A sobretaxa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros foi defendida neste domingo (13) por Kevin Hassett, diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca durante o governo Trump. Em entrevista à emissora americana ABC News, Hassett afirmou que a medida faz parte de uma estratégia tarifária global.
Segundo o conselheiro, o objetivo central da administração Trump é repatriar a produção industrial para reduzir o que ele chamou de "emergência nacional" —o elevado déficit comercial dos EUA.
"O que estamos fazendo, absolutamente, coletivamente em todos os países, é trazer a produção de volta para os EUA para reduzir a emergência nacional", disse Hassett no programa This Week.
O apresentador Jonathan Karl, no entanto, lembrou que os Estados Unidos, na verdade, têm superávit comercial com o Brasil —ou seja, vendem mais para o país do que importam. Hassett respondeu dizendo que, mesmo nesses casos, é necessário manter uma estratégia tarifária ampla.
"Se não tiver uma estratégia geral, haverá transbordo e tudo mais, e você não alcançará seus objetivos", afirmou o conselheiro de Trump.
A carta enviada por Trump ao governo brasileiro mencionou o processo criminal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado do republicano, como pano de fundo para a decisão. Questionado se a investigação contra Bolsonaro representava, de fato, uma ameaça à segurança nacional dos EUA, Hassett disse: "Bem, não é apenas isso".
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Segundo Hassett, Trump viu algumas ofertas de acordos comerciais e acredita que elas precisam ser aprimoradas. Ele afirmou que o presidente dos EUA prosseguirá com as ameaças de tarifas também sobre o México, a União Europeia e outros países caso não melhorem.
"Bem, essas tarifas são reais se o presidente não conseguir um acordo que considere bom o suficiente", disse Hassett ao programa. "Mas, sabe, as conversas estão em andamento e veremos como a poeira se acomoda."
Atualmente, produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos estão sujeitos a uma sobretaxa de 10%, implementada por Donald Trump em 2 de abril. Essa cobrança adicional se soma às tarifas regulares de importação já aplicadas. A partir de 1º de agosto, essa alíquota será substituída por uma nova tarifa de 50%.
A medida não se aplica a itens que já enfrentam tarifas específicas, como aço e alumínio, que já são taxados em 50%.
Exportadores do Brasil —incluindo os de plásticos, agropecuária, carnes, têxteis, calçados e café — afirmaram ter sido surpreendidos pela decisão. Representantes dessas indústrias defendem que o governo brasileiro busque uma solução diplomática e evite o envolvimento do país em disputas geopolíticas externas.
O governo brasileiro afirmou que tentará negociar as tarifas, mas que, se isso não funcionar, será colocada em prática a reciprocidade.
TROCA DE COMANDO NO FED
Durante a entrevista deste domingo, Hassett também abordou críticas recentes feitas por Trump ao presidente do Fed (Federal Reserve), Jerome Powell.
O foco das críticas agora são os custos considerados excessivos de renovação da sede do banco central americano. Hassett não descartou que isso possa ser usado como argumento para a eventual demissão de Powell: "Se houver causa, o presidente tem [autoridade]", afirmou.
Ao ser pressionado por uma resposta direta sobre se Trump pode ou não demitir Powell, Hassett esquivou-se. "Isso é algo que está sendo investigado", disse.
Hassett disse que o Fed "tem muito a responder" sobre os estouros de orçamento da reforma de sua sede em Washington.
Ele afirmou que qualquer decisão de Trump de tentar demitir Powell devido ao que o governo Trump chama de estouro de orçamento de US$ 700 milhões (R$ 3,8 bilhões) "dependerá muito das respostas que recebermos às perguntas que Russ Vought enviou ao Fed".
Vought, o diretor de orçamento da Casa Branca, criticou Powell na semana passada por uma "reforma ostensiva" dos prédios do Fed e pelas respostas a uma série de perguntas. Trump tem dito repetidamente que Powell deveria renunciar porque não reduziu as taxas de juros.
Com Reuters