Países já enviaram cartas ao Brasil com preocupações formais sobre hospedagem na COP30

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O governo brasileiro já recebeu cartas em que países expressam, de maneira oficial, preocupação quanto aos custos elevados de hospedagem durante a COP30, bem como outras questões logísticas relacionadas à conferência climática das Nações Unidas que acontece em novembro em Belém.

"A questão da acomodação é uma grande preocupação para nós. Eu já levantei esse tema várias vezes com o governo do Brasil e com a presidência da COP. Escrevi uma carta à presidência da COP30 expressando nossas preocupações", disse o líder do grupo de negociadores africanos, Richard Stanslaus Muyungi, da Tanzânia.

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O diplomata afirma que está em contato com os representantes brasileiros, que teriam assegurado que vão analisar "a melhor forma de atender às demandas" apresentadas.

"No entanto, eu diria que ainda não recebemos nenhuma resposta adequada a essas preocupações", queixou-se. "Mas continuaremos pressionando o governo brasileiro para que nos ofereça um tratamento adequado em termos de acomodação e, claro, de transporte. Essas são questões cruciais não apenas para a África, mas também para os muitos outros países em desenvolvimento."

Segundo Muyungi, outras delegações também expressaram preocupações semelhantes em correspondências dirigidas ao governo brasileiro.

Um representante da convenção do clima da ONU, que pediu para não ser identificado, confirmou que o órgão também recebeu contatos similares sobre o tema.

As declarações foram feitas nesta quinta-feira (26), último dia das Reuniões Climáticas de Junho, espécie de pré-COP focada em negociações técnicas, que aconteceu em Bonn, na Alemanha.

Queixas sobre o preço e a escassez de opções de hospedagem para a COP30 apareceram em vários momentos da cúpula, tanto por parte de países quanto de representantes da sociedade civil.

O ápice das reclamações públicas aconteceu na quinta-feira (19), quando a presidência brasileira realizou uma reunião aberta para detalhar os aspectos logísticos da conferência.

O encontro, no meio do feriado de Corpus Christi, não foi transmitido nos canais oficiais da ONU, ao contrário da maioria dos eventos do tipo realizados na conferência de Bonn.

Na ocasião, o Brasil voltou a prometer que lançaria, em breve, uma plataforma oficial concentrando opções "a preços mais acessíveis". O país se comprometeu a disponibilizar, no total, mais de 29 mil quartos e 55 mil leitos, a maioria em aluguéis de curto prazo.

A liderança da COP30 disse estar trabalhando para que parte das acomodações tenha preços em torno de US$ 100 (cerca de R$ 550) por diária.

Organizações não governamentais e representantes de delegações não se mostraram convencidos com as explicações e cobraram a presidência brasileira quanto à qualidade das acomodações, pedindo ainda a oferta abundante de quartos individuais.

"A questão do alojamento não é apenas logística. Ela é, fundamentalmente, uma questão de inclusão. Essa tem sido a nossa experiência, ano após ano, nas COPs. Esperávamos que esta presidência da COP tivesse aprendido com as anteriores, em que a sociedade civil levantou exatamente as mesmas preocupações", disse, durante a reunião sobre logística, Tasneem Essop, diretora executiva da CAN (Climate Action Network) International, que representa mais de 1.300 organizações da sociedade civil.

Em entrevista coletiva antes do encerramento da conferência de Bonn, a diretora executiva da COP30, Ana Toni, reconheceu que as dúvidas quanto à hospedagem durante a conferência permanecem, mas afirmou que houve progressos nos esclarecimentos sobre a logística geral da cúpula.

"Tivemos discussões e esclarecimentos sobre vários temas logísticos: dúvidas sobre a cidade de Belém, questões de saúde, transporte, segurança e, principalmente, hospedagem. A percepção é de que conseguimos esclarecer que Belém está bem preparada", afirmou.

"Sim, o tema do preço da hospedagem ainda está pendente, e as pessoas continuam buscando respostas sobre isso. Nós ouvimos essas preocupações e já sabíamos desse problema antes de vir para cá. Mencionamos algumas das ações que o governo brasileiro tem tomado em relação a isso. Mas, obviamente, ainda há muita expectativa em torno do lançamento da plataforma com os diferentes preços, o que trará mais segurança para todos", detalhou.

"Agora, as dúvidas [sobre a logística da COP30] se concentram basicamente no preço da hospedagem. Ou seja, avançamos nesse debate, houve progresso", completou Toni.

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