Ataque israelense mata família faminta enquanto dormia na Cidade de Gaza, dizem palestinos

3 dias atrás 3

A família Al-Shaer foi dormir com fome em sua casa na Cidade de Gaza. Um ataque aéreo israelense os matou enquanto dormiam.

A família —a jornalista freelancer Wala al-Jaabari, seu marido e seus cinco filhos— está entre as mais de cem pessoas mortas em 24 horas de ataques israelenses, segundo autoridades do Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas.

Seus corpos estavam enrolados em mortalhas brancas diante da casa bombardeada nesta quarta-feira (23), com os nomes escritos à caneta. O sangue escorria pelos panos, tingindo-os de vermelho. "Este é meu primo. Ele tinha dez anos. Nós os tiramos dos escombros", disse Amr al-Shaer, segurando um dos corpos após resgatá-lo.

Iman al-Shaer, outro parente que vive nas proximidades, disse que a família não havia comido nada antes dos bombardeios. "As crianças dormiram sem comer", afirmou.

O Exército israelense não comentou os ataques à casa da família, mas informou que sua Força Aérea atingiu 120 alvos em Gaza no último dia, incluindo "células terroristas, estruturas militares, túneis, estruturas armadilhas e outros locais de infraestrutura terrorista".

Lá Fora

Receba no seu email uma seleção semanal com o que de mais importante aconteceu no mundo

Palestinos disseram que alguns vizinhos escaparam apenas porque estavam fora de casa procurando comida no momento do ataque.

Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, outras dez pessoas morreram de fome durante a noite, aumentando para 111 o número de mortos por inanição —a maioria nas últimas semanas.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), por sua vez, afirmou que 21 crianças com menos de cinco anos estão entre os que morreram de desnutrição neste ano. A entidade disse que não conseguiu entregar alimentos por quase 80 dias, de março a maio, e que a retomada das entregas ainda está muito abaixo do necessário.

Em comunicado também nesta quarta, 111 organizações, incluindo a Mercy Corps, o Conselho Norueguês para Refugiados e a Refugees International, afirmaram que a fome está se espalhando, mesmo com toneladas de comida, água potável e suprimentos médicos estocados fora de Gaza —grupos de ajuda humanitária estão impedidos de acessar o território.

Médicos também relataram que disparos de tanques atingiram casas e mesquitas, matando pelo menos três palestinos e ferindo vários outros.

Israel, que cortou todos os suprimentos para Gaza desde o início de março e reabriu com novas restrições em maio, afirma estar comprometido com a entrada de ajuda, mas que precisa controlá-la para evitar que seja desviada por militantes.

Tel Aviv também acusou as Nações Unidas de não agirem com a devida rapidez, dizendo que 700 caminhões de ajuda estão parados dentro de Gaza. "É hora de eles pegarem essa ajuda e pararem de culpar Israel pelos gargalos que estão ocorrendo", disse o porta-voz do governo israelense, David Mercer.

A ONU e grupos de ajuda que tentam entregar comida a Gaza afirmam que Israel, que controla tudo que entra e sai do território, está estrangulando as entregas —e que tropas israelenses já mataram centenas de palestinos perto de pontos de distribuição desde maio.

"Temos um conjunto mínimo de condições para poder operar dentro de Gaza", disse Ross Smith, diretor de emergências do Programa Mundial de Alimentos da ONU, à agência Reuters. "Uma das coisas mais importantes que quero destacar é que precisamos que não haja atores armados perto dos nossos pontos de distribuição e comboios."

A guerra entre Israel e o Hamas já dura quase dois anos, desde que o Hamas matou cerca de 1.200 israelenses e capturou 251 reféns no ataque mais mortal da história de Israel.

Desde então, Israel matou quase 60 mil palestinos em Gaza, destruiu o Hamas como força militar, reduziu grande parte do território a escombros e forçou praticamente toda a população a fugir de suas casas várias vezes.

O enviado dos EUA para o Oriente Médio, Steve Witkoff, deve realizar novas conversas sobre cessar-fogo, viajando à Europa nesta semana para reuniões sobre a guerra em Gaza e outras questões, segundo um funcionário americano.

As negociações sobre uma proposta de cessar-fogo de 60 dias entre Israel e o Hamas, que incluiria a libertação de parte dos 50 reféns ainda mantidos em Gaza, estão sendo mediadas por Qatar e Egito com o apoio de Washington.

Rodadas sucessivas de negociação não conseguiram avanços desde o colapso de um cessar-fogo em março.

O presidente de Israel, Isaac Herzog, disse a soldados durante visita a Gaza nesta quarta que "negociações intensas" para a devolução dos reféns estavam em andamento e que esperava que "logo ouvíssemos boas notícias", segundo um comunicado.

Mas o gabinete do primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, inclui partidos de extrema direita que se opõem a qualquer acordo que não resulte na destruição total do Hamas.

"No segundo em que eu perceber fraqueza do primeiro-ministro e, se eu achar, Deus me livre, que isso está prestes a terminar com a nossa rendição, em vez da rendição total do Hamas, não permanecerei [no governo] nem mais um único dia", disse o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, à rádio do Exército.

Read Entire Article