Novo livro mostra que o poder corrompe, mas a sua falta é pior

3 semanas atrás 11

Saiu nos Estados Unidos um bom livro. É "Zbig: The Life of Zbigniew Brzezinski, America ‘s Great Power Prophet" (Zbig: A Vida de Zbigniew Brzezinski, o Profeta do Poder dos Estados Unidos).

Nele, o jornalista inglês Edward Luce conta a vida do aristocrata polonês que se tornou assessor para assuntos de segurança nacional do presidente Jimmy Carter (1977-1981) e quebrou a espinha dorsal da diplomacia da União Soviética com sua política de defesa dos direitos humanos.

Brzezinski (1928-2017) teve a falta de sorte de suceder no cargo o professor Henry Kissinger, um personagem pop, ambicioso como Lúcifer e inseguro como um adolescente. Isso acabou colocando-o num patamar secundário, porém injusto.

Os dois tiveram trajetórias semelhantes. Europeus, emigraram para a América nos anos 30 do século 20. Ambos foram para Harvard e ambos enfiaram-se na elite da diplomacia de Washington.

Vidas parecidas não podiam produzir personagens mais diferentes. Kissinger amava os holofotes e Zbig evitava-os. Kissinger cultivava a costura e Zbig detestava a União Soviética, confiando na força moral dos Estados Unidos.

Um gostava de mel, o outro, desde criança, comia abelhas. Basta dizer que em dezembro de 1939, aos 11 anos, desterrado, escreveu uma dissertação intitulada "O Cerco de Berlim - 19??".

A Polônia não existia mais, porém Brzezinski, investindo-se no comando das tropas imaginárias que combatiam os alemães, escreveu: "Depois de dez dias de bombardeios eles queriam falar comigo. Eu recusei, pois queria arrasar Berlim." Rendidos os alemães, "nossos soldados enforcaram Hitler".

Os anos e a história levaram Brzezinski a tornar-se um especialista em assuntos soviéticos. Desde os anos 1950, ele sustentava que a questão dos nacionalismos era o "calcanhar de Aquiles" do gigante russo. Não deu outra.

Sempre se aprende alguma coisa em livros como "Zbig", mas Luce achou uma joia. Fora do poder, Kissinger foi um feroz adversário de Brzezinski, levando-o a refrasear uma famosa observação de Lord Acton. Em 1885, Acton disse que "o poder tende a corromper e o poder absoluto corrompe absolutamente".

Em 1979, debaixo de chumbo, Zbig escreveu: "Cheguei à conclusão de que, embora o poder corrompa, a ausência de poder corrompe completamente".

A frase de Lord Acton é uma carapuça para tiranos e tiranetes. A de Brzezinski serve para milhares de ex-poderosos. Vale tanto para a elite diplomática de Washington quanto para as tramas políticas da Baixada Fluminense.

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