Atuais e ex-funcionários pedem que Nasa não implemente cortes de Trump

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Em uma carta pública divulgada nesta segunda (21), atuais e ex-funcionários da Nasa pedem aos líderes da agência espacial que não implementem os cortes solicitados pelo governo Donald Trump.

"Somos obrigados a nos manifestar quando nossa liderança prioriza o impulso político em detrimento da segurança humana, do avanço científico e do uso eficiente dos recursos públicos", escreveram os funcionários na carta. O texto é endereçado a Sean Duffy, administrador interino da Nasa.

Os cortes nos programas da Nasa têm sido arbitrários e desafiam as prioridades estabelecidas pelo Congresso, na avaliação dos funcionários. "As consequências para a agência e para o país são igualmente graves", escreveram eles.

Em um comunicado por email, Bethany Stevens, a secretária de imprensa da Nasa, afirmou que a agência nunca comprometeria a segurança. "Quaisquer reduções —incluindo nossa atual redução voluntária— serão projetadas para proteger funções críticas de segurança", disse ela.

"Para garantir que a Nasa cumpra seu papel para o povo americano, estamos continuamente avaliando os ciclos de vida das missões, não para manter missões desatualizadas ou de menor prioridade", afirmou Stevens.

A carta desta segunda-feira assemelha-se a outras com críticas feitas por funcionários dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) e da Agência de Proteção Ambiental (EPA). Jay Bhattacharya, diretor do NIH, disse que respeitava a manifestação. A EPA, por sua vez, pôs 144 signatários da carta em licença.

"Estamos todos com medo de sermos demitidos", afirmou Monica Gorman, analista de pesquisa operacional no Centro Espacial Goddard da Nasa em Greenbelt, Maryland. "Tememos sofrer retaliação.Vamos ao banheiro para conversar uns com os outros e olhamos por baixo das cabines para ter certeza de que não há mais ninguém lá antes de falarmos."

Gorman está entre os 287 signatários da carta —mais da metade o fez anonimamente. Hoje, mais de 15 mil pessoas trabalham na agência espacial. Cientistas de fora da Nasa, incluindo 20 ganhadores do Prêmio Nobel, também ofereceram seus nomes em apoio.

A carta do NIH inspirou algumas pessoas na Nasa a organizar um esforço semelhante.

Os autores da carta do NIH chamaram sua dissidência de Declaração de Bethesda —a agência fica em Bethesda, Maryland—, e os da carta da Nasa batizaram a sua de Declaração Voyager, em homenagem às sondas Voyager 1 e Voyager 2, lançadas nos anos 1970 e que continuam em operação.

Na avaliação de um dos organizadores da carta, a administração da Nasa tem transmitido a ideia de que ninguém vai salvá-los, nem o Congresso. Então, divulgar a carta seria a forma de tentarem se salvar.

A carta é considerada uma "discordância formal", um processo oficial na Nasa para registrar desacordos que os gestores podem não querer ouvir. Foi parte das mudanças instituídas na agência após as perdas dos ônibus espaciais Columbia e Challenger, quando as preocupações de alguns engenheiros foram ignoradas.

Stand Up for Science, uma organização sem fins lucrativos que tem organizado oposição aos cortes da administração Trump em pesquisas científicas, ajudou a coordenar as cartas para as três agências.

Em sua solicitação orçamentária ao Congresso em junho, o governo Trump propôs cortar o orçamento da Nasa em quase 25%. A diretoria de missão científica da agência, que inclui ciências da Terra, missões do sistema solar e astrofísica, enfrentaria um corte de 47%, de US$ 7,3 bilhões para US$ 3,9 bilhões. Dezenove missões científicas atualmente em operação, incluindo o Observatório de Raios-X Chandra, a missão Juno em Júpiter e os dois Observatórios Orbitais de Carbono, seriam desligadas e descartadas.

O Congresso não parece concordar com cortes tão duros. Em sua proposta orçamentária para a Nasa, um subcomitê do Senado propôs destinar US$ 7,3 bilhões para a diretoria de missão científica da agência para o ano fiscal de 2026, o mesmo valor do ano atual. Seu equivalente na Câmara dos Representantes foi menos generoso, propondo US$ 6 bilhões.

Embora a Nasa tenha até agora evitado demissões generalizadas, milhares de funcionários saíram ou estão planejando sair por meio de ofertas de aposentadoria antecipada e indenizações.

"Alguns que conheço saíram porque querem abrir espaço para que pessoas mais jovens permaneçam", disse Gorman. "A minha supervisora, que se aposentou, disse que queria tentar tornar mais provável que o resto de nós não fosse demitido."

Uma reclamação dos autores da carta é que os líderes da Nasa tomaram decisões baseadas nos cortes propostos pelo presidente, sem esperar para ver o que o Congresso vai decidir.

Outra preocupação é que, mesmo se o Congresso fornecer dinheiro para missões científicas, a administração poderia se recusar a gastá-lo.

Na semana passada, em uma carta para Duffy, duas democratas do Comitê de Ciência, Espaço e Tecnologia da Câmara —as deputadas Zoe Lofgren, da Califórnia, e Valerie Foushee, da Carolina do Norte— acusaram a Nasa de implementar ilegalmente as prioridades de Trump.

"O Congresso orienta a Nasa a gastar dinheiro em certas missões, programas e prioridades; e o Congresso estabelece as políticas que a Nasa deve implementar", escreveram Lofgren e Foushee. "Essas ações do Congresso não são pedidos amigáveis. São a lei."

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