Temporada de montanha não precisa ser sinônimo de encrenca.

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No final de semana passado, Gabriel Pessanha virou notícia no Fantástico, da TV Globo, que mostrou a operação de seu resgate de uma fenda na descida da Pedra do Sino, na Serra dos Órgãos, no estado do Rio de Janeiro. A operação, felizmente, teve um desfecho mais feliz que o trágico caso de Juliana Marins, que morreu na queda do vulcão Rijani, na Indonésia, no final de junho. Gabriel saiu vivo, com alguns arranhões, graças à pronta atuação dos bombeiros do Rio de Janeiro, acionados pelo amigo que descia com ele e o perdera de vista quando se assustou com a descida íngreme, como confessou candidamente à emissora, e resolveu procurar outra via mais fácil. Não encontrou.

Com a temporada de montanha bombando pelo país —leia-se os meses mais secos e frescos, geralmente entre maio e setembro— têm se multiplicado pelas redes sociais vídeos mostrando resgates bem ou mal sucedidos de aventureiros em todo o mundo. Mesmo para aqueles que nunca ligaram para o assunto, mas acompanharam a tragédia de Juliana, os algoritmos cuidaram de garantir que suas contas nas redes sociais recebessem uma verdadeira enxurrada de cenas de escaladores e trilheiros em situações dramáticas, quando não fatais.

Como autora desta coluna, sempre achei natural receber tantos vídeos de perrengues variados. Mas, pelo que tenho ouvido e lido de pessoas que nunca puseram os pés em uma trilha nem têm a menor ideia de para que serve um piolet ou um shit tube, o ataque algorítmico é onipresente e povoa os pesadelos até de quem se prepara para dar uma simples volta pelo parque mais próximo.

O aumento da procura por esse perfil de esporte, aditivada desde a pandemia de Covid-19 de 2020, naturalmente potencializou a contabilidade de acidentes e incidentes na natureza. São irritantemente insistentes os vídeos que mostram corpos abandonados no caminho que ascende ao cume do Everest, muitos dos quais nunca serão resgatados. E são praticamente diárias notícias de grupos de trilheiros e montanhistas e aventureiros que, como Pessanha, precisaram acionar resgates em situações de risco extremo, por motivos que vão desde falha na previsão do tempo à falta de noção de quem acha que basta jogar uma mochila às costas para sair subindo morro por aí. Sem esquecer, claro, das decisões erradas nas horas mais impróprias, mal que afeta até montanhistas experientes.

Mas, irresponsabilidades à parte, nunca é demais apelar para alguns números que ajudam a estabelecer a devida perspectiva dos fatos.

No Rio de Janeiro, o Corpo de Bombeiros Militar do estado registrou 155 acionamentos para salvamentos de pessoas em matas, trilhas e florestas, mesmo número registrado em igual período de 2024.

Em São Paulo, a assessoria do Corpo de Bombeiros do estado informa que a corporação realizou, já, 134 resgates em situação de mata desde o começo do ano, dois a mais que no ano passado. As contas anualizadas registram 242 ocorrências em 2023, 226 em 2024 e vai saber quantas serão até o final de 2025.

Mas será que isso quer dizer que é assim tão absurdamente perigoso desfrutar das vistas mais impressionantes que a natureza nos oferece e que a colunista recomenda ficar em casa nas pantufas? Claro que não. Isso quer dizer apenas que há riscos, sim, e que a atividade exige experiência, prática, equipamentos adequados e bom planejamento —de preferência com quem entende do assunto.

Porque sem saber que para atravessar uma rua é preciso olhar para os dois lados, o cidadão não chega nem na esquina.

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