Um planeta gigante para uma pequena estrela

1 mês atrás 11

A ideia de que estrelas de pequeno porte, muito menores que o Sol, não costumam ter planetas gigantes, como Júpiter ou Saturno, a essa altura é conhecimento estabelecido –já observamos suficientes sistemas planetários em torno de anãs vermelhas para saber disso. Contudo, a beleza do Universo está não no que é comum, usual, mas no que é extraordinário. Eis uma descoberta do tipo: um grupo internacional de astrônomos liderado por Edward Bryant, da Universidade de Warwick, no Reino Unido, encontrou um planeta um pouco maior que Saturno em torno de uma estrela com 20% da massa do Sol.

A estrela é conhecida pela sigla TOI-6894, parte do catálogo de objetos de interesse do Tess (Satélite de Pesquisa de Explanetas em Trânsito), da Nasa. "Eu fiquei muito empolgado com essa descoberta", disse Bryant em nota. "Originalmente vasculhei observações do Tess de mais de 91 mil estrelas anãs vermelhas de baixa massa à procura de planetas gigantes. Então, usando observações feitas com um dos maiores telescópios do mundo, o VLT do ESO, eu descobri o TOI-6894b, um planeta gigante transitando à frente da estrela de menor massa vista até hoje a abrigar um desses planetas."

Como se vê, é uma ocasião rara: vasculhar 91 mil estrelas para encontrar um planeta dá uma medida da dificuldade. A beleza do achado está no fato de que nossa compreensão atual do processo que leva à formação de planetas não pode responder por ele.

O modelo mais tradicional é o da acreção de núcleos, em que um sistema nascente forma um disco de gás e poeira que acaba agregando material em núcleos rochosos que, a partir de um determinado tamanho, por gravidade, passam a atrair e agregar o gás remanescente no disco. É um processo que explica com razoável clareza como Júpiter, Saturno, Urano e Netuno se formaram por aqui, dados o porte do Sol e a quantidade de gás e poeira que deve ter existido no seu disco de acreção, 4,6 bilhões de anos atrás.

Estrelas muito menores que o Sol, contudo, têm muito menos gás em seu entorno, o que basicamente inviabiliza a formação de planetas gigantes. Só que não aconteceu assim em TOI-6894. "Nós não esperávamos que planetas como o TOI-6894b fossem capazes de se formar em torno dessa estrela de baixa massa", diz Bryant.

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Os dados da descoberta, publicados em artigo na Nature Astronomy, dão conta de que o planeta, embora tenha diâmetro pouco maior que o de Saturno, tem apenas metade da massa dele. É algo que também chama atenção, já que o nosso Saturno já é bem pouco denso (se você pudesse colocá-lo num piscina de água, ele boiaria), e esse exoplaneta seria ainda menos.

Espera-se que a descoberta permita que os cientistas refinem os modelos de formação planetária de forma a abarcar também esse caso especial –talvez evocando uma instabilidade gravitacional inicial no disco de acreção que favorecesse a formação rápida e eficiente de um planeta gigante nos primórdios do sistema.

Isso não quer dizer que nosso entendimento atual de formação planetária esteja errado –apenas que está incompleto. E por isso há enorme beleza nas exceções como TOI-6894. É através delas que podemos ampliar nossa compreensão e ter um vislumbre mais claro de toda a criatividade que a natureza exerce na imensidão do Universo, explorando virtualmente todos os caminhos permitidos pelas leis da física.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, em Ciência.

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