A viagem do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e sua comitiva a El Salvador, em maio, custou R$ 197 mil aos cofres do estado.
Os valores foram obtidos pela Folha por meio de pedido via Lei de Acesso à Informação (LAI) e dos dados do Portal da Transparência.
Os custos envolveram passagens aéreas, diárias dos servidores, a hospedagem do governador e outras despesas, como contratação de intérprete e aluguel de van no país da América Central.
Além de Zema, participaram da viagem os secretários de Comunicação, Bernardo Santos, e de Justiça e Segurança Pública, Rogério Greco, além de cinco servidores da gestão estadual.
A viagem do governador foi justificada à época em razão de o país liderado por Nayib Bukele ter derrubado de maneira expressiva os níveis de violência com base em uma política linha-dura na segurança.
A melhora nos indicadores, no entanto, veio em meio a uma operação de encarceramento em massa que aprisiona muitos inocentes, segundo organizações de direitos humanos. O estado de exceção é renovado no país a cada dois anos.
Apesar do discurso, a comitiva de Zema contou com apenas um membro ligado à segurança pública –o secretário Greco. Dos outros 6 participantes, 4 são ligados à comunicação do governador.
A viagem de cinco dias de Zema rendeu diversas publicações em suas redes sociais. Ele não chegou a se encontrar com Bukele, mas teve agendas com o vice-presidente, Félix Ulloa, além de outras autoridades. O roteiro também incluiu entrevistas à imprensa local e visitas a comunidades.
Questionado sobre quais foram os retornos dos valores gastos e da viagem e à população mineira, o Governo de Minas não respondeu.
A ida de Zema a El Salvador está inserida na estratégia da equipe do governador de cacifar seu nome para as eleições presidenciais do próximo ano. Apoiador de Jair Bolsonaro (PL), o mineiro é um dos pré-candidatos que tentam surfar no espólio eleitoral do ex-presidente, que está inelegível até 2030 devido a condenações na Justiça Eleitoral.
Além das críticas ao governo Lula (PT) e destaques a números de sua gestão, o tema da segurança aparece entre os mais citados nas publicações e discursos de Zema diante de uma maior preocupação da população brasileira sobre o tema.
Também em maio, o governador divulgou um vídeo em que repete um discurso divulgado meses antes pelo presidente de El Salvador com teorias conspiratórias sobre o combate à criminalidade. Na gravação, Zema usa argumento de Bukele, sobre os Estados Unidos não terem áreas dominadas por facção, para criticar a segurança nacional.
O governador, porém, enfrenta reveses na área da segurança pública em Minas. Nos últimos anos, membros de facções do Rio de Janeiro têm se instalado no estado e disputado territórios com criminosos locais.
É o caso do TCP (Terceiro Comando Puro), que ocupou por anos uma comunidade de Belo Horizonte. Em novembro passado, uma operação conjunta das forças de segurança disse ter desmobilizado a organização ao deter 14 suspeitos.
Na região metropolitana da capital mineira, moradores publicam nas redes sociais cenas de guerra entre facções rivais.
Além disso, Zema tem sido muito questionado por representantes das forças de segurança no estado, que reclamam da falta de reposição salarial nos últimos anos.
Este foi um dos motivos para o desembarque, neste ano, do PL da base aliada na Assembleia Legislativa.
Minas Gerais foi em 2023 o quarto estado com menos mortes registradas a cada 100 mil habitantes, segundo o mais recente Atlas da Violência, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
Os mineiros, porém, viram uma alta de 3,2% nesse indicador em relação a 2022.