que vem", afirma.
No setor de energia, o relatório destaca o etanol, o biodiesel e as energias eólica e solar como soluções maduras no país. O biogás, o biometano e o combustível sustentável da aviação (SAF, na sigla em inglês) são medidas energéticas em ascensão.
Um caso apresentado é o da empresa Acelen, que recebeu o primeiro financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para a produção de SAF, no valor de R$ 257,9 milhões. Segundo o relatório, a companhia planeja instalar em Montes Claros (MG) um centro de pesquisa para produção do combustível a partir da macaúba, planta nativa brasileira com alto poder energético, e gerar 90 mil empregos.
No ramo da agricultura e pecuária, o documento destaca a recuperação de pastos degradados como uma solução promissora. O Brasil tem 90 milhões de hectares de pastagens com algum grau de degradação, segundo o CCarbon (Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical).
Se recuperadas, essas áreas removeriam carbono da atmosfera. O CCarbon calcula o valor de 0,3 a 0,4 toneladas de carbono sequestradas por hectare a cada ano com a aplicação de técnicas de recuperação, o que levaria à absorção anual de cerca de 36 milhões de toneladas de carbono.
No setor das florestas, o Código Florestal, em vigor desde 2012, é uma solução ainda em ascensão para combater as mudanças climáticas, de acordo com o relatório. Paulo Hartung, ex-governador do Espírito Santo e presidente da associação Ibá (Indústria Brasileira de Árvores), uma das entidades consultadas durante a elaboração do documento, analisa que é preciso avançar na articulação entre o governo federal e os estados para aplicar a legislação.
"Há um desencontro que gera uma frustração. Uma lei importante para o país, feita com uma construção política delicada e uma negociação difícil, tem a sua implementação arrastada por mais de uma década", afirma.
A plantação de árvores nativas para recompor áreas degradadas é apontada como uma solução promissora para o sequestro de carbono. Hartung diz esperar um crescimento da demanda nacional pelo plantio, que esbarra em limitações da quantidade disponível de mudas.
Já a economia circular é considerada incipiente no Brasil e não apresenta soluções maduras, segundo o relatório. Mas há iniciativas em ascensão, como o Hub do Plástico, considerada a maior planta de gestão de plásticos da América Latina.
A Ancat (Associação Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis), a Coca-Cola Femsa Brasil e a Fundação Banco do Brasil inauguraram a instalação em Mogi das Cruzes (SP) no final de 2024.
De acordo com o documento, a unidade espera atingir uma produção mensal de 200 toneladas de plástico reciclado, a partir do trabalho de 80 catadores. A Ancat avalia expandir o projeto para Belo Horizonte e Brasília.