Em grave situação financeira, os Correios enfrentam dificuldades até mesmo para conseguir levar a cabo medidas desenhadas para reequilibrar suas contas.
A empresa estatal lançou um PDV (programa de desligamento voluntário) para reduzir seu quadro de pessoal, mas vem prorrogando o fim do prazo de adesão. Segundo duas pessoas a par do tema, a situação do caixa da companhia tem sido um obstáculo.
Os Correios precisam de recursos para honrar o pagamento dos incentivos financeiros usados para atrair os trabalhadores para o programa. No entanto, a empresa tem tido queda de receitas e já considera pedir um socorro à União para evitar um furo no caixa, como antecipou a Folha.
Embora o dinheiro seja um fator por trás das últimas prorrogações do PDV, um dos interlocutores afirma que a decisão também ajuda a angariar maior número de adesões.
Nas últimas semanas, a empresa implementou o fim do teletrabalho para alguns grupos, o que acabou incentivando o ingresso de empregados no programa, pois muitos não querem voltar para o trabalho presencial.
A situação financeira dos Correios virou motivo de embates entre o comando da companhia e o governo. Na sexta-feira (4), o presidente da estatal, Fabiano Silva dos Santos, entregou sua carta de demissão, como mostrou o Painel. Ele deve se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nos próximos dias para falar sobre a saída.
A situação se acirrou após os Correios alertarem o governo que podem precisar de um socorro da União, mediante aporte de recursos.
Segundo pessoas a par das discussões, o aviso foi dado primeiro ao ministro Fernando Haddad (Fazenda) e depois a outros integrantes do Executivo em reunião ocorrida em 16 junho na Casa Civil. Participaram do encontro o ministro Rui Costa, além de representantes da Fazenda, da Gestão e das Comunicações —pasta à qual a empresa é vinculada.
A equipe econômica já indicou que não há espaço no Orçamento para fazer qualquer aporte nos Correios, pois a medida exigiria cortes em outras áreas. No entanto, técnicos ouvidos sob reserva reconhecem que a situação da empresa é delicada, e uma injeção de recursos pode se tornar inevitável.
Em cenários pessimistas, a empresa precisaria de um socorro de R$ 4 bilhões a R$ 5 bilhões para resolver sua situação financeira. Só para este ano, a necessidade pode ficar em torno de R$ 2 bilhões.
No governo Lula, os Correios acumulam uma sequência de prejuízos crescentes. A empresa saiu de um resultado negativo de R$ 633,5 milhões em 2023 para um prejuízo de R$ 2,6 bilhões no ano passado. Apenas nos três primeiros meses de 2025, a companhia registrou um saldo negativo de R$ 1,7 bilhão, mais que o dobro do acumulado no primeiro trimestre de 2024 (R$ 801,2 milhões).
Segundo um participante da reunião de 16 de junho, o presidente dos Correios apresentou dados da situação financeira da empresa e cenários de fluxo de caixa, alguns deles evidenciando a necessidade de aporte. O diagnóstico é de que o quadro, que já é preocupante em 2025, se agravará no ano que vem, quando as parcelas de financiamentos contratados começarão a pesar mais no orçamento da empresa.
A empresa enfrenta um cenário de queda nas receitas, enquanto as despesas continuam subindo. Para tentar ajustar as contas, a companhia começou a vender imóveis e lançou o PDV. Mesmo assim, queimou boa parte do seu caixa para honrar obrigações e agora tem recorrido a empréstimos para ganhar fôlego no curto prazo.