Siderúrgicas dos EUA aproveitam tarifas de Trump e sobem preço do aço e alumínio

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Siderúrgicas dos EUA estão aumentando os preços, impondo novos custos aos fabricantes domésticos que produzem de tudo, de carros a tanques militares. Os aumentos ocorrem devido às tarifas impostas por Donald Trump sobre o aço e o alumínio em março e, posteriormente em junho.

Duas grandes produtoras do país, Cleveland-Cliffs e Steel Dynamics, relataram na segunda-feira (21) que cobraram mais por seus produtos no segundo trimestre deste ano do que nos três primeiros meses de 2025.

Cerca de um quinto do aço vendido nos Estados Unidos é importado. As tarifas sobre o aço, que foram elevadas no mês passado de 25% para 50%, tornaram as importações do metal muito mais caras. À medida que a chegada de produtos do exterior diminuíram, os produtores dos EUA ganharam mais poder para aproveitar a ocasião e aumentar seus preços, segundo os compradores.

"Você sempre vê isso como uma das armadilhas de uma tarifa", disse John O'Leary, CEO da Daimler Truck North America, que compra grandes quantidades de aço para fabricar caminhões Freightliner e Western Star e ônibus escolares Thomas Built. As siderúrgicas do país, segundo ele, agora têm "mais espaço para aumentar o preço".

A Daimler Truck tentou repassar alguns dos custos das tarifas sobre o aço e o alumínio, o outro metal sobre o qual a administração Trump impôs tarifas. Quando as tarifas dos dois metais estavam em 25%, a empresa adicionou aproximadamente US$ 3.500 (R$ 19,47 mil) ao preço de um ônibus escolar Thomas Built, que em média custa cerca de US$ 100 mil (R$ 556,44 mil).

Quando questionado se a Daimler aumentaria ainda mais os preços agora que as tarifas chegaram a 50%, O'Leary comentou que era difícil repassar custos extras aos clientes no mercado atual.

As tarifas chegam em um momento difícil para a Daimler Truck, que está lidando com uma queda na demanda por seus caminhões. Na semana passada, a empresa comunicou que reduziu sua força de trabalho em cerca de 2.000 funcionários em quatro instalações nos Estados Unidos e uma no México.

No segundo trimestre, o preço médio do aço da Steel Dynamics foi de US$ 1.134 (R$ 6.310,03) por tonelada, acima dos US$ 998 (R$ 5.553,27) no primeiro trimestre. A Cleveland-Cliffs vendeu aço por um preço médio de US$ 1.015 (R$ 5.647,87) por tonelada no segundo trimestre, acima dos US$ 980 (R$ 5.453,11) no primeiro trimestre. Dados de preços do governo mostram que os produtores domésticos de aço aumentaram os preços em 16% neste ano.

O CEO da Cleveland-Cliffs, Lourenco Goncalves, disse em uma teleconferência com analistas na segunda-feira que a empresa "realizou fortes aumentos nos preços" e que as tarifas de Trump "desempenharam um papel significativo no apoio à indústria siderúrgica doméstica".

Goncalves defendeu as tarifas sobre o aço, argumentando que os produtores estrangeiros se beneficiavam de subsídios e pagavam salários mais baixos aos seus trabalhadores. Ele disse que as tarifas de Trump sobre veículos estavam ajudando a indústria automobilística doméstica.

"Eles são empresas que maximizam o lucro", disse Thomas McCartin, economista sênior do serviço de preços e compras da S&P Global Market Intelligence, referindo-se aos produtores de aço. "As usinas domésticas vão tentar obter o máximo que puderem."

Mark Millett, CEO da Steel Dynamics, disse em um comunicado à imprensa na segunda-feira que os preços mais altos do aço aumentaram os lucros, mas acrescentou que a incerteza sobre a política comercial continua "a causar hesitação nos padrões de pedidos dos clientes em todos os nossos negócios".

Nenhuma das empresas respondeu a perguntas sobre seus preços de aço.

As importações de aço até maio caíram 6,2% em relação ao mesmo período de 2024, de acordo com o Instituto dos EUA de Ferro e Aço. Canadá, Brasil, Coreia do Sul e México são os maiores exportadores de aço para os Estados Unidos.

Trump impôs uma tarifa de 25% sobre o aço em 2018 durante sua primeira administração, usando um estatuto legal relacionado à segurança nacional, conhecido como Seção 232. Mas países que exportam muito aço para os Estados Unidos receberam isenções pela primeira administração Trump e pela gestão Joe Biden.

Quando Trump retornou ao cargo, ele encerrou as isenções nacionais, e as tarifas foram ampliadas para incluir mais itens —como fios, tubos e eletrodomésticos— que são feitos ou contêm muito aço. No mês passado, a japonesa Nippon Steel concordou em comprar a U.S. Steel, uma grande produtora doméstica, e deu ao governo dos EUA uma participação que lhe confere controle significativo sobre a empresa combinada.

Trump afirmou que as tarifas sobre o aço são necessárias para garantir que os produtores domésticos sejam fortes o suficiente para fornecer aço às empresas que fabricam equipamentos militares.

Mas analistas dizem que a indústria siderúrgica dos EUA é mais do que capaz de abastecer o exército do país. Jim Mattis, secretário de defesa na primeira administração Trump, afirmou em um memorando de 2018 que as necessidades militares de aço e alumínio equivaliam a apenas cerca de 3% da produção dos EUA de cada metal.

O aço fabricado nos Estados Unidos é o mais caro do mundo, e alguns analistas apontam que os produtores domésticos ganharam um forte controle sobre a política comercial dos EUA, o que lhes permite cobrar mais.

"É puro protecionismo e compadrio", avaliou Scott Lincicome, vice-presidente de política comercial do Cato Institute, uma organização de pesquisa que favorece mercados livres.

Folha Mercado

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Trump não impôs tarifas sobre importações de minério de ferro, ferro-gusa e outros produtos que muitos produtores de aço dos EUA usam para fabricar o metal. Mas isso pode mudar se ele acabar impondo uma tarifa de 50% sobre todas as importações do Brasil, um grande fornecedor dessas matérias-primas para usinas americanas.

Na segunda-feira, Goncalves disse que a Cleveland-Cliffs não importa ferro-gusa do Brasil e que não havia "nenhuma justificativa para isentar o ferro-gusa importado de tarifas".

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