Ex-assessor especial de assuntos econômicos do Ministério da Economia, Rogério Boueri avalia que o Plano Safra está perdendo protagonismo, apesar de ainda ser o principal mecanismo de financiamento do agronegócio brasileiro.
Nesta semana, o presidente Lula (PT) anunciou o lançamento do plano para o biênio 2025 e 2026, com R$ 516,2 bilhões para a agricultura empresarial e R$ 89 bi para a familiar.
"Está, obviamente, aquém do necessário. O Plano Safra não é mais capaz de acompanhar o crescimento da pecuária brasileira", afirma Boueri.
Ele foi assessor especial e subsecretário de política agrícola do ministro Paulo Guedes durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). Também é um dos principais incentivadores do Fiagro —mecanismo paralelo, baseado em capital privado—, além de ter trabalhado no segundo mandato de Dilma Rousseff (PT) e sob Michel Temer (MDB).
O governo anunciou que este é o maior plano da história, mas Boueri diz que isso vale apenas para a comparação entre valores nominais. Se analisado, por exemplo, o crescimento do agronegócio no período entre esta safra e a anterior, além do aumento no custo de produção, essa afirmação não se sustentaria, argumenta.
Para ele, o governo não comete "erros crassos". Por outro lado, alguns fatores estrangulam o crescimento do plano, por exemplo os juros a 15%, ponto criticado por aliados de Lula —se a taxa Selic é maior, maior é a dificuldade do governo para conseguir oferecer créditos mais atrativos.
Depois, o contexto do aperto das contas públicas, uma vez que as despesas do Plano Safra ficam sujeitas a corte. Finalmente, os prejuízos causados pelos eventos climáticos, que forçam o produtor a renegociar seu financiamento —com custo extra para a União.
"Nós temos uma tempestade perfeita que espreme o Plano Safra. Um: Selic alta. Dois: recursos orçamentários restritos. Três: renegociações em função das intempéries climáticas", diz.
Ele avalia que, por enquanto, o Safra ainda oferece taxas de juros mais baixas que o mercado, e deve ser atrativo para o setor, mas isso vai diminuir com o tempo. Quem deve ganhar espaço são os programas de financiamento com capital privado, como o Fiagro, defende.
"O Plano Safra está perdendo o protagonismo", diz. "O mercado de capitais brasileiro tem de 7% a 8% voltado para o agronegócio. O agronegócio é quase 30% da economia brasileira, então existe uma clara defasagem que eu acho que vai ser preenchida", diz.