Olmert não é antissemita

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"Lamento, mas é um campo de concentração. Se os palestinos forem deportados para essa nova ‘cidade humanitária’, pode-se dizer que isso é parte de uma limpeza étnica." A acusação não partiu da Autoridade Palestina, do Irã, de um governo árabe ou de algum ativista universitário nos EUA. São palavras de Ehud Olmert. Não vale descartá-lo como antissemita.

Olmert é um político conservador. Fez carreira no Likud, o partido de Netanyahu, até juntar-se ao então primeiro-ministro Ariel Sharon para fundar o Kadima, de centro-direita. Chefiou o gabinete de Israel entre 2006 e 2009 e, no apagar das luzes de seu governo, ofereceu à Autoridade Palestina o mais generoso plano de paz da história da Terra Santa.

Abbas hesitou e, no fim, recusou sob a alegação de que Olmert logo renunciaria a seu cargo. Foi sucedido por Netanyahu, que fez do Hamas um parceiro tácito na sabotagem permanente das negociações de paz. Os bárbaros atentados do Hamas e a guerra criminosa de Israel contra a população civil de Gaza foram cozidos no fogo desses 15 anos.

O antissemita do passado desenhava judeus com nariz adunco. O antissemita contemporâneo pinta Israel como Estado genocida desde a sua fundação. Escolhendo as palavras certas, com profundo pesar, Olmert acusa o governo de Netanyahu por crimes de guerra e aponta o plano de limpeza étnica, mas ressalva que isso "ainda não aconteceu". Ele certamente sabe, como todos os judeus, que limpeza étnica é o detonador clássico dos genocídios.

"Esses caras são o inimigo interno", explica Olmert, referindo-se aos ministros supremacistas do governo israelense, que pregam a expulsão da população de Gaza e patrocinam a violência de colonos extremistas na Cisjordânia. São, adiciona, uma ameaça maior à segurança de Israel do que qualquer inimigo externo, pois colocam em risco a legitimidade histórica do Estado judeu. Fazem, em suma, eficientemente, o serviço que o Irã, o Hamas e ativistas antissemitas de direita ou esquerda no Ocidente nunca conseguiram realizar.

A oferta do mapa da paz por Olmert, durante o derradeiro ciclo de negociações, não foi o gesto de um pacifista. Tal como, antes dele, Shimon Peres e Ehud Barak, seu objetivo era proteger os interesses vitais de Israel.

Na Conferência de Annapolis (2007), ele iluminou o cenário: "Se chegar o dia no qual a solução de dois Estados entrar em colapso e nós enfrentarmos um conflito no estilo sul-africano pela igualdade de direitos de voto, o Estado de Israel terá chegado ao fim". Claro: é precisamente um conflito desse tipo a meta dos defensores da solução de um Estado único "do rio até o mar", que seria, cedo ou tarde, um Estado árabe-muçulmano.

Uma experiência trágica de dois séculos mostrou aos judeus que é mortalmente perigoso ser uma minoria nacional. O Estado judeu surgiu justamente para que os judeus nunca mais sejam uma minoria. Em meados do século 20, cerca de um quinto dos palestinos da Terra Santa eram cristãos; hoje, somam 1%. O destino dos judeus seria o mesmo no tal Estado único "do rio até o mar".

A longo prazo, os supremacistas de Netanyahu que enterram a solução de dois Estados só podem conseguir a expulsão dos judeus de Israel. Eis o motivo pelo qual a diáspora judaica –nos EUA, na Argentina, no Brasil– precisa erguer sua voz contra a limpeza étnica.

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