O presidente Lula (PT) criticou nesta terça-feira (8) o período atual de guerras no mundo, e afirmou, durante recepção ao primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, que os ensinamentos de Mahatma Gandhi estão sendo jogados fora.
"Infelizmente, o mundo está vivendo um período de conflito, provavelmente mais do que o da Segunda Guerra Mundial", declarou Lula. "Está gastando com armas o que não tem vontade de gastar com alimentos, com a luta contra a desigualdade dos povos, na educação, na saúde. A desigualdade até do berço em que nasce."
O líder indiano está em Brasília após ter participado da cúpula do Brics, no Rio de Janeiro, que reuniu os países do bloco econômico.
Modi foi recebido pelo presidente brasileiro para uma reunião no Palácio do Alvorada, seguida de cerimônia de assinatura de atos e declaração à imprensa. Em seguida, o visitante será homenageado com almoço, também no Alvorada.
"Nós achamos que o mundo não precisa de guerra, o mundo precisa de respeito. Cada país tem que respeitar a extensão territorial [do outro]. Por isso que condenamos a invasão da Rússia à Ucrânia e o que está acontecendo com o povo palestino. O que é mais importante é que Brasil e Índia têm um potencial extraordinário e é por isso que reivindicamos um assento no conselho de segurança da ONU", disse, pontuando um dos objetivos de longa data da diplomacia brasileira.
Em seu discurso, Lula também voltou a criticar o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pelas taxações aos países do Brics, anunciada pelo americano na segunda-feira (7).
Brasil e Índia estabeleceram parceria estratégica em 2006. Desde então, os dois países cooperam em instâncias internacionais, a exemplo da ONU, do G20, do Brics e do G4, que também reúne Alemanha e Japão em um grupo que busca assentos permanentes no Conselho de Segurança.
Na cooperação bilateral, os dois líderes devem reforçar cinco pilares prioritários para o trabalho conjunto ao longo da próxima década: defesa e segurança; segurança alimentar e nutricional, transição energética e mudança climática, transformação digital e tecnologias emergentes e parcerias industriais em setores estratégicos como indústria aeronáutica, farmacêutica, setor de petróleo e gás e minerais críticos.
A ex-presidente da República Dilma Rousseff, hoje presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, o banco do Brics, participou da cerimônia, assim como o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o assessor internacional da Presidência, Celso Amorim.
Lá Fora
Receba no seu email uma seleção semanal com o que de mais importante aconteceu no mundo
Também estiveram presentes os ministros do governo brasileiro Alexandre Silveira (Minas e Energia), José Múcio (Defesa), Marina Silva (Meio Ambiente), Luciana Santos (Ciência e Tecnologia), Esther Dweck (Gestão e Inovação), Alexandre Padilha (Saúde), Ricardo Lewandowski (Justiça) e Carlos Fávaro (Agricultura e Pecuária).
Lula visitou a Índia em setembro de 2023, ocasião em que participou da cúpula do G20 e manteve reunião com Modi. Em agosto de 2024, foi realizada a 9ª Reunião da Comista (Comissão Mista de Cooperação Política, Econômica, Científica, Tecnológica e Cultural Brasil), o principal mecanismo de diálogo e coordenação entre o Brasil e a Índia, em Nova Déli, sob a co-presidência dos chanceleres dos dois países.
Ainda no ano passado, o comércio bilateral totalizou US$ 12 bilhões, o que manteve a Índia na posição de 10º maior parceiro comercial do Brasil. As exportações foram de US$ 5,26 bilhões, sendo a Índia o 13º destino de exportações brasileiras.
As importações foram de US$ 6,8 bilhões, o que fez da Índia a 6ª maior origem de importações pelo Brasil. Em 7 de julho, no Rio de Janeiro, foi realizada a 1ª reunião do Fórum Empresarial Brasil–Índia, fruto da parceria entre a CNI e a Federação de Indústria e Comércio da Índia (FICCI).
Desde a cúpula do G20 em Nova Déli, em setembro de 2023, 72 missões brasileiras de promoção comercial e de investimentos foram à Índia. Ao Brasil, vieram cerca de 40 missões indianas no mesmo período.