CEO da Titans Space diz que Laysa Peixoto fará parte de treinamento e declara apoio à brasileira

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O CEO da americana Titans Space, Neal Lachman, afirmou no último sábado (14) que a brasileira Laysa Peixoto faz parte do programa de treinamento da empresa para astronautas. Ele não mencionou, porém, se ela estará em seu voo inaugural, ainda nesta década. A jovem não vai pagar pelo treinamento.

No último dia 5, Laysa anunciou em um post no Instagram que se tornaria a primeira mulher brasileira a ir ao espaço em um voo em 2029 —até hoje, só dois brasileiros foram ao espaço, Marcos Pontes, em 2006, e Victor Hespanha, em 2022 .

"Fui selecionada para me tornar astronauta de carreira, atuando em voos espaciais tripulados para estações espaciais privadas, e para futuras missões tripuladas à Lua e para Marte. Sou oficialmente astronauta da turma de 2025 e farei parte do voo inaugural da Titans Space, comandado pelo astronauta veterano da Nasa, Bill McArthur", escreveu ela.

Porém, após o anúncio, o currículo da jovem foi posto em xeque.

Em publicação também no Instagram em outubro de 2023, Laysa afirmou que seria "a primeira brasileira a liderar uma equipe na criação de tecnologias na Nasa". Em um segundo post no mesmo mês, disse que se orgulhava de ser a primeira brasileira a "liderar equipes na criação de tecnologia da Nasa, sendo a autora de três delas que serão lançadas a Lua, Marte e Encélado nos próximos anos".

Em uma entrevista ao programa Palavra Cruzada da Rede Minas, exibido no terceiro trimestre de 2024, ela afirmou que seria a primeira pessoa da América Latina a liderar experimentos e invenções da agência espacial. Laysa mencionou que, por meio de um programa da Nasa, conduziria experimento em gravidade zero de uma inteligência artificial para ajudar astronautas a tomarem decisões.

Segundo o site G1, a Nasa negou que Laysa tenha recebido treinamento para ser astronauta ou participado de seu programa de formação. A Folha procurou a agência espacial americana por email, mas não recebeu resposta.

Em nota enviada por meio da assessoria de imprensa, Laysa disse que no anúncio feito no Instagram que mencionou ter sido selecionada como astronauta da Titans. "Em nenhum momento existe uma citação à Nasa, ou que seria uma astronauta da agência", afirmou ela.

A jovem, segundo a nota, nunca disse que trabalhava para a Nasa, "mas que liderava equipes no programa L’space", o que gera dois certificados, Experiência em Redação e Avaliação de Propostas da Nasa (NPWEE) e Academia de Conceitos de Missões da Nasa (MCA).

Procurado pela Folha, o programa L'space confirmou que Laysa fez parte do treinamento NPWEE de maio a agosto de 2023 e, logo em seguida, do MCA, de setembro a dezembro do mesmo ano. Os treinamentos são voluntários e voltados para estudantes de graduação e pós-graduação.

Durante o treinamento NPWEE, equipes de estudantes propõem ideias com o intuito de criar ou melhorar tecnologias que atendam necessidades da agência americana. As ideias passam por um processo de seleção, e os estudantes têm a chance de receber US$ 10 mil como capital inicial para desenvolver a proposta.

Segundo o programa, Laysa ocupou o posto de "pesquisador principal" após sua ideia ter sido escolhida pela equipe. A brasileira não levou o prêmio de US$ 10 mil, embora a ideia do time tenha sido "bem desenvolvida e identificada como uma das melhores do semestre".

Segundo o site do programa, o L'space é uma "experiência gratuita, online e interativa" financiada pela Nasa para quem seguir uma carreira na agência. No programa, os participantes colaboram com colegas para completar missões relacionadas a projetos de equipe.

Nascida em Belo Horizonte, Laysa recebeu destaque em 2021 ao descobrir um asteroide em uma campanha da Nasa. Na época, tinha 18 anos e cursava física na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Mais tarde, em 2023, ela acabou desligada do curso por não efetuar matrícula no segundo período, segundo a universidade.

A assessoria de Laysa afirmou que, naquele ano, ela se transferiu para o Manhattan College, em Nova York. Procurada pela reportagem, a universidade americana não respondeu.

Participação na Titans Space

A confirmação da participação de Laysa no projeto da Titans Space foi feita por Lachman em um texto publicado no LinkedIn. Segundo ele, o programa da empresa, batizado de Ascan, fornece "rigoroso treinamento de quatro anos" para preparar futuros astronautas para embarcar em voos.

Lachman afirmou que um patrocínio vai cobrir "todos os aspectos" da preparação dos participantes do programa. Isso engloba financiamento da própria empresa e de um consórcio chamado Astronautas Titans, composto de indivíduos de alta renda que "acreditam profundamente na missão da Titans Space e no futuro da exploração espacial humana".

O CEO declarou apoio à brasileira. "Ela é uma jovem e orgulhosa filha do Brasil e, ao menos que você estivesse disposto a destruir a vida dos seus filhos ou irmãos por qualquer motivo, deveria parar para refletir antes de contribuir para a destruição dela", escreveu ele.

Em seguida, completou que "todos somos humanos, todos cometemos erros" e que todos os indivíduos provavelmente já tentaram se apresentar "na melhor luz possível em algum ponto".

A postagem de Lachman não menciona se Laysa está confirmada para o voo inaugural da companhia previsto para março de 2029 e se restringe a comentar que naquele ano as missões para órbita terrestre baixa, como no caso do voo inaugural da Titans Space, devem se tornar comuns. A companhia diz que em 2032 pretende levar centenas de pessoas para a Lua todos os anos. "Para todos os Ascans selecionados, incluindo a Laysa, a jornada para o espaço não é uma corrida, mas sim uma maratona."

Em outro post no LinkedIn de 11 de junho, no qual citava sua vontade de se tornar o primeiro multi-trilionário do mundo, Lachman disse que, após dois anos de treinamento inicial no programa Ascan, a empresa vai avaliar se o candidato ainda quer continuar na carreira de astronauta e se ele é capaz. "Pode ser que os Acans venham a construir a base lunar conosco ou talvez estejam envolvidos apenas em missões na órbita baixa da Terra", esclareceu.

Lachman também escreveu que a "Titans Space nunca declarou e nunca vai declarar associação direta com a Nasa" e que Laysa não tinha a intenção de associar ela própria e a Titans Space de forma incorreta com a agência espacial.

A Titans Space é uma companhia privada de voos espaciais que oferece viagens turísticas ao espaço. A missão inaugural de março de 2029 custa a partir de US$ 1 milhão (R$ 5,6 milhões) e promete uma viagem de cinco horas, sendo três delas em gravidade zero.

Em relação à autorização do governo americano para realizar suas operações, a companhia respondeu que precisa começar a testar protótipos antes de obter a certificação e autorização para conduzir voos comerciais e operacionais.

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