Chanceler brasileiro chega aos EUA, mas sem sinal de que será recebido pela gestão Trump para discutir tarifas

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Após sinais negativos enviados por Washington, integrantes do governo brasileiro afirmam que vão passar a semana insistindo em contatos com o governo Donald Trump para um acordo que evite as sobretaxas de 50% ao Brasil.

Os auxiliares do presidente Lula (PT) ressaltam, porém, que não haverá concessão na parte política ligada ao tarifaço, que inclui a questão jurídica do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ou qualquer outra decisão do Judiciário.

O chanceler Mauro Vieira está em Nova York nesta semana para uma conferência da ONU que discutirá uma solução de dois Estados no conflito Israel-Hamas, mas sem previsão por enquanto de viajar à capital americana.

Interlocutores de Vieira dizem que o chanceler e a Embaixada em Washington mandaram recados a autoridades americanas sobre a disposição de dialogar. Avisaram que ele estará nos EUA e está disposto a ir à capital desde que possa conversar com algum interlocutor autorizado por Trump a tratar de tarifas.

Até este domingo (27), não houve sinalizações positivas para um encontro e, sem perspectiva de agenda, o ministro não deve viajar a Washington. A participação de Vieira na conferência na ONU está programada para terminar na terça (29).

Um funcionário da Casa Branca com acesso às tratativas ligadas às tarifas afirmou à Folha na sexta-feira (25) que o governo Donald Trump avalia não ter recebido engajamento relevante ou propostas significativas por parte do Brasil para negociar os tributos.

Membros do governo brasileiro viram nessa afirmação dois possíveis indicativos: o de que os americanos preparam a narrativa para culpar o governo Lula pela imposição das tarifas e um sinal de que Trump indica querer tratar mesmo de questões não comerciais, mas políticas —o que a gestão brasileira rechaça.

Na carta endereçada ao presidente Lula (PT) em 9 de julho, Trump atribuiu a decisão de elevar a tarifação do país, "em parte", ao que vê como uma "caça às bruxas" contra Bolsonaro. Também citou "centenas de ordens" judiciais que censurariam a liberdade de expressão. O Brasil quer levar a conversa ao campo comercial.

O presidente americano afirmou neste domingo (27) que o prazo de 1º de agosto não será adiado. A Casa Branca prepara um decreto para justificar as tarifas ao Brasil. Integrantes do governo brasileiro torcem para que no dia 1º de agosto Trump lance um calendário de implementação das tarifas, em vez de aplicá-las literalmente no dia.

Em maio, o governo brasileiro enviou uma carta com proposta de acordo a Trump antes de ele anunciar a elevação das tarifas de 10% para 50%. Nesse documento, constavam os pedidos de isenção para determinados produtos, mas também concessões dos brasileiros.

Há duas semanas, Vieira e o vice-presidente Geraldo Alckmin enviaram nova carta cobrando resposta e demonstrando indignação pelos termos usados por Trump para justificar as novas sobretaxas.

Desde então, os negociadores brasileiros afirmam que vêm buscando diálogo com o governo americano, mas que o recado é o de que o assunto está na Casa Branca e o contato formal, fechado.

Em outra frente, uma comitiva de senadores brasileiros está na capital americana nesta semana para tentar sensibilizar autoridades americanas a negociar as tarifas. A agenda do grupo, porém, não inclui ninguém do Executivo dos EUA.

Nesta segunda (28), os parlamentares vão a encontro na Embaixada do Brasil e, à tarde, se reúnem com líderes empresariais na Câmara de Comércio dos EUA. Na terça (29), haverá encontros com senadores americanos, tanto republicanos como democratas. Na quarta (30), último dia da missão, a comitiva brasileira reúne-se com líderes do setor privado americano no Council of the Americas (Conselho das Américas).

A comitiva de senadores, presidida pelo senador Nelsinho Trad (PSD-MS), é formada por oito senadores, sendo dois ex-ministros de Jair Bolsonaro: Tereza Cristina (Agricultura) e Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia).

O grupo ainda tem o líder do governo Lula no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), Carlos Viana (Podemos-MG), Rogério Carvalho (PT-SE), Esperidião Amin (PP-SC), e Fernando Farias (MDB-AL).

Mesmo com a participação de ex-ministros de Bolsonaro, a iniciativa irritou o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que vem atuando desde o início do ano por sanções do governo americano contra o ministro Alexandre de Moraes. A atuação de Eduardo foi importante para o tarifaço anunciado por Trump.

A missão dos senadores é lida no entorno de Lula como forma de tentar sensibilizar os americanos e, sobretudo, o setor privado da importância de negociar as tarifas. O governo aposta na pressão de empresas sobre Trump para evitar as sobretaxas.

Ainda assim, integrantes do Executivo reconhecem que os encontros devem ter pouco efeito prático.

Até a semana passada, a equipe do ministro Fernando Haddad (Fazenda) tentou contato com o homólogo nos EUA, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, mas recebeu como resposta a informação de que o processo está na Casa Branca.

Já o ministro Geraldo Alckmin (Indústria e Comércio) conversou com o secretário do Comércio, Howard Lutnick, no sábado (19). A conversa teria durado 50 minutos e Alckmin reforçou a disposição do governo de dialogar.

Como mostrou a Bloomberg, o governo americano incluirá uma nova declaração de emergência econômica no decreto que prepara para tarifar o Brasil. Trump tem usado esse mecanismo para justificar seu tarifaço global, mas ainda não há detalhes do texto.

Trump também citou ter déficit com o Brasil, o que é incorreto, porque os EUA têm superávit com o país, então os americanos devem buscar alguma justificativa, fora da política, para deixar o decreto mais robusto.

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