A volta do 'homem-tarifa' na semana da retomada da guerra comercial mundial

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A semana começou com cobranças ao Japão e à Coreia do Sul. Depois veio uma ofensiva contra importações de cobre e medicamentos. Em seguida, uma repreensão brutal ao Brasil e, por fim, o Canadá. Dezenas de parceiros comerciais dos EUA enfrentam tarifas punitivas com um novo prazo até 1º de agosto.

Esta foi a semana em que Donald Trump retomou a sua guerra comercial global após uma pausa de três meses nas dramáticas taxas que anunciou no "Dia da Libertação" em 2 de abril.

O retorno do autoproclamado "homem das tarifas" ocorre enquanto governos estrangeiros enfrentam a perspectiva de rapidamente fechar um acordo comercial com o presidente norte-americano, ou retornar às taxas punitivas anunciadas em abril conforme a suspensão expira.

Isso acontece após semanas em que o nacionalismo comercial e econômico foi substituído no topo da agenda de Trump por esforços para aprovar seu principal projeto de impostos e gastos em um Capitólio dividido, e uma guerra entre Irã e Israel que arriscava arrastar os EUA para um conflito regional mais amplo.

"Foi um exercício de parecer duro quando na verdade você está apenas estendendo a pausa", afirmou Michael Smart, diretor-gerente da Rock Creek Global Advisors.

Relançando sua guerra comercial esta semana, Trump anunciou uma nova tarifa de 50% sobre importações de cobre e disse que estava considerando atingir produtos farmacêuticos com uma taxa de 200%.

No final de quinta-feira, ele publicou uma carta ameaçando o Canadá —um dos maiores parceiros comerciais dos EUA— com tarifas de 35%. Em uma entrevista na mesma noite, ele avisou às nações da União Europeia que esperassem um anúncio semelhante em poucas horas.

A enxurrada de cartas começou na segunda-feira (7), estabelecendo novas taxas entre 25 e 40% para 14 países, entre eles Japão e Coreia do Sul, enquanto concedia ao mundo mais três semanas para fechar acordos.

Enviadas para pouco mais de 20 países —incluindo África do Sul, Tailândia, Tunísia e Bangladesh— as cartas de Trump delinearam taxas que correspondiam ou estavam próximas das taxas "recíprocas" originais que ele estabeleceu em abril.


VEJA AS TARIFAS ANUNCIADAS NESTA SEMANA

Alíquota País
50% Brasil
40% Laos, Mianmar
36% Camboja, Tailândia
35% Bangladesh, Canadá, Sérvia
32% Indonésia
30% África do Sul, Argélia, Bósnia e Herzegovina, Iraque, Líbia, Sri Lanka
25% Brunei, Cazaquistão, Coreia do Sul, Japão, Malásia, Moldávia, Tunísia
20% Filipinas

O presidente disse que países que não receberem cartas terão que pagar uma taxa geral mais alta entre 15% e 20%, acima dos 10% anteriores.

Mas o jogo de pressão dos avisos ameaçadores e prazos de Trump tem sido enfraquecido pela dificuldade de alcançar acordos comerciais.

Longe de garantir 90 acordos em 90 dias, conforme prometido por Peter Navarro, um dos principais conselheiros comerciais de Trump, os EUA têm apenas três acordos até o momento, segundo sua própria contagem.

Entre estes estão um acordo limitado com o Reino Unido que oferece algumas cotas tarifárias reduzidas em ambos os lados, uma delicada trégua na guerra comercial com a China e o anúncio de Trump de que aplicaria tarifas entre 20% e 40% sobre mercadorias do Vietnã, um grande exportador para os EUA. Ele disse que Hanói permitiria aos EUA vender produtos em seu mercado sem tarifas.

Nenhum texto escrito descrevendo os acordos com o Vietnã e a China foi divulgado publicamente.

Conversas com outros países —incluindo grandes parceiros comerciais e aliados dos EUA como Japão, Coreia do Sul, Índia e UE— não foram concluídas antes do fim da pausa de 90 dias.

"As cartas tarifárias parecem sinalizar uma frustração do presidente com a falta de progresso nas negociações comerciais, junto com um desejo de acender um fogo entre nossos parceiros para oferecerem mais", afirmou Wendy Cutler, ex-negociadora comercial dos EUA e que hoje é vice-presidente do Instituto de Política da Sociedade Ásia.

Uma autoridade dos EUA disse que Trump mudou seu pensamento e agora decidiria sobre uma taxa tarifária e prazo. A fonte afirmou que a intenção do governo é mostra que pode chegar ao acordo através de negociação ou por imposição das condições estipuladas pelos EUA, sem precisar de negociação.

Uma exceção foi a carta ao Brasil, que Trump ameaçou atingir com uma tarifa de 50% e acusou o país de atacar a liberdade de expressão, no que pareceu ser uma repreensão sobre o tratamento dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

O real brasileiro caiu 2,3% em relação ao dólar e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ameaçou responder com reciprocidade.

Diferentemente de abril, quando as tarifas de Trump causaram uma queda global no mercado de ações, Wall Street ignorou as novas ameaças tarifárias, com investidores apostando que o presidente recuaria novamente da aplicação de suas taxas mais punitivas.

"Parece que estamos oscilando entre escalada e desescalada", disse Myron Brilliant, conselheiro sênior do DGA-Albright Stonebridge Group. "Acho que choque e temor são menos eficazes agora como tática, e o que todos deveríamos querer é mais previsibilidade através de acordos que façam a diferença e deixem a incerteza para trás", avaliou.

Folha Mercado

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Mas um ex-funcionário do governo dos EUA sugeriu que a combinação de grandes ameaças de Trump enquanto oferece mais tempo aos países foi uma tentativa deliberada de evitar a turbulência do mercado —incluindo uma forte venda de títulos do Tesouro dos EUA— que foi desencadeada em abril.

Em sua avaliação, o governo Trump precisa implementar as tarifas, mas evitar que elas resultem em inflação ou uma venda desenfreada das ações em Wall Street. Outros alertaram que o presidente estava ficando impaciente e não estenderia seu prazo pela segunda vez.

Quaisquer aliados esperando um segundo adiamento estariam "cometendo um grande erro", disse Wilbur Ross, que serviu como secretário de comércio de Trump durante o primeiro mandato. "Acho que ele deixou bem claro que não quer prolongar isso por muito mais tempo."

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