Pela terceira vez desde o início da Guerra da Ucrânia, Kiev perdeu um F-16, um dos caças mais avançados do mundo e que foram entregues ao país por aliados ocidentais para tentar fazer frente à superioridade aérea da Rússia no conflito.
O caça foi abatido por Moscou durante a maior ofensiva aérea da guerra, lançada neste domingo (29). O piloto foi morto na ação. Estima-se que a Ucrânia tenha recebido, até o final de 2024, cerca de 20 F-16 de diferentes países, mas as Forças Armadas do país mantêm o total em segredo.
Pelo menos duas pessoas foram mortas e outras sete ficaram feridas nos ataques. A Ucrânia disse que 537 drones e mísseis foram lançados contra o seu território.
Segundo o Exército ucraniano, as forças de Kiev conseguiram abater 211 drones. Outros 225 teriam sido perdidos, provavelmente devido à interferência eletrônica provocada pelos sistemas de defesa. Cerca de 40 mísseis foram interceptados.
Os armamentos que passaram, contudo, provocaram estragos. Ao menos seis locais foram atingidos, e mais dois registraram quedas de destroços.
Sobre o F-16 abatido, a Força Aérea ucraniana disse que "o piloto usou todas as suas armas de bordo e abateu sete alvos aéreos. Enquanto abatia o último, sua aeronave foi danificada e ele começou a perder altitude". Os caças F-16, de fabricação americana, tornaram-se centrais para a estratégia de defesa ucraniana.
A ação aérea de Vladimir Putin foi mais uma etapa da retaliação ao mega-ataque ucraniano contra a frota de bombardeiros estratégicos russos, ocorrido no começo do mês. Foram empregados neste domingo 477 drones e 60 mísseis, ultrapassando o recorde de 499 armamentos usados no último dia 9.
Lá Fora
Receba no seu email uma seleção semanal com o que de mais importante aconteceu no mundo
Moscou bombardeia a Ucrânia quase diariamente desde 24 de fevereiro de 2022, quando começou a invasão do vizinho. Hoje, os russos ocupam cerca de 20% do território ucraniano. As negociações para uma trégua estão em um impasse.
O líder russo, Vladimir Putin, "decidiu há muito tempo continuar a guerra, apesar dos apelos de paz da comunidade internacional", disse após a ofensiva o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski.
"A Ucrânia deve reforçar sua defesa antiaérea", acrescentou, afirmando mais uma vez estar "disposto a comprar" sistemas antiaéreos americanos Patriot. Washington, que no governo de Donald Trump se aproximou de Putin, não havia se manifestado sobre o pedido de Kiev.
Também no domingo, Zelenski anunciou que vai retirar a Ucrânia da Convenção de Ottawa, que proíbe o uso de minas terrestres. Essas armas são conhecidas por continuar a causar mortes anos depois de um conflito, principalmente em civis. A Ucrânia fazia parte do tratado desde 2005.
Segundo Zelenski, a medida é necessária para proteger seu país. Em um pronunciamento, o ucraniano disse que a Rússia nunca assinou o tratado e usa minas "de maneira cínica". "Essa é uma característica dos assassinos russos: destruir a vida de todas as maneiras possíveis." Ao mesmo tempo, afirmou Zelenski, minas terrestres "são um instrumento essencial para a defesa que não tem substituto viável".
Organizações internacionais apontam que a Rússia minou boa parte do território ucraniano ocupado e que a remoção desses explosivos será essencial em qualquer plano de reconstrução do país após a guerra. Países como a Finlândia, a Polônia, a Estônia, e Letônia e a Lituânia já anunciaram que também pretendem deixar o tratado que proíbe as minas.
As Forças Armadas russas, que reivindicaram a tomada de uma nova localidade na região de Donetsk, no leste, afirmaram ter atingido instalações de um complexo militar-industrial ucraniano e refinarias de petróleo. Também disseram que interceptaram três drones ucranianos na noite de sábado (28).
Durante a ação aérea, explosões foram registradas nas cidades de Kiev, Lviv, Poltava, Mikolaiv, Dnipropetrovsk, Tcherkasi e na região de Ivano-Frankivsk, segundo testemunhas e autoridades.
Instalações industriais foram danificadas em Mikolaiv, no sul do país, e em Dnipropetrovsk, no centro. Trechos de uma infraestrutura ferroviária também foram atingidos na cidade de Poltava. Em vários locais, casas e prédios residenciais ficaram destruídos.
Na região de Tcherkasi, no centro da Ucrânia, os ataques russos deixaram seis feridos, entre eles uma criança, informou a polícia ucraniana no Telegram. Equipes de resgate retiraram moradores de apartamentos com paredes carbonizadas e janelas quebradas, mostraram imagens divulgadas pelas autoridades da região.
Mais a oeste, na região de Ivano-Frankivsk, situada longe da frente de batalha, uma mulher também ficou ferida e foi levada para um hospital. Em Kharkiv, no nordeste ucraniano, um homem de 60 anos morreu.
Na capital, Kiev, famílias se aglomeraram em estações de metrô em busca de abrigo após o soar de alarmes. Disparos feitos pela defesa aérea e explosões foram ouvidos por toda a cidade e também em Lviv, próxima à fronteira com a Polônia, onde tais ataques são menos comuns.
O governador da região de Lviv disse que o ataque teve como alvo infraestruturas críticas.
"A crescente magnitude do terrorismo demonstra a urgência de novas sanções [contra a Rússia]", escreveu, por sua vez, o chefe da diplomacia ucraniana, Andrii Sibiga, na plataforma X.