Chavismo ganha fôlego um ano depois de fraude eleitoral

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Na segunda-feira (28) completa-se um ano da eleição presidencial venezuelana de 2024, considerada fraudulenta por observadores internacionais e rejeitada por diversos países, entre eles os EUA. A votação, que simbolizou mais uma derrota para os que lutam pela volta da democracia ao país, consagrou mais uma vitória forjada de Nicolás Maduro e selou o fracasso da coalizão opositora unificada em torno de María Corina Machado.

Desde então, a perseguição aos dissidentes se intensificou. Centenas de apoiadores e dezenas de integrantes do partido de Machado foram presos ou fugiram do país. O suposto candidato vencedor, Edmundo González, vive exilado em Madri, cada vez mais isolado e com menos chances de voltar a Caracas.

Já María Corina está escondida em algum lugar da capital venezuelana, sem poder sair às ruas. O apagão informativo se aprofundou: jornalistas, blogueiros e até influencers que criticam o regime são perseguidos ou censurados. Nas últimas semanas, economistas e consultores que divulgaram dados reais sobre a economia foram presos.

Enquanto o governo anuncia um crescimento de 9,3% no PIB do primeiro trimestre de 2025, o Observatório Venezuelano de Finanças aponta retração de 2,7% no mesmo período. O FMI prevê queda de 4% no ano. A inflação, descontrolada, corrói salários e intensifica o descontentamento popular. Em resposta, o regime persegue quem denuncia os números falsos.

Mas o golpe recente mais duro à oposição não veio de Caracas, mas sim de Washington. Justamente quando esperavam mais pressão de Donald Trump, o ex-presidente dos EUA reverteu sua própria política e voltou a autorizar a Chevron a operar e exportar petróleo venezuelano. Em fevereiro, Trump havia atacado duramente a licença concedida por Biden, chamando-a de "concessão vergonhosa a Maduro".

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Agora, por razões pragmáticas, autoriza a mesma operação, temendo perder espaço para a China e a Rússia na América do Sul.

A Chevron operará em parceria com a PDVSA, o que significa entrada direta de recursos no caixa do regime. Trata-se de uma guinada na política de sanções, que, desde a eleição fraudulenta de 2018, vinham sendo justificadas como forma de pressionar por eleições livres. A reviravolta desmonta o argumento de que os EUA seriam parceiros confiáveis na luta por uma Venezuela democrática. A oposição venezuelana, já desarticulada, vê ruir também a ilusão de um apoio internacional consistente.

O episódio revela a natureza crua da atual política externa norte-americana. Os interesses energéticos e estratégicos dos EUA voltam a se impor sobre qualquer discurso de defesa dos direitos humanos. A troca de prisioneiros realizada recentemente entre Caracas e Washington —com dez cidadãos norte-americanos libertados em troca da repatriação de 250 venezuelanos— reforça essa lógica transacional. A ditadura, longe de se isolar, ganha fôlego.

A Venezuela segue sendo tratada como peça geopolítica, não como país soberano. Maduro negocia, manobra e sobrevive. Enquanto isso, o projeto de alternância no poder é enterrado. O regime que já forçou mais de 7 milhões ao exílio e mantém centenas de presos políticos se consolida, diante da indiferença mundial. Um ano depois da farsa eleitoral, resta admitir: desta vez, o mal venceu.

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