Betelgeuse, uma estrela supergigante, está rumando para a aniquilação. Em algum momento próximo, em termos galácticos, espera-se que exploda como uma supernova. Mas, apesar de suas propensões autodestrutivas, ela conseguiu fazer e manter uma amizade.
Na última segunda-feira (21), astrônomos anunciaram que detectaram outra estrela extremamente próxima de Betelgeuse. Tão próxima, na verdade, que a segunda estrela atravessa a tênue atmosfera externa da supergigante vermelha.
Os dois objetos formam um par estranho. Diferentemente de Betelgeuse, que caminha para o fim de sua vida, sua companheira, Betelbuddy, ainda não começou a queimar hidrogênio em seu núcleo. Em outras palavras, não entrou na fase de sua vida conhecida como sequência principal.
"Você tem uma estrela que está prestes a morrer, e ela está sendo orbitada por uma estrela que não nasceu completamente", afirmou o astrônomo Miguel Montargès, do Observatório de Paris, que não esteve envolvido na nova pesquisa.
"Não é incrível?", perguntou o cientista Steve B. Howell, do Centro de Pesquisa Ames da Nasa na Califórnia, um dos autores da descoberta. "É meio maluco."
Pode parecer fofo que Betelgeuse tenha um amigo. Mas com amigos como ela, quem precisa de inimigos?
Se Betelgeuse se tornar uma supernova em breve, Betelbuddy provavelmente deixará de existir. Mesmo que a supernova não seja iminente, parece que a estrela companheira "na verdade entrará em espiral e será engolida", disse Howell. Em outras palavras, em qualquer cenário, ela será destruída.
O astrofísico Jared Goldberg, do Instituto Flatiron em Nova York, que não esteve envolvido na nova pesquisa, define de forma mais delicada. "Betelgeuse e seu amigo se abraçarão eternamente."
Encontrada a 700 anos-luz de distância no ombro da constelação de Órion e visível a olho nu, Betelgeuse tem chamado a atenção de observadores. A estrela tem 10 milhões de anos, o que a torna uma novata em termos astronômicos. Mas também é gigantesca: sua massa equivale a 15 vezes a do Sol e às vezes é 14 mil vezes mais brilhante.
Estrelas assim "vivem rápido, brilham intensamente e morrem jovens", segundo a astrofísica Rebecca Oppenheimer, do Museu Americano de História Natural em Nova York, que não esteve envolvida na nova pesquisa. Isso significa que Betelgeuse está em seus anos crepusculares, e uma explosão está a caminho.
"Pode ser amanhã, ou pode ser daqui a muitas gerações", afirmou Goldberg.
Enquanto isso, Betelgeuse tem surpreendido os astrônomos. Seu brilho diminuiu tão drasticamente em 2019 que os cientistas se perguntaram se ela estava prestes a se tornar uma supernova. A explicação acabou sendo uma indigestão estelar: a estrela "arrotou" uma grande nuvem de gás, que formou uma névoa que bloqueou a luz.
Betelgeuse também possui um ciclo inexplicado de cinco a seis anos de aumento e diminuição de brilho. Recentemente, alguns (incluindo Goldberg) previram que uma estrela companheira pode ser responsável, interagindo com Betelgeuse para periodicamente alterar seu brilho. Porém, tentativas de encontrar essa companheira por meio de vários observatórios espaciais não tiveram sucesso.
A notável resolução do telescópio Gemini North, no topo do vulcão Mauna Kea no Havaí, proporcionou o avanço. A equipe de Howell utilizou o telescópio para encontrar Betelbuddy.
"É incrível que a encontraram", disse Montargès.
A descoberta significa que Betelgeuse é um sistema estelar binário.
O nome "Betelgeuse" deriva do árabe e tem sido interpretado como "mão de Órion" ou "mão do gigante". Os responsáveis pela identificação da estrela companheira sugeriram que ela poderia ser chamada de "siwarha", que significa "sua pulseira".
E o mistério dos picos periódicos de brilho da estrela agora tem uma resposta.
A companheira orbita Betelgeuse uma vez a cada cinco a seis anos, passando pela atmosfera externa da supergigante vermelha. Betelbuddy também é extremamente quente. Ao se mover por todo esse gás, ela aquece e ioniza parte dele, fazendo-o brilhar o suficiente para ser visto a 700 anos-luz de distância.
Infelizmente, espera-se que ela acabe engolida pela supergigante vermelha dentro de aproximadamente 10 mil anos.
"Ela está começando a se tornar uma verdadeira estrela", disse Howell sobre a Betelbuddy. "Mas infelizmente nunca conseguirá."