Planeta deve esgotar 'orçamento' de carbono em até três anos, aponta novo estudo

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As emissões de gases de efeito estufa, em níveis recordes, devem esgotar o "orçamento" de carbono do planeta em até três anos, superando mais um marco preocupante e reduzindo drasticamente as chances de limitar o aquecimento global a 1,5°C, segundo cientistas.

O chamado orçamento de carbono representa a quantidade máxima de gases-estufa que pode ser emitida para manter uma chance de 50% de limitar o aquecimento a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, meta preferencial do Acordo de Paris, de 2015.

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Essa meta parece cada vez mais inalcançável, afirmou Joeri Rogelj, professor de ciência e política climática no Imperial College London e coautor de um estudo conduzido por mais de 60 cientistas internacionais, publicado na revista Earth System Science Data nesta quinta (19).

"Seja qual for o caminho adotado, há uma probabilidade muito alta de atingirmos —e até ultrapassarmos— 1,5°C, e níveis ainda mais altos de aquecimento", disse Rogelj. "Já estamos em um momento decisivo para evitar aumentos ainda maiores de temperatura."

Segundo o estudo, tanto o nível quanto o ritmo do aquecimento global registrados em 2024 foram inéditos, enquanto as ações climáticas não acompanham a velocidade crescente das emissões.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) da ONU estimou, em 2021, que o orçamento de carbono restante era de 500 bilhões de toneladas de CO₂. O novo estudo aponta que esse espaço caiu para 130 bilhões de toneladas em 2024. O Acordo de Paris estabeleceu o limite de aumento da temperatura global em bem abaixo de 2°C, idealmente 1,5°C.

A pesquisa demonstra o quanto os indicadores climáticos estão "seguindo rapidamente na direção errada", afirmou Piers Forster, diretor do Priestley Centre for Climate Futures da Universidade de Leeds e autor principal do estudo.

"Os países estão começando a agir contra as mudanças climáticas. Estamos vendo muitos projetos de energia renovável, mas o ritmo dessas mudanças ainda não corresponde ao necessário", declarou.

O artigo, que avaliou dez indicadores de mudança climática, foi divulgado durante a reunião de negociação climática da ONU em Bonn, na Alemanha, da qual os Estados Unidos não participaram. O ex-presidente Donald Trump, que já chamou a mudança climática de farsa, retirou o país do Acordo de Paris.

O estudo tem como objetivo preencher o intervalo entre os grandes relatórios do IPCC. Os próximos só devem ser publicados em 2029.

Os cientistas estimam que a temperatura média global na década que se encerra em 2024 será 1,24°C acima dos níveis pré-industriais, sendo 1,22°C atribuídos ao aquecimento causado por atividades humanas —principalmente, em razão de desmatamento e queima de combustíveis fósseis.

Segundo o estudo, a taxa de aquecimento global de 2012 a 2024 foi o dobro daquela observada nas décadas de 1970 e 1980. Esse ritmo está provocando elevação do nível do mar, aquecimento dos oceanos, perda de gelo e o degelo do permafrost.

Os pesquisadores também alertaram para um aumento acelerado no nível do mar, tornando as áreas costeiras cada vez mais vulneráveis a ressacas e erosão.

"O que preocupa é que sabemos que a elevação do nível do mar em resposta às mudanças climáticas é relativamente lenta, o que significa que já comprometemos aumentos adicionais para os próximos anos e décadas", afirmou Aimée Slangen, do Instituto Real de Pesquisa Marinha dos Países Baixos (NIOZ).

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